TEC | Choque Cultural

POR RENATA MARTINS

Considerado um dos criadores artísticos mais instigantes de sua geração, o artista visual e educador social argentino TEC exibe em São Paulo na mostra individual, ONOFF, um conjunto de novas produções que combinam colagens videográficas, filmagens captadas por drones de ruas e avenidas da capital paulista e pinturas em acrílico sobre telas de plasma de televisores e de tablets.

Natural de Córdoba, TEC presta sua mais nova homenagem a São Paulo, cidade onde vive e trabalha como artista desde 2012, através de composições tecnicamente híbridas e cujas imagens dialogam com sua prévia produção de pintura sobre tela – também dedicadas à sua percepção e relação com essa urbe.

Paisagem desligada

A inovação de ONOFF, cujo nome já remete a uma metáfora do estado ininterrupto de funcionamento ou inatividade de dispositivos ou sistemas eletrônicos, encontra-se na composição amalgamada tanto de suas técnicas como do conteúdo imagético apresentado como um grande mosaico. Em relação às técnicas, TEC faz uso do suporte tecnológico de telas como uma superfície inovadora sobre a qual intervém com a pintura tradicional em acrílico. “O pincel corre macio na TV. Foi uma descoberta deliciosa para quem pinta sobre muitos suportes! E é uma emoção a mais quando ligo a TV e vem a luz por trás da pintura. Aí entro com mais camadas e vou integrando os vídeos”, afirma o artista.

Em suas Digital Collage, a composição orgânica e fluida do seu acrílico delimita um perfil humano ou, melhor, o contorno de uma fisionomia estática e impessoal que contrasta com a dinamicidade pulsante de sua fisiologia interior. O funcionamento interno desse organismo frenético, que mais parece um vespeiro em plena ação, é composto de colagens digitais fragmentadas e justapostas de imagens tomadas por drones das “vias circulatórias” da cidade.

Numa sucessão ininterrupta de “liga” e “desliga” de cada recorte imagético, essas obras exibem uma corporeidade urbana que não descansa ou pausa, que está sempre em ação e transição. Nessa fisiologia da metrópole paulista, que também pode ser interpretada como sendo de qualquer outra metrópole moderna, encontramos características visíveis e estruturais de sua paisagem urbana (através dos recortes de túneis, ruas, avenidas, viadutos), de seus movimentos e ritmos (através do tráfego ininterrupto de automóveis e pessoas), como de sua tecnologia e inovação (através dos próprios suportes de telas de plasma e tabletes utilizado pelo artista).

Paisagem ligada

Além desses aspectos estruturais, fica ainda aberta a possibilidade de interpretação do aspecto social desse corpo urbano dinâmico e fragmentado, que pode ser percebido como uma metáfora sobre a constituição psíquica das pessoas que habitam uma metrópole e como elas processam e lidam internamente com os estímulos externos.

“O que o TEC fez, foi aproveitar algumas tecnologias relativamente novas, como filmagens em drone, colagens de vídeo, e trazer isso para a coisa mais energética da pintura que ele já faz na cidade, através da action painting, da pintura de grandes pedaços de chão ou de grandes empenas de prédio. Ele misturou tudo isso nesse trabalho em camadas de conteúdos que se sobrepõem, complementam e se reforçam. Esses vídeos são uma leitura que o artista faz da cidade”, analisa Baixo Ribeiro, curador de ONOFF.

Justamente a energia da street art de TEC é exibida na obra “Paisagem”, onde recortes de colagens digitais de vias de São Paulo são inseridos na composição de suas pinturas em acrílico, em um fluxo contínuo e com referências a Jean-Michel Basquiat, Joan Miró e Pablo Picasso.

ONOFF exibe não somente a percepção de TEC da cidade de São Paulo, mas sua relação com o espaço da rua como seu laboratório e ateliê. “Sempre pintei na rua e para mim este é o meu lugar natural de trabalho”, afirma o artista.

ONOFF
Galeria Choque Cultural – São Paulo-SP
Até dia 18 de setembro de 2024

 

Renata Martins é mestre em
Literatura Alemã pela USP e
especialista em curadoria de
arte pela Universidade das
Artes de Berlim

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