Do Gibi aos Quadrinhos – Os Super Heróis Brasileiros | Centro Cultural dos Correios RJ

Exposição e Quadrinhos: a importância desse gênero para arte contemporânea

No silêncio da galeria e na imensidão quase inabitada do Centro Cultural dos Correios (RJ), um burburinho no terceiro andar chamava atenção: uma exposição sobre quadrinhos.

Exposição Do Gibi aos Quadrinhos – Os Super Heróis Brasileiros com curadoria de Paula Ramagem e Raphael Gomide, janeiro de 2024.

Exposição “Do Gibi aos Quadrinhos – Os Super Heróis Brasileiros” com curadoria de Paula Ramagem e Raphael Gomide, janeiro de 2024.

 

O público era diversificado, alguns jovens, alguns adultos e algumas famílias acompanhadas com seus pequenos. A mesma criança, que na galeria ao lado foi alertada pela mãe a não tocar na escultura abstrata, apontava animada para os personagens da parede onde estavam os quadrinhos. Os jovens riam, conversavam e divertiam-se com as obras na exposição. Pareciam conhecer todas as referências e não polpavam esforços para explicar as histórias para os mais desantenados. A exposição sobre quadrinhos nacionais era uma ilha diante de tanto mar revolto e do mergulho quase indecifrável nas galerias da arte ao lado.  No entanto, as famílias que passavam correndo pelas outras
salas expositivas paravam naquele porto acalentado.

Exposição “Do Gibi aos Quadrinhos – Os Super Heróis Brasileiros” com curadoria de Paula Ramagem e Raphael Gomide, janeiro de 2023.

Exposição “Do Gibi aos Quadrinhos – Os Super Heróis Brasileiros” com curadoria de Paula Ramagem e Raphael Gomide, janeiro de 2023.

Exposição Do Gibi aos Quadrinhos – Os Super Heróis Brasileiros com curadoria de Paula Ramagem e Raphael Gomide, janeiro de 2023.

 

Aquele público era um aconchego e uma chama que acendia no frio ensurdecedor daquele cemitério da arte contemporânea. Ela mesma não precisa ser necessariamente didática. Seus códigos são difíceis e bastante complexos para serem desmistificados. Por muitos, é apenas um delírio estético sem atribuição de valor. Mas para além da expografia arrebatadora ou um texto curatorial enfadonho, a exposição “Do Gibi aos Quadrinhos – Os Super Heróis Brasileiros” atrai o público tanto pela simplicidade expositiva quanto pela linguagem ali exemplificada.

Com curadoria de Paula Ramagem e Raphael Gomide, essa exposição apresenta um pequeno panorama das histórias em quadrinhos e suas produções nacionais, focando principalmente nas criações autorais de super-heróis.

Todos envoltos do trabalho pareciam envolver uma única palavra: paixão. Tanto os patrocinadores da Editora Kimera, responsável por publicações independes de quadrinhos, quanto da Rio Comics, evento de literatura, e, ainda, as fontes de pesquisa do canal no YouTube “Grandes Heróis BR” do quadrinista Lorde Lobo, estavam muito envolvidos com a temática.

A expografia era demasiadamente simples, mas funcional: ilustrações justapostas, alguns painéis de papelão nos cantos e mesas no centro. A princípio, não atraía o olhar dentro daquele cubo branco, mas havia alguns exemplares de quadrinhos os quais o visitante poderia folhear e ler. Com uma equipe muito pequena, pouco mais de três pessoas, um responsável específico para as questões da expografia fez falta, principalmente para ajudar na comunicação do público com as obras e atrair ainda mais expectadores. Talvez criar um ambiente típico das feiras de quadrinhos seria uma possível solução para uma possível falta de verba para a exposição.

Mesa com quadrinhos para folhear.

Aalguns painéis de personagens.

Os personagens ali apresentados faziam referências culturais, artísticas e políticas, relacionadas à regionalidade extremamente diversa do Brasil, mas não podemos nos esquecer da influência norte-americana nesse gênero.

Dentro da Academia, dita como “Belas Artes”, há uma visão elitista e hegemônica acerca da discursão da legitimidade dos quadrinhos como arte. O fato é que o quadrinho como linguagem sempre estará presente no imaginário da população, e a presença do público dentro da galeria demonstra a autonomia dos quadrinhos para além dos muros cerceados da arte contemporânea.

 

Lucas Simpli é Professor de Artes Visuais e Historiador da Arte, ambas as formações pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio do janeiro. Especialista em Ensino Contemporâneo de Arte pela Faculdade de Educação e pelo Colégio de Aplicação da UFRJ (2020). Mestre em Design (2023), pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ

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