Pietrina Checcacci | Galatea

A Galatea (SP) e Danielian Galeria (RJ) promovem duas ações expositivas com novos olhares curatoriais para a produção da artista ítalo-brasileira Pietrina Checcacci (1941, Taranto, Puglia, Itália). Em São Paulo, a mostra Pietrina Checcacci: táticas do corpo abre no dia 4 de junho, na Galatea, apresentando cerca de 40 obras que datam desde a década de 1960 até os desdobramentos atuais da sua produção. A exposição destaca tanto seus trabalhos de cunho político, que dialogam com a estética da Nova Figuração Brasileira, quanto as pinturas que trazem o corpo em primeiro plano a partir do olhar feminino.

Fernanda Morse, que assina o texto crítico da exposição na Galatea, comenta: “Diante de toda a diversidade das correntes artísticas em ação na segunda metade do século XX, Pietrina não seguiu uma cartilha específica. Como a própria artista diz, o ser humano foi desde o início o seu leitmotiv e ganhou cada vez mais espaço em seu trabalho com o passar dos anos. Distanciando-se de uma certa investigação em torno universo político, dos jogos de aparência e dos conflitos morais presente em trabalhos como Sob o signo de câncer, da série O povo brasileiro (1967/1968) e A novela (televisão) (1965-1967), a Checcacci da década de 1970 em diante dá ao corpo humano a dimensão de paisagem, fazendo-o a falar por si mesmo. Trabalhos como Evaterra (1971), Carnações (1982) e A doçura dos corpos (2011) constatam a continuidade desta pesquisa. Por outro lado, vê-se também na sua produção recente uma retomada do seus temas da década de 1960, atualizados nos novos estandartes, agora “flutuantes”: Yes, nós temos bananas e outras cositas más, da série Flutuantes (2022) e Juntos e misturados, da série Flutuantes (2024).”

No Rio de Janeiro, a individual intitulada “Carnação” será inaugurada no dia 28 de maio, na Danielian Galeria, apresentando aproximadamente 30 obras criadas por Pietrina desde os anos 1970 até o momento atual. A exposição reconhece uma matriz pop/kitsch com referências surrealistas em sua pintura, enfatizando o corpo feminino como espaço de luta e conquistas no ambiente cultural brasileiro dos últimos 70 anos. “Carnação” reúne obras de diversos períodos de sua carreira, convidando o público a novas perspectivas sobre sua criação ativa e vibrante.

“Pietrina faz parte de uma geração de artistas mulheres que foi fundamental para estruturar a libertação e ampliação do cenário artístico e cultural brasileiro. Com imagens de forte impacto visual, suas obras fazem parte do imaginário das décadas de 80 e 90. A ideia dessa exposição é mostrar para o público tanto obras desse período como também a produção atual da Pietrina, que com 82 anos está a todo vapor”, afirma Rafael Fortes Peixoto, um dos curadores da individual no Rio de Janeiro.

Checcacci nasceu em 1941 na Itália e, aos treze anos, mudou-se para o Rio de Janeiro. Na turbulenta década de 1960, ela se inseriu no cenário cultural, participando dos principais salões e exposições ao lado de contemporâneos como Rubens Gerchman, Claudio Tozzi e Ivan Freitas. Suas pinturas dessa época mostravam uma forte influência da pop art americana e refletiam a denúncia política característica daquela geração de artistas.

Nos anos 1970, o corpo feminino tornou-se o foco central de suas obras. Em um Brasil marcado pelo exílio e pela tortura, o corpo simbolizava o primeiro espaço de manifestação política, frágil pela insegurança, mas poderoso pela capacidade de resistência.“Pietrina acentua a presença feminina na arte pop brasileira com suas figuras sensuais repletas de desejo. Fiel à imagem, Pietrina faz do corpo a sua principal ferramenta de criação e encantamento de mundo. Suas formas arredondadas, como as curvas e dobras barrocas, fazem do corpo feminino um território de luta, empoderamento e prazer”, finaliza Marcus de Lontra Costa, crítico de arte e curador.

Seu trabalho, sempre coerente ao seu tempo, expressou-se em pintura, desenho, escultura, serigrafia e design, mantendo um foco original e reconhecível nos temas de ser humano, terra e universo, explorando vida e morte com uma abordagem única e profunda.

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