Com formação pelo Instituto de Artes da UFRGS e pelo Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre, cidade onde vive e atua, Túlio Pinto (1974) foi um dos criadores e integrantes do Atelier Subterrânea (ativo entre 2006 e 2015).
Sua produção é marcada pelo uso de materiais como metal, pedra e vidro, que são mobilizados e articulados pelo artista em arranjos, mecanismos, composições e sistemas matérico-objetuais que lidam com pesos, forças, equilíbrios, tensões e seus limites. São pedras, vigas de aço, lâminas e bolhas de vidro, cubos e estruturas de metal que se sustentam e se acoplam por cabos, roldanas, barras, vigas, pedras pendulares e porções de areia, entre outros.

Athar #5, 2018
Desse procedimento, resultam esculturas, objetos e instalações que exploram as potencialidades físicas e visuais dos materiais e das formas que assumem.
Diante das obras de Túlio Pinto, somos invariavelmente acometidos por uma experiência impactante, a um só tempo também instigante e não menos desconcertante.
Lidando com a tensão e o equilíbrio levados aos extremos de seus limites, suas peças e conjuntos escultóricos nos atingem como um sedutor apelo à visão, pela clareza, concisão e harmonia que emanam.

Cumplicidade #8, 2016.
Foto: Nicolás Vidal.
Ao mesmo tempo, são obras que nos tornam conscientes da nossa presença, como parte integrante das situações que instauram; levando-nos a perceber nossos próprios corpos como parte constitutiva da experiência do ver e do sentir.
Situados entre a escultura e a instalação – explorando, portanto, a tridimensionalidade e a espacialidade –, os trabalhos de Túlio Pinto resultam da elaboração de mecanismos e sistemas que exploram e articulam as potencialidades físicas e visuais dos materiais e das formas. São pedras, vigas de aço, lâminas e bolhas de vidro, cubos e estruturas de metal que se sustentam e se acoplam por cabos, roldanas, barras, pedras pendulares e porções de areia, entre outros.

Nadir Escaleno, 2016.
Fotos: Anderson Astor
Essas obras encontram sua linguagem visual e seu fundamento conceitual-poético não apenas na feição da matéria e nos modos com que é mobilizada e empregada, mas, sobretudo, nos tensionamentos e confrontos que estabelecem entre rigidez e fragilidade, força e resistência, equilíbrio e queda.
Trata-se de uma produção orientada por um pensamento escultórico que lida, acima de tudo, com o movimento – ou, mais precisamente, com sua contenção e anulação –, entendendo aqui a acepção mais tradicional, a da física mecânica, que define ser o movimento a variação de um ponto ou objeto no espaço em relação ao tempo.
Contudo, a noção de movimento pode ser pensada de diversos modos no trabalho de Túlio Pinto, sempre operando um deslocamento, seja dos materiais ou dos corpos, tanto do artista como do observador.

Vetoriais #5, 2018.
Foto: Diego Santovito.
A partir desse entendimento, é como se seus trabalhos transferissem a sedução inicial advinda do arranjo formal para o equilíbrio que encontram na tensão precisa investida na sustentação das estruturas. Nesse sentido, a ênfase que o olhar dirige à estrutura é conduzida para o sistema de forças que mantém o mecanismo estendido no limite de seu colapso. Estar entre um e outro é também se colocar em movimento.
Assim, frente a tais obras, somos seduzidos pelas operações que as engendram, pela visualidade que adquirem e, também, por aquilo que insinuam, ameaçam ou sugerem estar momentaneamente interrompidos – ou na iminência de acontecer. Levados a essa profunda e elevada experiência da percepção do visível e do sensível, somos mais do que apenas e meros observadores do que as obras proporcionam, uma vez que passamos a participar de um espaço-tempo específico, porque são peças e objetos que se espacializam no tempo ao mesmo tempo que se temporalizam no espaço.

Nadir #8, 2014.
Foto: Anderson Astor
Com suas proposições experimentais que se materializam ao concatenar o mundo das leis físicas em potência plástica, Túlio Pinto confere particularidades a seu trabalho diante da produção contemporânea, em virtude das articulações tensas e limítrofes entre duas dimensões: a sugestão de equilíbrio precário e a sensação de queda iminente, em nenhum caso anulando verdadeiramente as linhas de força que incidem sobre os objetos e os corpos, até porque essas forças estão ali trabalhando, tensionando-se, como um sistema provisoriamente resolvido, ainda que comungando do mesmo silêncio dos materiais, que são levados às fronteiras limítrofes da resistência que suportam.
No que esses tensionamentos podem oferecer e sugestionar, Túlio Pinto atesta que é nos limites que podemos experimentar um fascínio singular do nosso estar no mundo.