Chamada Pública recruta profissionais para Acervo Nosso Sagrado

Foto: Elisângela Leite

A Quiprocó Filmes, em parceria com o Museu da República e o apoio do Instituto Ibirapitanga, abre chamada pública para selecionar profissionais graduados em História e Museologia, além de estagiário da área de Ciências Humanas, Ciências Sociais ou Ciências Sociais Aplicadas para atuar no projeto Acervo Nosso Sagrado. As inscrições vão de 06 de abril de 2021 até às 23h59 do dia 17 de abril de 2021 e vale ressaltar que será priorizada a diversidade de gênero e raça ao longo do processo seletivo. A iniciativa é uma parceria entre a Quiprocó Filmes e o Museu da República, que conta com apoio do Instituto Ibirapitanga através da viabilização de recursos que visam garantir as condições apropriadas para o tratamento técnico, preservação, documentação histórica, registro audiovisual, divulgação e acesso público à coleção.
A chamada destaca, também, que profissionais com trabalhos afins com o tema serão priorizados. Outras informações e as inscrições para o processo seletivo podem ser acessadas no link: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSdT4EUN52YWlNGlI1ldS0jIzoboYtitInVlD-7LSlPS0_fUOQ/viewform

histórico

O Museu da República recebeu no dia 21 de setembro um precioso acervo de religiões de matriz africana. Fruto de grande mobilização, o movimento “Liberte Nosso Sagrado” conseguiu importante vitória com a assinatura do termo de transferência do acervo da Polícia Civil ao Museu da República, no dia 7/8. O material que integra o acervo, e estava sob tutela da Sepol, conta com objetos sagrados para as religiões de umbanda e candomblé, apreendidos entre 1889 e 1945. Tais violações ocorreram nas primeiras décadas da República, particularmente nos anos 1920 e 1930, ainda que desde a Carta Constitucional de 1891 já se estabelecesse no país o Estado laico e a liberdade de crença e culto.

Os objetos apreendidos a partir dessas invasões foram depositados no Museu da Polícia Civil do Rio de Janeiro, compondo, ao lado de outros materiais apreendidos por forças policiais, exposições organizadas na instituição. Em 1999, quando a sede desse Museu é transferida para o prédio histórico da Rua da Relação, nº 40, no centro carioca, todos os objetos da ”Coleção Museu de Magia Negra” foram guardados em caixas e assim permanecem até setembro de 2020, com acesso vetado ou muito restrito de pesquisadores e aos integrantes das comunidades tradicionais de terreiro.

Foto: Elisângela Leite

acervo

Trata-se hoje de 519 peças. O seu primeiro conjunto reunia 126 peças que, em 1938, foram tombadas pelo então Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-SPHAN, atual Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-IPHAN, constituindo o primeiro tombamento etnográfico do país inscrito no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico. Neste ano de 2020, a transferência desses objetos para o Museu da República foi acordada entre a Secretaria de Estado da Polícia Civil, o Museu da Polícia do Rio de Janeiro, o Instituto Brasileiro de Museus e o Museu da República, com amplo apoio do povo do terreiro, de autoridades políticas, artistas e intelectuais engajados na campanha Liberte Nosso Sagrado, formalizada em 2017 para reivindicar a retirada desse acervo do Museu da Polícia Civil do Rio de Janeiro.

A transferência da Coleção ”Museu de Magia Negra” para o Museu da República é um passo preciso na direção de projetos que lancem luz sobre esse patrimônio cultural, garantindo, não somente a sua organização, preservação, comunicação e acesso, mas também justiça e reparação social, com afirmação do direito e do respeito à diversidade religiosa brasileira. E um dos primeiros passos rumo a mais avanços, nesse sentido, também vale destacar foi a reivindicação dos povos de terreiro para a troca do nome da coleção para Acervo Nosso Sagrado e a cessão definitiva do acervo. A iniciativa também contou com o apoio do Instituto Ibirapitanga.

A história do acervo virou filme

Em 2017 essa história foi contada a partir desses objetos sagrados e mostra como as comunidades tradicionais de terreiro eram criminalizadas, seus religiosos perseguidos e seus objetos sagrados apreendidos. O documentário Nosso Sagrado, (dirigido por Fernando Sousa, Gabriel Barbosa e Jorge Santana) produzido pela Quiprocó Filmes em parceria com a campanha Liberte Nosso Sagrado, impulsionada por diversas lideranças religiosas e organizações da sociedade civil, traz à tona o passado dessas comunidades. Além, também, da coleção que levava o nome de “Museu de Magia Negra” e o processo para libertar os objetos sagrados que estavam há mais de 100 anos no antigo DOPs do Rio de Janeiro. O documentário foi recentemente licenciado para o Canal Brasil e, atualmente, está disponível na plataforma kweli.tv

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