Manoel Novello chega a Galeria do Lago, no Museu da República, com a exposição “Nesse mundo redondo, preso pela força da gravidade”, com curadoria de Isabel Portella.
A intenção do artista é colocar luz na questão humana de viver num mundo material, em terceira dimensão, com suas barreiras e limitações inerentes, tendo ao mesmo tempo, a capacidade e poder de raciocínio em imaginar, sentir e reagir a um mundo infinito, que se vislumbra através da imensidão do universo.
Tudo isso na linguagem da pintura que ele desenvolve ao longo dos anos de sua trajetória.
Leia abaixo o texto da curadoria:
NESSE MUNDO REDONDO PRESO PELA FORÇA DA GRAVIDADE
Não se preocupe em entender,
Viver ultrapassa qualquer entendimento.
Clarice Lispector
Manoel Novello amplia seu olhar sempre interessado nas múltiplas informações que o cercam. Construir imagens a partir de observações feitas como participante ativo do ambiente é a intenção primeira. O Palácio do Catete, seu espaço atual de pesquisa e investigação, mostrou-se surpreendente pela diversidade de estilos e referências culturais contidas nos muitos ambientes. O artista, que procurava inspiração no mundo material, encontrou muito mais do que poderia imaginar. O equilíbrio visual, tão necessário para comunicar um pensamento, exige observação atenta, busca eternamente direcionada às formas mais delicadas, menos visíveis. No Palácio, ao olhar para o alto, encontrou a representação do zodíaco que é ao mesmo tempo a soma dos símbolos cósmicos, fisiológicos e psicológicos. Representa um ciclo completo por excelência e cada um de seus signos expressa uma fase evolutiva. Foi na beleza das formas e cores encontradas que surgiu a inspiração para uma obra que expressasse a questão humana de viver num mundo material, imperfeito e injusto, mas que ao mesmo tempo tivesse a capacidade de sentir e reagir a um espaço infinito, abstrato e utópico. Uma obra que dialogasse com o espectador sobre a aceitação da fragilidade humana e o encontro com o que está além da força da gravidade inerente ao planeta em que vivemos, num local de luz onde o azul predomina, restaura e promove a criação.
A Escada, um conjunto de 7 pinturas posicionadas verticalmente, conduz o olhar para o alto, partindo do Planeta Terra em direção ao infinito. Os diferentes aspectos do simbolismo da escada estão todos ligados às relações entre o Céu e a Terra. Segundo as palavras de Gaston Bachelard, filósofo francês, todo progresso é concebido como uma subida, e a verticalidade seria a linha do qualificativo e da elevação. Céu e Terra, fazendo parte do mesmo Universo, possibilitam a ascensão do imperfeito ao sublime. O ser humano, na Terra, olha para o alto e almeja algo maior, transcendental.
Em outro conjunto de 4 pinturas, o artista faz referência aos 4 elementos da natureza: terra, fogo, água e ar. E convida os espectadores a uma pausa para que o olhar se perca no céu e nas estrelas. Se a gravidade mantém os bancos firmes no solo, o pensamento e a criatividade correm soltos para o infinito.
Para falar de questões que transitam pela imensidão do universo, Manoel usou a linguagem delicada das linhas, que perpassa toda sua obra. Linhas que correm paralelas e que só se encontrarão no infinito. Na poesia de Caio Fernando Abreu, o infinito não acaba. O infinito é nunca. Ou sempre. Linhas que se cruzam, remetendo ao mundo das limitações e barreiras, das encruzilhadas, das divisórias. Usou as cores do céu, da noite e das estrelas. Mas também nos oferece as cores da terra, os vermelhos do fogo, os suaves azuis da água e do ar.
Manoel Novello, com a expressividade de suas obras, vence a força da gravidade e nos transporta para um lugar de onde é possível acreditar na perfeição, entender o sublime, participar de uma vida ideal.
Isabel Portella