Xico Chaves | Paço Imperial

O Centro Cultural do Patrimônio Paço Imperial apresenta a exposição  Trama/objeto pintura, com obras inéditas de Xico Chaves de diversos períodos, a partir de sua série de trabalhos “Índios Extintos”, de 1989, em alusão a povos e aldeias dizimadas e desaparecidas em nosso processo de colonização. A exposição vai ocupar o Terreirinho do Paço, no térreo. A curadoria é de Ricardo Ventura e do artista, e o texto crítico é de Alberto Saraiva.

 

As obras de “Trama/objeto pintura” abrangem pinturas com pigmentos minerais sobre papéis artesanais e industriais, objetos em madeira, objetos-pinturas em vários materiais. Para o artista, esses trabalhos procuram “relacionar a sobrevivência humana à natureza, à generosidade e diversidade de suas frutas, seres, etnias, animais, árvores, águas, geografias, nomes indígenas, lugares míticos e originais, seres imateriais e mágicos, idiomas, pinturas corporais, expressões imaginárias faciais, fisionomias reais e simbólicas, naturezas mortas e vivas, trançados, abstrações geométricas, abstrações informais e expressões figurativas – quatiara, abará-guassu jepê, kuarup, ybiará, abá-aguassay angëera apyreima, o, ojoyrunamo, nimbo mopoquytã, endyaba, ybyará, yby-yby emytima, ataúba, pyýi-pytuúra, aranairin… cabeças juntas, frutas, tramas, almas infinitas, pendurar, nós, jardim suspenso, madeira, flecha, pedra, vento, ferro, fogo, tempo…”.

 

Em todos esses objetos, pinturas e tramas espaciais predomina a utilização de pigmentos em óxidos de ferro, cobre, grafite, fibras vegetais, pedras brutas de várias regiões do país, cordões de algodão e sisal, sementes, minérios e minerais que produzem luminosidade, texturas, refração, difração e reflexão de luz, resultando em leituras surpreendentes na coloração e sua materialidade e aplicação.

 

A exposição faz uma síntese de séries intercalares de obras nunca mostradas, como pequenas coleções de grupos variados de linguagens concebidas e concluídas em diferentes momentos de pinturas anteriores e simultâneas já expostas.

 

Alberto Saraiva em seu texto crítico escreve que “Xico cria uma mitologia pessoal baseada na sua imersão nas culturas indígenas junto a pajés, caciques e indigenistas conhecidos seus, como o Cacique Raoni, Nunes Pereira e Darcy Ribeiro, Sapaim Kamayurá, Hermenegildo, Rafael Bastos dentre outros. Ele vem do sertão de Minas, onde descobriu com sua mãe Stella e sua avó Maria Augusta (descendentes de Kaiapós e italianos) a matéria dos minérios, o que provocou em sua vida uma impressão cujo corpo é o corpo da terra, do planeta. Seu pai fora trabalhar no Amazonas, de onde enviava objetos indígenas para a família, como arco e flecha, cocares e cerâmicas. Isso foi o suficiente para que Xico, ainda criança, ficasse imbuído de uma visão de mundo formada integralmente por culturas indígenas que ele absorve do lugar ‘mágico’ aonde seu pai habitava naquele momento: para o menino, um plano mitológico no qual via os indígenas como seus irmãos e mais tarde como sua herança identitária”.

 

As obras já mostradas anteriormente – sobre telas, papéis, pet, acetatos, instalações, intervenções, performances, cimento, poliuretano e poliestireno expandidos, objetos e suportes diversos além de outras proposições materiais e imateriais – , em exposições individuais e coletivas, ao longo desta travessia desde os anos 1970 formam a base referencial para esta mostra. “Trama/objeto pintura/Xico Chaves” é ainda uma das possíveis abordagens poéticas do processo criativo e livre-associativo do artista em sua extensa trajetória múltipla e diversificada, onde o tempo se expande entre o espaço da simultaneidade e da atemporalidade. Onde o que é contemporâneo é mesmo agora, atemporal, memória e impermanência.

 

“Trama/objeto pintura/ Xico Chaves” será uma exposição em processo com uma estrutura básica fixa e outra em movimento, com obras e montagem em transição e substituições ao longo do período expositivo. Durante o período da exposição, a partir de dezembro, Xico Chaves irá fazer diálogos, microperformances e intervenções com convidados e o público.

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