Uma pintura intitulada Moonlit Night, de Ivan Aivazovsky, foi vendida na Casa de Leilões de Moscou, na Rússia, por cerca de US$ 1 milhão em 18 de fevereiro. A venda é controversa, com alguns alegando que a tela foi roubada do Museu de Conhecimento Local de Mariupol, um museu de história regional na Ucrânia.

O leilão veio à tona pela primeira vez quando Gyunduz Mamedov, ex-procurador-geral adjunto da Ucrânia, postou sobre o assunto no X (antigo Twitter). O assunto foi amplamente divulgado na imprensa ucraniana, inclusive no Kyiv Independent e no Ukrainska Pravda, e a agência de notícias russa Tass confirmou a venda em 19 de fevereiro. A pintura foi vendida por um pouco menos do que o preço pedido: 92 milhões de rublos (995 mil dólares) contra uma estimativa de 100 milhões (US$ 108 milhões).

A pintura foi transferida para o Museu de Artes de Simferopol, na Crimeia, em 2014, entre um grupo de outras obras de arte que violam o direito internacional, segundo Mamedov, que observou que a Interpol colocou as pinturas numa lista internacional de procurados.

“Esta obra de arte foi documentada publicamente como roubada de um museu na Ucrânia, para onde deveria ser devolvida”, disse Lydia Zaininger, diretora executiva do Instituto Ucraniano da América. “Colocá-lo em leilão público é uma afronta às regras de ordem internacionais, uma violação flagrante das leis da UNESCO que protegem a arte roubada e mais uma prova clara da campanha genocida da Rússia para destruir o patrimônio cultural da Ucrânia”.

A Rússia tem se envolvido na pilhagem em massa de arte e artefatos ucranianos desde que invadiu o país há dois anos. “Especialistas em arte internacionais dizem que a pilhagem pode ser o maior roubo de arte coletiva desde que os nazistas saquearam a Europa na Segunda Guerra Mundial”, noticiou o New York Times em 2023.

Aivazovsky nasceu em 1817 na cidade portuária de Fedosia, no Mar Negro, na Crimeia. O território estrategicamente importante mudou de mãos entre várias potências muitas vezes ao longo dos anos e está sob ocupação russa desde 2014. Aivazovsky é conhecido pelas suas pinturas marinhas, que recentemente foram expostas permanentemente na Galeria Nacional da Arménia.

De acordo com o Pravda , o Museu de Arte de Simferopol e o Museu de Conhecimento Local de Mariupol concordaram em 2014 que 52 pinturas do Fundo do Museu Ucraniano iriam da Crimeia para Mariupol para uma exposição. Em março de 2014, o Museu de Simferopol exigiu o retorno antecipado das obras à Crimeia, que desde então estava sob ocupação russa. Um funcionário do Museu de Arte Kuindzhi de Mariupol posteriormente entregou as pinturas ao museu da Crimeia.

Em agosto de 2017, a Radio Liberty informou, citando a mídia russa, que um grupo de militares aposentados da Crimeia roubou as pinturas do Museu Mariupol e as transportou para a Crimeia e a promotoria ucraniana na Crimeia anunciou que 50 pinturas foram adicionadas ao banco de dados da Interpol de pinturas roubadas. Os funcionários envolvidos na entrega das obras enfrentaram penas de prisão, segundo o Pravda, mas foram anistiados.

A Casa de Leilões de Moscou rejeitou as alegações de que a pintura foi roubada, segundo a Tass, dizendo que Aivazovsky produziu muitas pinturas semelhantes e que esta é uma tela diferente. Ambos são intitulados Moonlit Night, mas a casa afirma que a pintura que vendeu data de 1878, retrata Constantinopla, e foi adquirida na Suécia no Stockholms Auktionsverk em 2008, enquanto a outra data de 1882, retrata a costa do Mar Negro perto de Feodosiya, e permanece no Museu de Artes de Simferopol.

“Não há evidências que apoiem as estranhas afirmações feitas por este lado”, disse o cofundador da Casa de Leilões de Moscou, Sergey Podstanitsky, à Tass.

De acordo com o Artnet Price Database, o recorde de leilão de Aivazovsky é de £ 2,7 milhões (US$ 5,3 milhões na época), estabelecido na Christie’s Londres em 2007 pela pintura American Shipping off the Rock of Gibraltar (1873). O preço mais que quadruplicou a alta estimativa da obra de £ 600.000 (cerca de US$ 787.000).