Angelo Venosa | Casa Roberto Marinho

Um mergulho na obra de um dos nomes mais importantes da arte contemporânea brasileira é o que espera o visitante de Angelo Venosa, escultor, mostra panorâmica a ser aberta publicamente na Casa Roberto Marinho. Sob a curadoria de Paulo Venancio Filho, a individual ocupará os 1.200m² de área expositiva do instituto cultural no Cosme Velho, Zona Sul do Rio de Janeiro, reunindo 85 trabalhos de um arco temporal que vai do início da década de 1970 às últimas obras realizadas em 2021.

“A mostra homenageia um dos mais relevantes escultores brasileiros, que participou de algumas exposições realizadas pela Casa Roberto Marinho, e reafirma o interesse do instituto pela arte contemporânea”, comenta o diretor Lauro Cavalcanti.

De acordo com o curador, que acompanhou a trajetória artística de Angelo Venosa (São Paulo, 1954 – Rio de Janeiro, 2022) desde os primórdios, a exposição apresenta um amplo panorama de sua produção absolutamente singular. E revela a complexidade de seu pensamento escultórico expresso em obras de grandes dimensões ou de pequeno formato, construídas a partir da diversa gama de materiais que caracteriza seu processo criativo.

“A carreira do Angelo surge quando a pintura volta a tomar proeminência no ambiente artístico brasileiro e vários de seus amigos eram pintores da chamada ‘Geração 80’. O fato é que ele foi o único, senão o mais importante, escultor dessa geração. E teve pouca influência das experiências neoconcretas tridimensionais que privilegiavam o plano e não o volume. Ele se voltou de maneira absolutamente heterodoxa para as características clássicas da escultura; o volume, a massa, o peso. Suas primeiras obras, resultado de uma artesania própria e quase rústica, enfatizavam o volume, a presença física entre uma forma abstrata ou representação de uma entidade orgânica”, analisa Paulo Venancio.

Sem obedecer a uma cronologia linear, o curador selecionou esculturas suspensas, de parede ou de chão. Provenientes de acervos institucionais e de coleções particulares, as peças serpenteiam pelo espaço, emergem horizontalmente ou exploram a verticalidade, incorporando luz e sombra como parte do projeto, e revelando uma inusitada investigação da estrutura e da forma.

“Fiz questão de colocar, lado a lado, trabalhos de diferentes períodos, tamanhos e volumes. Cada sala tem uma unidade que se comunica com o todo. A proposta é apresentar o conjunto com certa liberdade, sem pautá-lo por eixos temáticos, deixando que o espectador encontre suas próprias referências a partir da multiplicidade de significados e inquietações que as obras evocam”,  informa Venancio Filho.

A radicalidade experimental que marca a produção de Venosa manifesta-se em cada trabalho. Em sua poética, materiais recorrentes à prática da escultura tradicional, como o bronze, o mármore, o aço e a madeira, se fundem a ossos, dentes de boi, piche, areia, cera de abelha, bandagem, filamentos de café, galho de árvore, breu, fibra de vidro, gesso, tecido e arame.

Apesar do aspecto eminentemente artesanal de sua obra, o escultor sempre esteve atento às tecnologias digitais e, a partir de um determinado período, incorporou a impressora 3D à sua prática, sem deixar de lado os meios tradicionais. Sobre esta fase, Paulo Venancio Filho escreveu, em 2013, no texto “A metamorfose dos corpos”:

“Ficaram para trás as reminiscências do orgânico… É como se a escultura tivesse abandonado um período, um estágio do vertebrado para o seriado, do orgânico para o sintético. Do ateliê para o laboratório, um salto ‘evolutivo’ acompanha o andamento tecnológico do mundo. O acrílico, o recorte computadorizado do material, o seu ordenamento mecânico, preciso, irretocável, dos produtos em série”.

A panorâmica apresenta os trabalhos negros do início da carreira – estruturados a partir de madeira, tecido e tinta – em diálogo com a produção recente, estabelecendo relações plásticas entre as peças. Um autorretrato em xilogravura, de 1972, é a obra mais antiga em exibição. No térreo, há um espaço dedicado aos desenhos, anotações e esboços do artista que tinha grande fluência no traço. Completa a seleção uma série de retratos em acrílica sobre papel produzida por Luiz Zerbini, grande amigo de Venosa. A mostra contempla, ainda, uma cronologia ampliada organizada por Ileana Pradilla Ceron.

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