Imagens que não se conformam | Museu de Arte do Rio

Gê Viana, Segunda camada Little Big Man Oglala Sioux, da Série Paridade, 2018 | Colecão da artista

O Museu de Arte do Rio e o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro apresentam a partir do dia 29 de maio a exposição “Imagens que não se conformam”. A mostra coletiva, resultado de encontro promovido pelo Instituto Cultural Vale, busca renovar os significados das peças da Coleção IHGB para interrogar, do ponto de vista artístico, as visões sobre a história do Brasil, propondo um diálogo com criações contemporâneas. No dia da abertura, a entrada no museu será gratuita, das 12h às 18h.

Com curadoria de Marcelo Campos, curador-chefe do MAR, e Paulo Knauss, sócio do IHGB, a mostra reúne cerca de 200 itens, entre fotografias, manuscritos, pinturas, lambe-lambes, esculturas e vídeos. Ocupando uma das galerias do 2º andar do Pavilhão de Exposições do museu até outubro deste ano, a coletiva lida com questões prementes, como a reparação histórica associada, aqui, aos discursos identitários e ao protagonismo de artistas descendentes dos povos originários, afrodescendentes e de gêneros dissidentes, ausentes das imagens da história.

Fundado em 1838 na cidade do Rio de Janeiro, o IHGB reúne desde então estudiosos da história, da geografia e das ciências sociais dedicados a pensar a sociedade brasileira. A missão institucional se consolidou em torno do objetivo de coligir documentos da história do Brasil, formando uma das mais importantes brasilianas conhecidas entre nós. O instituto fez parte do conjunto das instituições que participaram do processo de consolidação do Império do Brasil e tinha como patrono o imperador dom Pedro II. Seu perfil se renovou em tempos republicanos e de democracia, aprofundando sua dedicação ao patrimônio cultural.

Entre os destaques da curadoria está o crânio do homem de Lagoa Santa, uma das raridades da Coleção IHGB. Descoberto por meio de pesquisas paleontológicas realizadas entre 1801 e 1890 pelo dinamarquês Peter Wilhelm Lund nas grutas da região mineira de Lagoa Santa, o crânio é um símbolo da história da ciência no Brasil do século XIX. Diante dele, não há como escapar do debate sobre a origem do país e a ideia comum de que a evolução distancia o passado do presente.

Karl F. P. von Martius, Historia naturalis palmarum, 1823 e 1850, Ilustração em livro impresso | Coleção IHGB

“Estão presentes raridades como o Marco de Cananeia, lápide do século XVI que é um dos vestígios mais antigos da colonização portuguesa no Brasil, além de muitas outras peças do século XIX e XX. Há peças que surpreendem, como a pá que dom Pedro II usou para inaugurar a obra da primeira estrada de ferro brasileira e há peças que emocionam, como a famosa Roda dos Expostos usada para receber crianças abandonadas por suas famílias e que evidencia, a partir da história da infância, o drama da construção da sociedade no Brasil”, conta Paulo Knauss.

Se o conhecimento histórico tem o compromisso de reconhecer o que é próprio de cada época, ordenando a distância entre passado, presente e futuro, o olhar de artistas contemporâneos sobre a história explora ressonâncias do passado e latências do tempo a partir da crítica do presente, promovendo abordagens transversais e insurgentes da história. Identifica-se uma ênfase em acontecimentos passados que insistem no presente, processos traumáticos e tragédias que se mantêm inconclusos, assim como sonhos que nunca acabam e que alimentam as expectativas sobre o futuro do Brasil. Nesse sentido, a exposição busca destacar o que há de contemporâneo nas antiguidades e o que há de histórico no contemporâneo.

Além de itens da Coleção IHGB, a exposição também conta com obras contemporâneas criadas por nomes como Berna Reale, Daniel Lannes, Diambe da Silva, Edgar Duviver, Gê Viana, Marcela Cantuária, Moisés Patrício, Paulo Nazareth, Rubem Valentim, Sallisa Rosa, Sofia Borges, Uýra Sodoma, entre outros. “Presentificar o passado e rever os modos e personagens historicamente inscritos é uma tarefa a qual nos dedicamos. Assim, procuramos trabalhar, pelo viés da arte contemporânea, com falas, interpretações e presenças que nos possibilitam o avesso das representações, ampliando-as, para além do exposto”, explica Marcelo Campos.

“Este encontro entre o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e o Museu de Arte do Rio nos conduz a muitos outros encontros possíveis com o passado e com o presente, por meio da história e da arte. Como parceiros de ambas as instituições, celebramos a oportunidade de dar visibilidade e colocar em movimento, no MAR, este acervo único do IHGB”, afirma Luiz Eduardo Osorio, Vice-Presidente Executivo de Relações Institucionais e Comunicação da Vale e Presidente do Painel de Especialistas do Instituto Cultural Vale.

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