Em cartaz até 20/8/2017 no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, os Irmãos Campana falam a Dasartes sobre quatro obras da exposição e nos mostram como é o processo de criação e produção de suas lindas peças de design para interiores.
CABANA

Armário Cabana. Irmãos Campana
“A “Cabana” é um armário todo de palha, bem primordial, e tem um aspecto bem primitivo. Remete a um sonho de infância. Nós nascemos no interior, vivemos em fazenda, tivemos muito contato com a natureza – no interior de São Paulo, anos 1960, era só floresta. Hoje está, infelizmente, tudo devastado. Quando eu tinha sete anos de idade, as pessoas me perguntavam o que eu queria ser quando crescer e eu respondia que queria ser índio. Esta peça carrega essas memórias afetivas, relaciona-se com esse sonho de infância, de que, finalmente, aos 64 anos de idade eu possa me “fantasiar de índio”. ”
FUNGO

Fungo. Irmãos Campana
“O lustre “Fungo” é de madeira e cristal de uma fábrica da República Tcheca. Ele tem uma história interessante: fomos para lá para fazer um projeto de outro lustre e, meia hora antes de irmos embora para o aeroporto, eles nos convidaram para ver o porão da fábrica, onde guardam os moldes das peças de cristal. É muito úmido o porão e desses moldes brotavam uns fungos, uns cogumelos. Olhamos e mudamos tudo! Perguntamos se eles não conseguiriam reproduzir estas formas em um lustre, unindo a madeira natural e o cristal, e, tecnicamente, conseguiram. Foi um projeto de meia hora, em que visualizamos um produto final, como sempre acontece conosco. Meu irmão e eu somos muito intuitivos, a coisa não vem racionalizada, ela vem de noções que a gente vive, de experiências, de onde o nosso olhar foca. ”
CORALLO

Corallo. Irmãos Campana
“A “Corallo” é uma cadeira toda de fios de arame pintados de coral. Ela é praticamente a desmaterialização. Sempre quisemos fazer uma cadeira que fosse um gás, ainda sonhamos com isso. Um dia haverá uma tecnologia que permita que, ao abrir uma garrafa, saia um gás que vai se condensar de acordo com o seu corpo. A Corallo é a desmaterialização de uma poltrona clássica, por isso gostamos dela. ”
FAVELA

Poltrona Favela. Irmãos Campana
“Gostamos muito da poltrona “Favela” devido ao seu processo, ela indica os caminhos projetuais. O único rigor dela é um esqueleto de madeira, que é preenchido de acordo com a mão do artesão que vai fazê-la. Então, ela é uma peça, mas tem várias configurações e nenhuma é igual a outra. É produzida em série, não é limitada. E tem esse olhar, inspirada nas casas de uma população mais pobre e seu modo de vida, carrega praticamente uma fotografia disso, assim como da característica do povo brasileiro de utilizar sucatas e outros materiais improváveis. Todos nós somos assim, o Brasil é assim, porque vivemos tanta crise. Na França, se eles vivessem uma crise como a nossa, estariam todos deprimidos, racionalizando o “porquê”! Aqui não, vivemos essa tragédia, mas ainda acreditando em alguma coisa. Estamos acostumados, desde que nascemos é isso e não vai ter jeito nunca, mas achamos uma maneira melhor para viver adaptando-se às situações. É uma homenagem a essa flexibilidade mental do povo brasileiro.”