Movimento Armorial 50 Anos | Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte (CCBB BH)

Ariano Suassuna, sem título, sem data

O Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte (CCBB BH) abriga a Mostra Movimento Armorial 50 Anos, até o dia 07 de março de 2022. A Mostra consiste numa grandiosa Exposição, Encontros Musicais e Conversas sobre a Arte Armorial que, juntos, conduzirão o público pelo eclético, múltiplo e fantástico universo do Movimento Armorial.

Movimento Armorial 50 Anos surge com um compromisso ousado: reapresentar ao público, sobretudo às novas gerações, a proposta singular e desafiadora de Ariano de criar, há pouco mais de cinco décadas, uma arte erudita a partir das mais autênticas e tradicionais manifestações artístico-culturais populares do Nordeste e de outras regiões do país.

Lançado no Recife, em 18 de outubro de 1970, por um grupo de artistas, o Movimento Armorial teve como mentor e líder o dramaturgo, professor, pintor, músico e consagrado escritor, paraibano de nascimento e pernambucano por adoção, Ariano Suassuna (1927-2014).

O projeto é da produtora Regina Rosa de Godoy, diretora da empresa R. Godoy Marketing e Cultura. O conceito da exposição foi traçado pela premiada curadora Denise Mattar, que fez um minucioso trabalho de pesquisa e garimpagem no vastíssimo acervo do Movimento para rememorar – com delicadeza, encanto e graça – a riqueza dos saberes e fazeres culturais impregnados na arte Armorial. A expografia e arquitetura ficaram sob a responsabilidade do designer Guilherme Isnard. A consultoria geral é do artista plástico Manuel Dantas Suassuna (filho de Ariano Suassuna) e do poeta, ficcionista, ensaísta e professor da Universidade Federal de Pernambuco, Carlos Newton Júnior, profundo conhecedor do Movimento Armorial e da obra de Ariano. Já a identidade visual é assinada por Ricardo Gouveia de Melo.

Do preto e branco das xilogravuras, passando pelo multicolorido dos ornamentos e fantasias das festas populares e pelas coreografias das danças. Pelos ritmos dos cantos e da música, de sons de rabeca, pífano e viola. Pela sonoridade dos versos dos cordéis e dos cantadores. Todos os caminhos conduzem a uma experiência única. Uma trilha cultural sem fronteiras, como a ideia plantada, lá atrás, por Ariano e que, agora, chega revigorada, pouco mais de 50 anos depois, à exposição.

Armorial 50 foi concebida para marcar o cinquentenário do Movimento Armorial, comemorado em outubro de 2020, mas teve seu lançamento postergado devido à pandemia de Covid-19. Pela significância e representatividade do universo criado por artistas como Ariano Suassuna, Francisco Brennand, Antônio Carlos Nóbrega, Gilvan Samico e Aluísio Braga, entre outros, o projeto se manteve vivo e será inaugurado neste ano, em Belo Horizonte, devendo seguir para outras capitais brasileiras durante o ano de 2022.

SOBRE A EXPOSIÇÃO

Gilvan Samico, O Senhor do Dia, 1986

A exposição está organizada em quatro núcleos, distribuídos nas salas do terceiro andar do CCBB da capital mineira. Em cada um deles foi definido um tratamento expográfico exclusivo que traz à tona a diversidade, as tradições e as mais representativas raízes da cultura popular nordestina. Tal qual idealizado por Ariano Suassuna. E, conforme explicitado pela produtora Regina Rosa de Godoy, de forma mágica, lúdica, plena de humor. Um humor que faz pensar”.

O texto de apresentação, assinado por Denise Mattar, é o primeiro passo da imersão do visitante no fascinante universo da arte Armorial. Na sequência, chega-se ao primeiro núcleo, intitulado Ariano Suassuna, Vida e Obra. A exposição trará cronologia, livros, manuscritos e vídeos de suas famosas aulas-espetáculos. Um mergulho cultural, enfim, no fértil e amplo imaginário criativo do mestre. Nesta etapa, também ganha destaque o alfabeto sertanejo, criado por Ariano com base na pesquisa Ferros do Cariri, uma Heráldica Sertaneja.

No próximo núcleo, denominado Armorial Fase Experimental, o visitante entrará em mais um ambiente repleto de cultura e tradições. Agora navegando pela música, dança e artes plásticas. A exposição resgata, neste momento, por exemplo, o trabalho da Orquestra e do Quinteto Armorial, grupo que surgiu com o Movimento, em 1970, e atuou até 1980, com a exitosa intenção de criar uma música de câmara erudita com influência popular.

O premiado Quinteto Armorial reuniu como integrantes figuras consagradas da música, como o maestro, violinista e compositor Antônio José Madureira e o multiartista Antônio Carlos Nóbrega. O grupo gravou quatro LPs, discografia que a exposição revisita com capas de discos, além de fotos e instrumentos musicais, para aproximar, melodicamente, o público do universo armorial.

Neste mesmo espaço abrem-se também as cortinas para o Teatro Armorial, com figurinos assinados pelo ceramista e artista plástico pernambucano Francisco Brennand (1927-2019) para o filme A Compadecida (1969). A produção foi baseada na consagrada peça Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, que assinou o roteiro do filme e ganhou um remake em 2000, o que ajudou a massificar a obra de Ariano Suassuna em todo o Brasil.

Na dança, toda a beleza e graciosidade do Balé Armorial do Nordeste, retratado em galeria de fotos. O visitante passa, a partir daí, a entrar mais intensamente no universo das artes plásticas do Armorial, por meio das obras dos artistas Aluísio Braga, Fernando Lopes da Paz, Miguel dos Santos e Lourdes Magalhães. Haverá, também, a Sala Especial Samico, um merecido destaque que dialoga, de acordo com os organizadores da mostra, com a coerência e permanência do trabalho do artista Gilvan Samico (1928-2013), conhecido por suas xilogravuras, alinhado, até 2013, aos princípios do Armorial.

Miguel dos Santos, São Jorge e o Dragão, 1972

MARACATUS, REISADOS, ILUMIARAS, XILOGRAVURAS E CORDÉIS

No seu terceiro núcleo, a exposição apresenta a Segunda Fase do Movimento Armorial trazendo à cena as iluminogravuras de Ariano Suassuna, nas quais o escritor interage com o artista plástico. O autor produziu dois álbuns, cada um contendo dez pranchas: Sonetos com Mote Alheio (1980) e Sonetos de Albano Cervonegro (1985) que juntos formam uma autobiografia poética. Também são apresentadas nesse módulo as gravuras e cerâmicas de Zélia Suassuna, painéis fotográficos das Ilumiaras Acauhan, Jaúna, Zumbi, Suassuna e Pedra do Reino. Complementa esse módulo o conjunto Armorial Hoje e Sempre, com obras de artistas como Manuel Dantas Suassuna e Romero de Andrade Lima. A dança mais uma vez é retratada com fotos, figurinos e projeções, através do Balé Grial, criado por Ariano e pela bailarina e coreógrafa Maria Paula Costa Rêgo. Assim como produções de Cinema e TV, realizadas a partir das peças teatrais de Suassuna, como Farsa da Boa Preguiça, A Pedra do Reino, O Auto da Compadecida, Lunário Perpétuo.

No quarto módulo da mostra: Armorial – Referências, o visitante poderá contemplar a beleza das xilogravuras, assinadas, entre outros, pelos Mestres J.Borges, Noza e Dila, e também a Cidade de Cordel, criada especialmente para a exposição por Pablo Borges, filho de J.Borges. Trata-se de um espaço instagramável que vai permitir uma lúdica viagem pela cultura popular, com seus causos e singularidades. Finalizando a exposição há referências a folguedos populares, como o Maracatu, o Reisado e o Cavalo-Marinho, reunindo máscaras, trajes, estandartes e adereços.

EVENTOS COMPLEMENTARES

No período de 12 de janeiro de 2022 a 25 de fevereiro de 2022, o público da Mostra Movimento Armorial 50 Anos terá um contato ainda mais profundo com este Movimento. Período em que Espetáculos Musicais e Conversas sobre a Arte Armorial entram na programação.

O curador musical é o reverenciado artista Antônio Madureira, um importante representante do Movimento desde o seu surgimento, tendo sido convidado por Ariano Suassuna para produzir os arranjos e conduzir a Orquestra Armorial. Faz, até hoje, a conexão da música Armorial pelo Brasil. Madureira leva ao público da Mostra músicos instrumentais de altíssima qualidade, nos Encontros Musicais. Da Paraíba, teremos o premiadíssimo Quinteto da Paraíba e o Trio Lancinante, com participação especial da cantora Letícia Torança. De Curitiba, o Grupo Rosa Armorial. Pernambuco, em conexão com São Paulo, marca presença com Antônio Nóbrega e o Rio de Janeiro com o duo Ana Oliveira e Sérgio Ferraz.

Para explorar a versatilidade do Movimento Armorial e a interlocução com as várias linguagens artísticas, o curador convidado é Carlos Newton Júnior, um dos consultores da exposição e referência sobre a obra de Ariano Suassuna. “Conversas sobre a Arte Armorial” será um ciclo de encontros teóricos/temáticos que abordará a criação Armorial nos diversos gêneros: Literatura, Teatro, Música, Dança e Artes Visuais. Imperdível!

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