Lygia Clark | Pinakotheke Cultural

Lygia Clark, Bicho | FOTO: Vicente de Mello

A Pinakotheke Cultural, em sua sede em São Paulo, realizará, em colaboração com a Associação Cultural Lygia Clark, a exposição “Lygia Clark (1920-1988) 100 anos”, de 15 de novembro de 2021 a 15 de janeiro de 2022, em comemoração ao centenário de nascimento da artista.

Considerada pela crítica de arte, tanto nacional como internacional, como uma das artistas mais importantes do século 20, por suas criações pioneiras e originais, Lygia Clark nasceu em Belo Horizonte em 23 de outubro de 1920 e morreu em 25 de abril de 1988, no Rio de Janeiro.

Com curadoria de Max Perlingeiro, a exposição reunirá aproximadamente 100 obras da artista, entre pinturas, desenhos, gravuras, bichos, trepantes, obra mole, casulo, objetos relacionais, fotografias e documentos, em sua quase totalidade inéditas ao público brasileiro. Exemplo disso é a coleção de “Bichos” pertencente ao crítico inglês Guy Brett (1942-2021), grande amigo de Lygia Clark desde a individual da artista na Signals Gallery, em Londres, em 1965. Da mesma forma, são igualmente inéditas as obras formais de 1943 a 1952, como a série “Escadas” (1947), sobre a qual a Lygia Clark declarou em entrevista ao artista Luciano Figueiredo e ao jornalista Matinas Suzuki Jr., em 1986: “Quando eu era figurativa, a única coisa que eu gostava de fazer eram as escadas. E o Léger dizia, rindo muito, quando via minhas coisas, que tudo o que eu fazia, no fundo, eram escadas. Veja que curioso, dentro da escada já se notava o desfolhar de um Bicho. O Bicho já está dentro da escada, né?”. Também são inéditos os “Objetivos Relacionais” (1968-1973) reunidos na exposição, por muitos considerado seu experimento mais radical. Também nunca foram vistas pelo público várias obras das séries “Superfície Modulada” e “Espaço Modulado”, da artista.

Lygia Clark, Bicho | FOTO: Vicente de Mello

PENSAMENTO DE LYGIA CLARK ATRAVÉS DE SUA TRAJETÓRIA

A mostra obedecerá a uma cronologia, dividida em 17 ordens conceituais que compõem a sua trajetória de artista: “Escadas” (1947), “Kleemania” (1952), “Quebra da Moldura” (1954), “Linha Orgânica”(1954), “Arte/Arquitetura” (1955), “Superfície modulada”(1955-1956), “Planos em superfície modulada Série A”(1957), “Planos em superfície modulada Série B” (1958), “Espaço modulado” (1958), “Unidade”(1958), “Ovo linear” (1958), “Contra relevo” (1959), “Casulo” (1959), “Bicho” (1960-1964), “Obra mole” (1964), “Trepante” (1965) e “Objetos relacionais” (1968-1973).

Para cada um desses segmentos, o público poderá seguir textos de parede escritos pelo crítico Paulo Herkenhoff, que auxiliam a compreensão e a evolução do pensamento da artista e suas criações.

A exposição traz também outras preciosidades, como a recriação, a partir de uma fotografia, da montagem das “7 Unidades”, de Lygia Clark, na “Mostra Neoconcreta” (1958), no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, onde a artista está sentada na cadeira desenhada por Abraham Palatnik (década de 1950, para a fábrica de móveis Arte Viva). As obras e a cadeira estão exatamente na mesma posição da fotografia, que pode ser vista na exposição e no livro que a acompanha.

FILMES E VIDEOINSTALAÇÃO

Estará na exposição uma animação do ensaio fotográfico feito por Alécio de Andrade (1938-2003) da performance “Arquiteturas biológicas II”, que Lygia Clark criou em 1969 no Hôtel d’Aumont, em Paris. A animação foi feita por Fabrício Marques, e o realejo é de Gabriel Pinheiro.

Em dias alternados, o público verá na exposição os filmes “Memória do corpo” (1984), de Mário Carneiro, 30’, com produção de Solange Padilha e videografia de Waltercio Caldas, que registrou a última proposta desenhada pela artista, a “Estruturação do Self”; e “O mundo de Lygia Clark” (1973), de Eduardo Clark, com direção de fotografia de David Drew Zingg e Antonio Guerreiro, e música de Naná Vasconcelos.

Uma sala especial será montada para exibir a videoinstalação “DSÍ – embodyment” (2021), 8’, três câmeras com três distintos monitores, com registro da performance de Carolyna Aguiar, e direção de Leticia Monte e Ana Vitória. Na videoinstalação, o espectador é convidado a “experienciar estados inaugurais do corpo fragmentário em sua perspectiva pulsante de vida e morte”, explicam Ana Vitória e Leticia Monte. “Aqui o corpo debate-se em constante luta de vir a ser o que se é, desventrando-se e recolhendo-se continuamente em uma incessante dança-luta imemorial, lugar dos vazios-plenos, que Lygia Clark insiste que revisitemos”.

Sem título, 1952 | FOTO: Jaime Acioli

LIVRO BILÍNGUE, COM TEXTOS INÉDITOS

Acompanha a exposição o livro bilíngue (port/ingl) homônimo “Lygia Clark (1920-1988) 100 anos”, 316 páginas, 27,5 cm x 22cm, com textos críticos inéditos, imagens e informações sobre as obras, uma seleção da correspondência pessoal entre Lygia e amigos artistas e intelectuais, e uma cronologia resumida atualizada.

O primeiro texto do livro é Some Latin Americans in Paris, escrito pelo teórico e historiador de arte Yve-Alain Bois (Constantine, Argélia, 1952), que conheceu Lygia Clark ainda nos anos 1960 em Paris, e se tornou seu amigo próximo. Depois de integrar por 15 anos o departamento de história da arte e arquitetura da Universidade Harvard, Yve-Alain Bois está no School of Historical Studies do Institute for Advanced Study, em Princeton, conhecido simplesmente como “Institute”, instituição lendária que promove e financia pesquisas, onde já estiveram cientistas como Albert Einstein e historiadores da arte como Erwin Panofsky.

“Pelas amplas janelas do MAM” e “Relato de um paciente” são textos escritos por Lula Wanderley em 2021 especialmente para a exposição.

A publicação traz também a íntegra inédita de uma entrevista dada por Lygia Clark a Matinas Suzuki Jr. e Luciano Figueiredo em 1986, de que só havia sido publicado um extrato no suplemento “Folhetim”, da “Folha de S. Paulo”, em 2 de março daquele ano. A partir de sua conferência “Catarse e Lygia Clark: o poder curativo da arte”, proferida em 1998, Marcio Doctors editou e atualizou o texto para o livro.

A exposição “Lygia Clark (1920-1988) 100 anos” esteve na Pinakotheke Cultural do Rio de Janeiro de 23 de agosto a 30 de outubro de 2021 e passou a marca de 10 mil visitantes durante o período.

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