A escolha dos leitores da Dasartes para o concurso Garimpo Online 2018/2019 é Marcel Diogo, somando a votação no site e na página do Facebook. Marcel é de Belo Horizonte, graduado em Pintura (2006) e Licenciatura (2009) pela Escola de Belas Artes da UFMG. Seu trabalho é atravessado por questões políticas e pela relação entre indivíduo e imagem.
A série de pinturas Falhas expostas é constituída a partir de fotografias ordinárias, derivadas de falhas casuais. O erro fotográfico, que é cada vez menos comum na era da fotografia digital, é explorado pelo artista como elemento de estudo. A hierarquia contemporânea das imagens é determinada por características como alta definição e qualidade mimética, como afirma a artista e escritora alemã Hito Steyerl no texto Em defesa da imagem ruim – ou “imagem pobre”, na tradução literal do inglês. Segundo Steyerl, imagens que colocam em xeque o fetiche da resolução não possuem valor na atual “sociedade de classe das imagens”. Mas é justamente essa “imagem pobre” que interessa a Marcel Diogo. Enquanto novas câmeras apresentam uma série de dispositivos homogeneizadores, que corrigem automaticamente falhas e imperfeições, o artista assume o risco do ato fotográfico característico da era analógica, e dessa maneira evidencia o potencial poético daquilo que é considerado feio, marginal, por meio de sua pintura que mimetiza tais “erros”.

Série Falhas expostas, 2013.
O viés político é enfatizado em trabalhos como a série de pinturas Aqui tudo parece que é ainda paraíso e já é inferno, cujo título parodia uma famosa frase do antropólogo Claude Lévi-Strauss, que diz “aqui, tudo parece que é ainda construção e já é ruína”. As pinturas representam veículos incendiados, em referência às manifestações políticas realizadas em grandes centros urbanos desde 2013. Assim como o Lévi-Strauss, que na frase mencionada se refere ao Brasil, apresentando uma análise pessimista sobre o país, Marcel coloca em questão o projeto de Brasil que se busca construir e evidencia o quanto há de infernal nesse paraíso idealizado.
Cova para um, trabalho desenvolvido durante uma residência artística na Patagônia Argentina, traz novamente o teor político ao propor uma reflexão sobre os desaparecidos durante a ditadura argentina. Em diálogo com os projetos da Land Art – caracterizada por intervenções em paisagens remotas – o artista cavou 300 covas no deserto da Patagônia que, além de simbolizar sepulcros individuais em memória de cada desaparecido, também representam 1% do total estimado de desaparecidos na Argentina (30.000 pessoas).
Marcel Diogo carrega em seus trabalhos a ideia da perda, que evoca o espírito de uma geração que convive com tantas derrotas. Seja na busca por imagens que resultam do fracasso, no espectro de um país infernal que se sonha paradisíaco ou na construção de um cemitério sem mortos, à espera de corpos que nunca chegarão. O artista nos convida a perceber o que o ato construtivo da arte pode extrair dessas ausências e falhas.