Eleonore Koch | Museu de Arte do Rio – MAR

ELEONORE KOCH, Sem título, 1973 | FOTO: Divulgação

A exposição “Eleonore Koch: espaço aberto” apresenta pela primeira vez ao público carioca um conjunto de quase 150 obras da artista alemã de origem judaica. A mostra no MAR acompanha a trajetória de Eleonore por suas diferentes paisagens, interiores e exteriores, reais e imaginárias, e rende tributo ao Rio de Janeiro, cidade em que ela passou quase uma década e onde amadureceu o seu estilo artístico e suas temáticas.

Eleonore Koch (Berlim, 1926 – São Paulo, 2018) chegou aos 10 anos no Brasil com a família, fugindo do nazismo. No Brasil, desenvolveu parte de sua produção artística, sendo a única discípula do pintor Alfredo Volpi (Lucca, Itália 1896 – São Paulo, São Paulo, 1988). Lore, como também foi conhecida, produziu uma obra singular entre São Paulo, Rio de Janeiro e Londres, cidades onde viveu ao longo de sua vida, e deixou um legado expressivo ao país que primeiro a acolheu. A mostra chega ao Museu de Arte do Rio no dia 12 de março e segue até 1º de maio.

“Na capital carioca, Eleonore Koch ganha características próprias, independentes de seu mestre Volpi, no que diz respeito aos seus temas e às suas estratégias artísticas. É também no Rio que Eleonore passa a trabalhar com a temática da paisagem, até então não muito explorada por ela”, diz a curadora Fernanda Pitta, historiadora de arte e curadora sênior da Pinacoteca do Estado de São Paulo.

Artista ímpar, metódica e irreverente, perfeccionista e temperamental, mas sobretudo consciente de si e de sua prática, Eleonore Koch desenvolveu uma vasta produção ao longo de seus 93 anos. Menos de quatro anos após sua morte, suas obras começam a se tornar amplamente reconhecidas.

A mostra no MAR, primeira retrospectiva da artista em solo carioca, traz cerca de 150 obras de diversas coleções, muitas das quais haviam sido guardadas pela artista até a sua morte e que foram a público através do leilão de suas obras, por desejo expresso da artista em seu testamento. São pinturas em têmpera – técnica que a pintora aprende com Volpi – desenhos em pastel, carvão e guache, muitos deles minuciosas anotações de composição que serviam à artista para experimentar variações de cor e forma até as pinturas finais – um precioso conjunto que permite entender os processos estéticos, formais e afetivos da produção da artista.

A seleção é completada por documentos, fotos e objetos que propõem entradas ao universo da artista. Ela desenvolveu sua prática em intensa interlocução com intelectuais modernos como Paulo Emílio Salles Gomes e Lourival Gomes Machado, e sobretudo o psicanalista e crítico Theon Spanudis, um de seus maiores apoiadores ao longo de sua carreira.

Organizada por núcleos – Rio de Janeiro, Paisagem, Interiores e Natureza-Morta – a exposição permite aos visitantes experimentar o processo criativo da artista, as transformações de sua poética, bem como sua arguta sensibilidade para a cor, a composição, mas também sua consciência em relação ao potencial afetivo de sua obra. Sentimentos de expansão, confinamento, melancolia, solidão, graça, peso, leveza, são constantemente mobilizados por Eleonore para estabelecer uma relação com seu público – o espaço aberto ao qual o título da mostra faz alusão, refere-se à maneira singular dela conceber a relação estética e a pluralidade de sentidos das obras de arte e sua relação com o próprio artista e o público – conforme suas palavras “mesmo trabalhos que são resultado de alguma intenção consciente não deveriam prescindir de manter um espaço aberto entre eles e um todo”.

Com curadoria de Fernanda Pitta em colaboração com os curadores do MAR, Marcelo Campos e Amanda Bonan, a exposição é uma iniciativa da Casa Stefan Zweig para preservar a memória e o legado dos exilados da Segunda Guerra Mundial no Brasil, em parceria com a Almeida & Dale Galeria de Arte, de São Paulo. O cineasta Jorge Bodanzky cedeu o teaser do documentário que está realizando sobre Eleonore Koch.

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