Delson Uchoa

A volta de Delson Uchôa a São Paulo depois de cinco anos, agora artista representado pela Zipper, é comemorada com esta exposição que reúne cinco pinturas, duas esculturas e uma série de fotografias, todos trabalhos inéditos e recentes. O artista, que já participou 53ª Bienal de Veneza pelo pavilhão brasileiro, ficou reconhecido por suas pinturas monumentais que exaltam a cor e a luz da atmosfera de sua terra natal, construídas por muitas camadas que formam uma superfície contemporânea a partir de signos de raiz popular.

Nesta mostra, com curadoria de Paula Braga, autora também do texto do livro sobre o artista que será lançado no final da exposição, a maioria das obras – três das cinco pinturas, as esculturas e as fotos – discute a ideia da cultura em tempos de globalização. Os elementos que orientam a composição das peças são retirados de sombrinhas chinesas, produzidas em escalas que só os “made in China” podem alcançar. Segundo Braga, estas peças, numa espécie de mestiçagem expandida, colocam cores e padronagens decorativas na paisagem seca da caatinga alagoana. “Como as sombrinhas são assustadoramente baratas, produzidas às custas de baixíssimos salários e alto impacto ambiental, para além da superfície colorida, o belo da matéria chega a um discurso político”, aponta a curadora.

Em seu texto para o livro, Braga chama atenção para a beleza dos padrões simétricos da pintura de Delson Uchôa, mas sugere ao espectador que vá além da beleza contida em sua superfície para alcançar o “belo em si”. Ao retomar suas pinturas muito antigas, para continuá-las, ou capturar marcas da rotina da casa, vestígios da memória e do tempo, a curadora acrescenta a questão da autofagia na obra de Uchôa. Em uma de suas técnicas, o artista despeja resina transparente no chão de lajotas de barro, espera a secagem, pinta no chão por cima da resina seca, pisa naquele tapete inusitado, arrasta os móveis, varre, passa produtos de limpeza doméstica. A partir desta base e ao descascá-la, o artista acrescenta elementos, linhas, cores. “A pintura já foi chão ou toalha de mesa e antes ainda foi átomo do cerne do mundo”, completa Braga.

A curadora destaca ainda a autofagia cultural, a forma como o artista olha para o espelho da arte nordestina popular, para os bordados, cestarias, cerâmicas marajoara “e volta como um Ulisses para a origem virtuosa de tudo”. Segundo Braga, a obra de Delson Uchoa tem várias camadas, materiais e significativas, peles sobrepostas, que podem ser levantadas e adentradas. “O belo expande-se para muitas dimensões, sai da parede para ocupar o espaço, a casa, a caatinga, a galeria, a discussão sobre arte nacional e economia global”.

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