Uma pintura excepcionalmente rara em painel dourado do mestre italiano medieval Cimabue ganhou as manchetes em 2019 depois de ser descoberta pendurada acima de um fogão na cozinha de uma idosa francesa. Oferecido por uma casa de leilões ao norte de Paris em outubro daquele ano, o tesouro desencadeou uma guerra de lances, superando sua estimativa de venda e sendo adquirida por impressionantes US$ 26,8 milhões com taxas.
A obra foi adquirida por um comprador estrangeiro, que se acredita ser a coleção Alana de “primitivos” italianos em Delaware, que é propriedade privada de Álvaro Saieh e Ana Guzmán, segundo o The Art Newspaper. Pouco depois, o ministério da cultura francês declarou The Mocking of Christ (A zombaria de Cristo) (c. 1280) um “tesouro nacional” e implementou uma proibição de exportação que a impediu de deixar o país durante 30 meses. Isto deu tempo suficiente para o Louvre, em Paris, arrecadar os 24 milhões de euros necessários para se igualar à oferta vencedora e adquirir a obra.
Em comunicado, o diretor do Louvre, Laurence des Cars, disse que a obra “constitui um marco crucial na história da arte”. Ele confirmou que em breve ficará pendurada ao lado da Maestà, uma pintura em têmpera maior de Cimabue que também data de cerca de 1280 e está atualmente sendo restaurada. Esta peça está no acervo do museu desde 1813, tendo sido saqueada da Itália durante a era napoleônica.
Notavelmente, o precioso painel de 700 anos que foi descoberto pendurado acima do fogão na cozinha de uma idosa francesa é uma peça que faltava num retábulo que representa oito cenas da Paixão de Cristo. Pôde ser facilmente autenticado, porque tinha dimensões, estilo e cores exatamente corretas, e o painel de madeira provinha da mesma tábua de choupo do resto do retábulo. O painel ainda tinha buracos de insetos correspondentes. A venda tornou a francesa milionária, mas ela morreu apenas dois dias depois e seus bens foram divididos entre três herdeiros.
O Louvre também anunciou que adquiriu recentemente Marine Terrace (1855), um desenho do escritor e político romântico francês do século XIX, Victor Hugo. Em nota, o presidente da Sociedade dos Amigos do Louvre, Louis-Antoine Prat, disse que a obra se juntará a mais oito desenhos já integrantes do acervo do museu. “Esta obra incomparável testemunha o romance mais longo do século, aquele entre Victor Hugo e Juliette Drouet, já que as iniciais dos dois amantes se entrelaçam enquanto brilham no céu”, acrescentou, referindo-se ao longo caso de Hugo com a atriz francesa.
Tanto The Mocking of Christ quanto Marine Terrace foram adquiridos graças ao grupo de mecenas do museu, com apoio especial do incorporador imobiliário e filantropo americano Harry Fath e sua esposa, Linda, bem como com receitas provenientes da licença da marca para o Louvre Abu Dhabi. As pinturas serão apresentadas ao público em uma exposição-evento especial prevista para o início de 2025.