A pintora mexicana Frida Kahlo começou a trabalhar em The Wounded Table no final de 1939, na época em que terminou (temporariamente) seu relacionamento com o artista Diego Rivera. Chamada de La Mesa Herida em espanhol, a tela de 2,5 x 1,20m – um tamanho incomumente grande para Kahlo, que, em contraste com os extensos murais de Rivera, preferia trabalhar em um formato menor – retrata a artista sentada em uma mesa com pernas humanas, rodeada por dois filhos (de sua irmã Cristina), um esqueleto de papel machê, uma estatueta pré-colombiana e seu veado de estimação Granizo.
A pintura é normalmente interpretada como uma representação do desespero, da frustração e das traições que Kahlo experimentou durante seu divórcio de Rivera. “Eu simplesmente queria ser livre para continuar com qualquer mulher que me agradasse”, disse ele mais tarde. “Fui simplesmente a vítima depravada dos meus próprios apetites?” Com uma composição que remete a A Última Ceia, de Leonardo da Vinci, a obra foi inaugurada na Exposición Internacional del Surrealismo de 1940, na Cidade do México, ao lado de A Persistência da Memória (1931) de Salvador Dalí e A Traição das Imagens (1929) de René Magritte.
A Mesa Ferida foi exibida em vários museus e galerias antes de Kahlo tomar a decisão, em 1943, de doar o seu trabalho ao governo da União Soviética, numa tentativa de restaurar a sua relação com o Partido Comunista. Kahlo era uma socialista convicta, mas seus laços com Moscovo foram prejudicados como resultado do seu contato com Leon Trotsky, com quem fez amizade depois de o revolucionário exilado ter se estabelecido no México, uma década antes.
A Mesa Ferida, de Frida Kahlo.
Embora a URSS tenha aceitado o seu gesto, as mudanças ideológicas no Partido Comunista acabaram por impedir que o seu trabalho fosse exposto. “É necessário ter em mente que estamos interessados nas obras do movimento realista”, informou um funcionário soviético aos seus colegas baseados no México numa carta de 1948. O estilo surrealista de Kahlo era “alienígena aos princípios da arte realista soviética” e, portanto, “a possibilidade de exibir tais obras de arte na União Soviética está excluída”.
Outra carta informava à Cidade do México que A Mesa Ferida seria enviada ao Museu Estadual de Belas Artes Pushkin para armazenamento. Teria permanecido lá se não fosse por Rivera, que, segundo um artigo das historiadoras de arte Helga Prignitz-Poda e Katarina Lopatkina, convenceu os soviéticos a mostrar a pintura numa exposição de 1955 em Varsóvia, na Polônia.
A mostra, que aconteceu um ano após a morte de Kahlo, aos 47 anos, marcou a última vez que The Wounded Table foi vista em público. Em 2017, uma réplica em preto e branco da obra foi exposta em uma exposição coletiva polonesa na tentativa de localizá-la. Apesar de consultar uma extensa lista de fontes mexicanas, polonesas e russas, Prignitz-Poda e Lopatkina foram incapaz de localizar a tela. “Como sabemos agora que Moscovo não valorizou realmente a dádiva da pintura de Frida Kahlo, e achou que não valia a pena expor e que era demasiado cara para transportar”, concluíram, “é bastante provável que depois de Varsóvia ela nem sequer tenha sido enviada de volta para Moscou, mas permaneceu na Polônia.”
Apesar de seu passado histórico, o destino de The Wounded Table não é único. Das cerca de 300 obras produzidas por Kahlo durante a sua curta vida, mais de metade estão desaparecidas, foram destruídas ou estão nas mãos de particulares que se recusam a emprestá-las para exposições.
