CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL RIO DE JANEIRO
Em um imponente prédio da época imperial, símbolo do mundo financeiro por décadas, o atual Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro (CCBB RJ) acolhe, de 1º de dezembro 2021 até 24 de janeiro de 2022, a instalação de arte digital Floras, da artista novas-tecnologias Rejane Cantoni.
Sob a curadoria de Byron Mendes (@metaverse.agency), a obra foi desenhada especialmente para dialogar com o visitante do espaço CCBB RJ.
Três grandes painéis instalados no foyer do prédio acomodam inúmeros vídeos de fractais que são processados por meio de feedbacks de luz, ou seja, são animações geradas por processos algorítmicos analógicos e digitais. Esses jardins virtuais espelham a vegetação e a flora brasileira. Formas fractais existem já na natureza, como na geometria de uma couve-flor, nas filigranas da folha da samambaia, nas costas de uma vitória-régia, etc.
Floras é então uma instalação visual e sonora, elaborada a partir de animações de vídeos e fragmentos de sons captados nos jardins, florestas e campos do mundo que o computador recombina aleatoriamente.
Em longa trajetória, a artista investiga a capacidade artística como possibilidade de expansão da percepção e interação com o ser humano. Rejane Cantoni explica seu processo:
“Desenhar e instalar uma obra site specific não é tarefa simples. Você tem que estudar, pesquisar as particularidades da instituição que o convida; fazer perguntas e responder algumas delas: Onde? Como é a arquitetura local? Quanto tempo a obra permanece instalada? Qual a relevância social da proposta?, etc. Em Floras, a curadoria propôs convidar o público do CCBB RJ a experimentar e refletir sobre a natureza, a tecnologia blockchain, a criptoarte”.
A novidade dessa instalação é que os vídeos são únicos e exclusivos, todos NFTs. Esses tokens não fungíveis são códigos registrados em uma blockchain, um banco de dados de indexação de transações mundial. Dessa forma, o visitante é estimulado a refletir e experimentar essa nova tecnologia, explorada na criptoarte. Ele também é convidado a participar da obra, por meio de likes que ele pode fazer do vídeo preferido no perfil do projeto @nft_floras, no Instagram. O que ele não sabe é que esse trabalho tem uma tecnologia que se atualiza e está sempre em evolução. Então, Floras funciona como um jogo que tem regras combinatórias, em constante transformação. Ao observar a instalação, o visitante nunca vê a mesma flora, ou o mesmo vídeo. São flores e folhas digitais coloridas balançando e se transformando ao sabor do programa. Reverberações fractais de surpreendentes visualidades.
Assim, ao visitar a obra, o espectador imerge em uma flora possível, ou digital, porque esse jardim sensorial, feito de luz, é criado pela máquina. Imergir no trabalho tecnológico da criptoarte, em um simulacro da natureza, é estimular a imaginação do espectador, envolvendo-o e instigando-o a participar dessa nova natureza pictórica.
Natureza, flora, fauna, clima estão na pauta das discussões sociais, culturais e políticas atuais. O jardim cromático Floras, criado por Rejane Cantoni, remete-nos às atuais mutações na natureza e no mundo e nos faz refletir não só sobre como entendemos e participamos do mundo, mas também como podemos aprender sobre a relação Natureza-Tecnologia.
Maria Teresa Santoro Dörrenberg vive em Berlim, Alemanha, é escritora, curadora e pesquisa a relação do corpo com a arte, as mídias e as tecnologias contemporâneas.