Nesta mostra intitulada Enigma da Fuga, a artista apresenta uma coleção de desenhos e objetos inéditos, criada e executada durante o confinamento da Pandemia do Covid-19. A introspecção e o distanciamento conduziram o pensamento que se ancorou em seres, formas, enigmas e magia resultando em obras que traduzem e expressam o íntimo da artista diante do incerto.
06 Desenhos nanquim e grafite s/ papel Hanne müller
16 Objetos em vidro, pedra litografia, carvão e ouro
08 Livros, ouro e litografia e Hot Stamping sobre papel Kozo
08 objetos Collé, nanquim, grafite e ouro sobre pedra litográfica
Sobretudo, Thais (TEXTO de JOÃO BATISTA MAGRO FILHO)
Subitamente ela se aproximou e nos convidou a acompanhá-la! De mãos dadas iniciamos a trajetória pela Curva de Allen, em ascensão, e logo estávamos no segundo andar da propriedade.
“O que acham disso?” – perguntou celeremente. .
Sobre uma enorme mesa, algumas enormes folhas de papel que aqui intitulo “cartas,” pois intuí terem sido compostas sob muitas emoções e destinadas ao espírito de cada um. Tornaram-se objetos artísticos, e fomos nos encantando com uma de cada vez…
-“Isso foi o que consegui realizar durante a Pandemia Covid19, assustada, recolhida, sem saber o quê e como criar…” disse ela!
O impacto dos objetos de ouro e cinzas, a mistura do crayon sobre as cartas brancas, a intensidade daquelas obras, tudo aquilo estabelecia um profundo corte na atmosfera daquele lugar. Ali nascia Algo e estremeci quando ao iniciar o percurso pelas poucas cores, pelas formas, pelas ousadias e curvas, senti a estranha aproximação de seres há muito conhecidos. Não eram Um e sim uma Legião que ali se debruçavam não sobre Cartas mas sim, claro, sobre Escrituras!
Borges e seus Labirintos, Rosa e seus Redemoinhos, Moebius e sua não orientável forma, Escher e suas Isometrias foram se contorcendo naquelas formas. Mergulhavam e retornavam à superfície, vinham em torno da mesa. Quando esbarramos reciprocamente na admiração comum daqueles objetos, daquelas cartas. Alguns instantes passados eis que uma palavra se pronuncia mais ao fundo por um Outro também ali presente.
“O enigma da Fuga”, dizia ele… “a repetição modificada do tema inicial” , lembre de Bach e sua Fuga em Ré Menor ou escute a minha “So you want to write a Fugue”. Enquanto Gould se dissolvia por entre os objetos percebo em cada carta naquela mesa, exatamente isso: um impulso convertido em tema principal, uma coragem e uma técnica apurada de modo a construir uma sutil variação nas tonalidades.
Certamente o medo, as dificuldades, as neblinas e a gratidão daqueles difíceis dias da Pandemia ali quedavam impressas. Traziam recados contorcidos. Revelavam quão difícil é aos sonhos se revelarem pelo meio dos muros da consciência essa incômoda presença.
Qual é a sua Linha?
Qual a sua Influência?
Qual é a Sua? – perguntávamo-nos uns aos outros, sem sabermos o quê dizer. Anatomias dificilmente dissecadas transformadas em palavras ou em interpretações por qualquer um de nós. A ser feito, um exercício de Admiração!
Ela tocou nossos braços, puxou-nos delicadamente e retornamos ao presente, ao térreo, à aglomeração humana.