Um busto de bronze do imperador romano Calígula foi encontrado 200 anos depois de seu desaparecimento — e 2.000 anos desde que foi fundido. Ele foi presenteado em meados do século XVIII a Horace Walpole, o escritor, esteta e político Whig, que projetou sua própria casa gótica, Strawberry Hill, em Twickenham, sudoeste de Londres.
Após sua morte em 1797, o busto de 13 cm de altura teve vários donos, e chegou a ser pensado, no século XIX, como sendo de Alexandre, o Grande, e não de Calígula. Agora, após 10 anos de trabalho de detetive, a Dra. Silvia Davoli, curadora da Strawberry Hill, redescobriu o busto e o confirmou pelos maiores especialistas como sendo de Calígula. O avanço veio quando Davoli combinou um desenho, que Walpole havia encomendado na década de 1780 do busto, com um bronze armazenado na coleção particular de arte e antiguidades da empresa de investimentos Schroders. “Eles não tinham ideia de que era Calígula”, diz Davoli. “Fiquei muito feliz quando finalmente vi o bronze e fiz a ligação.”
Calígula se tornou o terceiro imperador romano em 37 d.C., aos 24 anos. Ele era amplamente considerado um perdulário e um desviante sexual; havia rumores de relacionamentos incestuosos com duas de suas irmãs mais velhas. Calígula amava tanto seu cavalo Incitatus que o mantinha em um estábulo de mármore e considerou torná-lo um cônsul. No final, Calígula foi assassinado por sua própria Guarda Pretoriana após apenas quatro anos como imperador.
No entanto, vários bustos minúsculos de bronze dele foram feitos durante seu reinado, que podiam ser carregados e usados para adoração. Acredita-se que apenas um punhado deles ainda exista, incluindo dois no Metropolitan Museum of Art de Nova York e outro casal em mãos privadas.
Walpole teria ficado emocionado ao receber o busto de Horace Mann, o embaixador britânico na Itália. Mann afirmou que ele havia sido resgatado das ruínas de Herculano após a erupção do Vesúvio. “Eu tinha encontrado algumas cartas sobre o presente em nosso arquivo de Strawberry Hill entre Walpole, Mann e o Duque de Elbeuf, que fez a escavação de Herculano em meados do século XVIII”, diz Davoli. “Esse foi meu ponto de partida.”
Sua busca então a levou à coleção Lewis Walpole na Universidade de Yale. “Lá, me deparei com o esboço que Horace Walpole havia encomendado ao famoso artista John Carter para desenhar seu bronze.”
Mas ela não tinha ideia de onde o busto em si estava. Depois de mais escavações, Davoli descobriu que, após a morte de Walpole, ele havia sido passado por sua família antes de ser comprado por vários colecionadores e, então, na década de 1890, por Sir John Henry Schroder. Mas não havia nenhuma fatura como prova de compra ou detalhes de procedência. Na verdade, os Schroders há muito presumiram que era um busto do século XV de um jovem desconhecido.
No final do ano passado, Davoli estava examinando o inventário da Coleção Schroder para uma exposição em Strawberry Hill sobre caça ao tesouro. “Por acaso, vi esta página com o que parecia ser o bronze de Walpole. Uau!” O busto foi levado a Rupert Harris, o especialista em conservação de metais de Londres, que disse que a composição de bronze correspondia a objetos de 2.000 anos.
Nas últimas duas semanas, o Dr. Dietrich Boschung, especialista em iconografia imperial romana, viu fotos do busto. “Estou convencido de que é Calígula”, diz Boschung, do Instituto de Arqueologia da Universidade de Colônia. Ele aponta para a prata inserida nos olhos do busto – uma prática comum para imperadores. Boschung também acredita que a conexão com Herculano é muito plausível. “Naquela época, muitos bronzes romanos foram encontrados lá.”
Calígula pode ter sido vilipendiado em vida, mas ele tem sido uma fonte de intriga e inspiração para escritores, cineastas (retratados na tela por John Hurt no drama da BBC I, Claudius e por Malcolm McDowell no filme de 1979, Calígula) e compositores. Agora, ele será o centro das atenções na exposição The Art of Treasure Hunting, que será inaugurada na Strawberry Hill House em 28 de junho. Pequeno, perfeitamente formado e, finalmente, em casa novamente.
