Lygia Clark, símbolo da empatia | Zagut

Cesar Paes Barreto

Respire comigo! Estamos entrando no mundo da Lygia! A Zagut tem enorme prazer em homenagear esta artista que tem na alma a marca da criação da própria Zagut, a interdisciplinaridade entre arte e saúde, e como dizia Lygia, entre a arte e a vida em si mesma.

Nesta exposição, que inaugura no próximo dia 10 de agosto, 125 artistas se encontram com os conceitos e ensinamentos de Lygia Clark tal como imagens que remetem a obra de Lígia como a obra de Adrianne Schreiner, Cecília Ribas, Vilma Lima, Sandra Passos, os que usaram a imagem da artista para se inspirar em pinturas, gravuras e fotogravuras como a obra de Ana Luiza Mello,

César Paes Barreto, Jose Rocha, Roberto Negri e Rose Nobre, artistas que aproveitaram do movimento neoconcreto como Claudia Castro, Valesca Veiga, Rose Aguiar, Cissa Jorge, Lucia Lyra, Salazar Figueiredo, além de desenhos e pinturas de Ana Luiza Mello, Ana Morche, Carmem Bello.

Com organização de Isabela Simões e Augusto Herkenhoff, não faltam publicações de curadores experientes sobre a artista premiada em vida, com mostras importantes como na Bienal de Veneza, e com obras com valores estratosféricos após sua morte. Mas é em seus diários e em suas cartas para Hélio Oiticica que se sente a artista à flor da pele. Suas alegrias, seus medos. E dali selecionamos alguns trechos.

Reverenciamos toda sua inquietação que fez sua obra ir paulatinamente saindo da moldura, das paredes, indo para o chão para ser tocada (“por favor toquem nas obras”), para só ter sentido através do outro (como coautor e não mais espectador), para finalmente ser terapêutica (“uma preparação para a vida”).

Lygia toca em outro tema muito caro, da minha tese de doutorado, a empatia. Apesar de reiteradas vezes falar sobre sua solidão, a vida sem o outro para Lygia não tem sentido. Vive pelo outro: “Se a perda da individualidade é de certa maneira imposta ao homem moderno, o artista lhe oferece uma revanche e a ocasião de encontrar-se” e completa: “Nada a fazer de melhor do que ser-se sendo o outro”.

Fala sobre seu amor: “Amor profundo, livre, imenso”. E ainda sobre essa relação com o outro, comenta: “Perde a personalidade e entra no coletivo buscando um diálogo, me realizando através do espectador”.

Toda a questão da saúde mental é muito importante para Lygia. Fala para Hélio: “Não há lugar para mim no mundo dos normais”. E relata sobre a importância da arte nesse processo: “Fiz arte para escapar do hospício”. E se orgulha de contar sobre seu grupo na Sorbonne, com experiências e depois conversando sobre o que tinha sido vivido, sendo filmado em um programa de TV, as pessoas falando sobre a transformação ocorrida.

“É um exercício experimental da liberdade”, fala sobre ela seu querido Mário Pedrosa, que tanto a fez sofrer quando se foi.

Há ainda um comentário que muito me impressionou, sobre queridos amigos artistas, que mostra toda sua capacidade de resiliência: “É preciso que errem, para encontrar um caminho pessoal e único.”

Lygia começa seu pequeno livro assim: Fadas e gênios habitavam o mundo… Ela mesma sendo um exemplo de ambos os personagens, explica para Hélio: “Quero é gente, não importa cor, idade, nacionalidade, estado de sanidade mental, burgueses, proletários, crianças, não importa!”

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