Uma escultura de Abraham Lincoln de quase dois metros de altura chamou atenção nos Estados Unidos. Apresentando 10 pavios de velas que os visitantes são incentivados a acender antes de apagá-los após um ou dois minutos, a escultura de cera intitulada “40 ACRES: Camp Barker” (2024) foi instalada em 15 de fevereiro fora da Garrison Elementary School em Washington, DC, que está situada no local de Camp Barker, um campo de contrabando da Guerra Civil onde ex-escravos que se libertaram estabeleceram uma comunidade.
Construída pela artista de Richmond Sandy Williams IV, que também trabalha como professora assistente de arte na Universidade de Richmond, a representação do 16º presidente é uma réplica de cera de 3.000 libras do Lincoln Memorial criada usando uma digitalização tridimensional do monumento. Encomendada e apresentada pela organização sem fins lucrativos CulturalDC, a escultura faz parte de uma série contínua de monumentos de cera que Williams produz desde 2017. Também pertence ao Arquivo 40 ACRES, uma coleção em expansão de obras de arte, eventos, performances, filmes e instalações, com foco na história negra americana que a artista estabeleceu em 2021.
“A localização de ‘40 ACRES: Camp Barker‘ foi escolhida porque fica no topo de uma comunidade de libertos da era da Guerra Civil, pela qual Lincoln costumava passar e visitar em seu trajeto entre a Casa Branca e [sua] casa de campo”, disse Williams ao Hyperallergic, acrescentando que o trabalho pretendia “ampliar a consciência” sobre as histórias das comunidades negras autoemancipadas durante a Guerra Civil e a Era da Reconstrução “como uma forma de compreender e contextualizar as nossas condições contemporâneas”.
Embora Williams tenha explicado que a escultura sempre foi pensada para ser “impermanente”, as temperaturas extremas das últimas semanas fizeram com que a efígie de cera derretesse mais rapidamente do que o esperado, resultando em algumas transformações bem humoradas — incluindo uma decapitação não intencional e o corte das pernas de Lincoln — que chamaram a atenção dos usuários nas redes sociais.
O CulturalDC anunciou que os funcionários removeram completamente a cabeça do presidente para evitar maiores danos.
Williams observou que embora o derretimento seja uma parte fundamental da série escultórica, eles “não esperavam que esta versão da obra de arte derretesse desta forma”, atribuindo totalmente a liquefação repentina às ondas de calor.
“Tenho usado este tipo de cera para esculturas públicas desde 2020, mas esta é a primeira vez que o calor ambiente tem um efeito tão visível na sua integridade”, disse Williams, acrescentando que os visitantes podem extrapolar outros significados do derretimento em curso.
“[O derretimento atual] não apenas faz referência às maneiras pelas quais nossas histórias de deslocamento constante, genocídio, desigualdade, falhas na reparação e resistência maciça aos programas de bem-estar social moldam nosso clima político e social atual, mas essas falhas também levaram aos atuais desastres climáticos que afetam todos nós, incluindo a escultura de Lincoln”, observou Williams.
Um representante da CulturalDC disse que, após consulta ao diretor da escola e aos membros da comunidade local, a instalação será removida antes do retorno dos alunos para o semestre de outono, em 26 de agosto.
“Este cronograma é apenas um pouco anterior à nossa data original de remoção, 1º de setembro”, disse o representante, acrescentando que colecionadores e galerias particulares fizeram ofertas para comprar a obra, embora nenhuma decisão definitiva tenha sido tomada ainda.
“Pessoalmente, acho que é uma ótima plataforma para esse trabalho gerar conversas, não apenas sobre o significado histórico do local e de Lincoln, mas sobre o que está acontecendo no mundo em relação às mudanças climáticas”, disse Kristi Maiselman, curadora e diretora executiva do CulturalDC.
