O pensamento científico me influencia pela racionalidade, pelo cálculo e pela possibilidade de antever meus projetos. A prática artesanal é presente desde a infância. Meu processo criativo é racional e experimental ao mesmo tempo. As obras utilizam da contraposição entre artesania e ciência, buscando, através de grandes instalações ou pequenos objetos, a poesia.
Lágrimas de São Pedro – 2005 – 2019
O tempo em suspensão ou a ideia de pausa no “tempo físico” está presente na instalação Lágrimas de São Pedro, que através da representação de uma chuva pausada no ar, de um tempo congelado e visualmente sem ação da gravidade, levam o fruidor a uma experiência sensível, onde o tempo ganha uma nova dimensão, gerando uma espécie de perder-se pelo embate entre a percepção do tempo físico e tempo do intelecto. A instalação é um site specific composta por milhares de bulbos de lâmpadas cheios d’água e suspensos individualmente no teto, criando um espaço onde o fruidor pode penetrar em meio às lágrimas, possibilitando a experiência como sujeito da obra. A suspensão do presente através da minha memória lúdica em vivências no sertão, dos dias que vi crianças tomando banho de chuva de braços abertos, que me mostraram a chuva sagrada, rural, diferente da chuva urbana que conhecera até ali, ou do dia que caminhei entre nuvens da chapada diamantina e o orvalho estava em tudo: no chão, nas plantas, no ar. É a chuva que não cai, que é rogada.
O pulso da Bienal – 2006
A ideia do tempo específico também surge na obra O Pulso da bienal, que através de uma coluna/tubo, feito com garrafas de vidro e cheio de vinho, gotejou durante todo o tempo da Bienal do Recôncavo, de forma que a última gota caiu no último dia da exposição. Simbolicamente havia a necessidade de estabelecer o tempo físico como uma característica inerente à obra; se em Lágrimas de São Pedro a água evapora de forma imperceptível, por outro, no pulso da bienal, essa evidência é latente e exacerba de forma pragmática a nossa dimensão temporal: o processo é a arte, efêmera como o tempo. O tempo baseado no sol. O tempo relativo do homem urbano diferente do da zona rural, ou o tempo das gotas que caem, anunciando a cada instante, o encerramento da bienal e o desfecho da arte. Arte com início, meio e fim. O pulso é o entendimento do instante artístico, da aura como arte.
Vestígios materiais / Despacho – 2017
Se por um lado algumas obras tem como característica o tempo específico determinado ou planejado, antagonicamente, a série intitulada arqueologia do presente lida com conceitos de permanência, registros de passagem e apropria-se de vestígios materiais diversos – como terra, água, cinzas, escombros, folhas, galhos, rótulos, trapos, entre outros – através do encapsulamento destas matérias em recipientes de vidro, que são apresentados em diversas categorias: instalações, esculturas e objetos, estabelecendo relações entre lugar e matéria. A mais recente obra desta série foi uma instalação e participou da exposição Ready made in Brasil, no centro cultural FIESP e foi intitulada Despacho, uma espécie de obra-oferenda com folhas sagradas, um ponto de limpeza de energias, instalada no maior signo do poder econômico do país. Foi uma obra concebida não só levando em conta o espaço, mas o tempo específico por qual passava o Brasil.
O grande irmão – 2018
O grande irmão é uma das instalações que compõem a recente exposição Neopanóptico, apresentada na Caixa Cultural São Paulo, e impõe ao público, que vai à mostra preparado para observar, uma condição de observado. Lida com questões como vigilância e controle, real e virtual. Uma instalação com cerca de 10 mil “olhos” é intencionalmente invasiva e propositadamente desproporcional, possui câmeras em seu interior e transmite as imagens em outra sala. Reflete sobre a experiência dos dias atuais, onde todos os nossos movimentos, falas e gostos pessoais tornam-se dados que, processados, estabelecem controle e até determinam conteúdos de forma individualizada, mostrando-se um projeto de poder muito eficiente, que aprendemos a amar tão rapidamente, expondo nossas vidas e publicizando nossos corpos ante uma realidade existencial de corpos que ainda operam em forma analógica, humana.