UMA DÉCADA PIVÔ

Reclining Figure, 1956.
© Henry Moore Foundation.
O ano de 1960 marcou o início de uma nova fase na carreira de Henry Moore. Aos 62 anos, ele estava indiscutivelmente no auge de seus poderes. Essa data trouxe grandes marcos do reconhecimento de suas realizações até então, como as aquisições, pela Tate, e uma exposição seminal na Whitechapel Gallery, em Londres, que também incluiu seus últimos trabalhos.
Nas décadas de 1940 e 1950, o artista havia defendido a arte pública a serviço da regeneração do pós-guerra e da diplomacia cultural. O British Council excursionou regularmente exposições internacionais de seu trabalho. A década de 1960 também foi marcada por crises, mas, enquanto o relacionamento do escultor com o British Council continuava, o foco de seu trabalho mudou. Impulsionado a criar novas formas e inspirado pela natureza, o trabalho de Moore se tornou progressivamente abstrato. A figura continuava sendo sua preocupação central, mas estava cada vez mais ligada à paisagem. Durante essa década, ele adotou novos materiais e métodos. Trabalhou em uma escala cada vez maior e para um público cada vez maior, fazendo mais de trezentas esculturas, desenhos e gravuras. A casa e os estúdios do escultor sofreram mudanças significativas. Ele ampliou sua moradia para acomodar o fluxo de convidados, construiu estúdios inovadores para facilitar a produção de obras monumentais e contratou vários assistentes em tempo integral. A propriedade fervilhava com suas conversas e a atividade era constante de guindastes, câmeras de TV e pessoas de todo o mundo.
EXPERIMENTOS COM ESCALA E MATERIAL

Henry Moore montando exposição na Whitechapel Gallery, London, em Novembro 1960 (com Two Piece Reclining Figure No.1
1959 e Warrior with Shield 1953-54) Foto: © Henry Moore Archive
Alguns dos novos materiais e técnicas adotados durante a década de 1960 por Moore foram a fibra de vidro e poliestireno, que influenciaram diretamente seu conceito de escala. O artista já tinha na fundição em bronze seu principal método para fazer escultura. Ao contrário da escultura em pedra ou madeira, as propriedades do bronze permitiam maior tamanho e variedade de formas. Com a ajuda de assistentes, os pequenos modelos (maquetes) do artista foram ampliados primeiro para um tamanho de “modelo de trabalho” e depois para suas proporções finais.
A atitude dele em relação à escala de suas esculturas foi inovadora. Tamanho e escala são diferentes. Ele entendeu que percebemos a escala (se algo parecia grande ou pequeno) principalmente em relação a nós mesmos e ao nosso entorno. Moore conseguia imaginar suas maquetes em qualquer tamanho – sua escala era governada apenas por sua visão. Quando ampliava um pedaço de osso ou pederneira em proporções monumentais, interrompia nossa leitura do objeto, como um close-up extremo. A forma como nos relacionamos com esses objetos no espaço também mudou – um osso se torna um arco por meio do qual você pode caminhar. Sua escultura pioneira em grande escala influenciou espaços públicos em todo o mundo.
ABSTRAÇÃO

The Arch, 1963/69.
Foto: © Henry Moore Archive.
No início da carreira, Moore estabeleceu três temas aos quais voltou repetidamente em seu trabalho: a mãe e a criança, a figura reclinada e a forma interna/externa. Na década de 1930, sua escultura era muitas vezes abstrata, mas sempre ligada a essas ideias. A figura era central para o pensamento do artista. Nas décadas de 1940 e 1950, ele percebeu que temas figurativos reconhecíveis eram necessários para um público se recuperando da guerra, mas, na década seguinte, olhou para frente: novamente, permitiu-se maior abstração, sustentada por seu fascínio pela natureza.
Ainda meditando sobre seus temas, o escultor fez uma metamorfose desses mesmos ingredientes. Em sua série de figuras reclinadas em várias partes, iniciada em 1959, formou corpos evocando penhascos e pedregulhos, conectando intimamente a figura à paisagem. O espaço entre as partes era igualmente importante – um espaço vital a ser preenchido com imaginação.
Moore queria aproveitar a vitalidade da natureza e buscou inspiração em pedras e ossos. Embarcou em uma série de obras e esculturas “pontiagudas” que se entrelaçam ou têm pontos em comum. As formas orgânicas se adequavam à maior ampliação, combinando com a escala da visão do escultor. Formas compactas e torcidas, como Locking Piece, os pontos de alongamento em Spindle Piece e Oval with Points, ou a ponta afiada de Knife Edge Two Piece deslizando em direção à sua contraparte, todos têm dentro de si uma tensão ativa. Aprimorou isso contrastando texturas ásperas com superfícies lisas ou altamente polidas. Concentrou-se no processo tátil de fazer formas, não apenas em sua aparência visual.
Essas esculturas monumentais animaram os novos espaços públicos em que foram colocadas. Abstratas e orgânicas, elas também eram aparentemente apolíticas e falavam de um tema universal – a relação humana com a natureza.
DEMANDA GLOBAL

Knife Edge Two Piece 1962-65. Foto: John Hedgecoe. © Henry Moore Archive.
Em 1959, Moore apareceu na capa da revista Time, um sinal de sua fama em rápido crescimento. Graças ao British Council, o renome dele era mais difundido do que quase qualquer outro artista vivo.
Fundado em 1934, o British Council tinha como objetivo promover a cultura e a filosofia britânicas no exterior em um momento de instabilidade política. A construção do muro de Berlim, em 1961, e a crise dos mísseis cubanos, em 1962, sinalizaram o aumento da tensão internacional e as esculturas humanistas e orgânicas de Moore se tornaram recipientes para o conteúdo ideológico da diplomacia da Guerra Fria. Isso estabeleceu uma reputação particular para o trabalho do escultor. Ele tinha um relacionamento de longa data com a Alemanha, que, na década de 1960, era economicamente próspera. Na reconstrução de cidades bombardeadas durante a guerra, as autoridades queriam comprar esculturas que contrastavam diretamente com os objetivos do regime nazista e seus monumentos nacional-socialistas. O artista empreendeu uma sucessão de grandes projetos no país. Razões semelhantes recomendaram suas esculturas à América, que estava passando por um renascimento da arte pública e por lá suas obras se tornaram ícones desejáveis da cultura moderna.
Moore apareceu regularmente na imprensa e na mídia. Sua personalidade – amigável, despretensiosa e prática – o tornou querido por um grande público. A fotografia, muitas vezes tirada do artista em casa ou no estúdio, desempenhou um papel significativo na criação dessa persona.
GRAVURAS E DESENHOS – UMA EXPLOSÃO DE CORES

Multicoloured Reclining Figure, 1967. Foto: Michael Phipps. © Henry Moore Foundation.

Two Seated Women, 1967. Foto: Michael Phipps. © Henry Moore Foundation.

Three Standing Figures, 1966. Foto: Michael Phipps. © Henry Moore Foundation.
Moore foi um desenhista inovador que produziu milhares de desenhos durante a carreira. No início, o desenho tinha sido um meio de aprender, responder à inspiração externa, registrar e, principalmente, uma maneira de desenvolver ideias para a escultura. Na década de 1960, seus desenhos não tinham relação direta com seu processo escultórico. À medida que a agenda de exposições e encomendas se intensificava, ele aproveitou a oportunidade para explorar ideias expressivas livres de uma preocupação com sua realização escultural.
Moore havia experimentado regularmente várias técnicas utilizando diferentes combinações de lápis, caneta e tinta, giz, giz de cera e aquarela, que ele raspava e rabiscava enquanto investigava novos efeitos. Na década de 1960, ele foi um dos primeiros a adotar a caneta com ponta de feltro recém-inventada. Não considerado um meio de artista, “abraçou” a cor artificial brilhante e a velocidade e densidade com que poderia aplicá-la.
Criou um extenso corpo de gravuras contendo ideias abundantes. Como sua escultura, elas eram muitas vezes altamente abstratas, mas aqui está o resultado de seu prazer por efeitos gráficos.
Essa exposição apresentará esculturas, desenhos, gráficos raramente vistos e uma riqueza de material de arquivo extraído inteiramente da coleção da Fundação Henry Moore para iluminar a inovação de um artista na casa dos sessenta (anos), mas no auge de seus poderes.
Hannah Higham é Curadora Sênior de
Coleções e Pesquisa na Fundação
Henry Moore.
HENRY MOORE: THE SIXTIES • HENRY
MOORE STUDIOS & GARDEN •
REINO UNIDO • 1/4 A 30/10/2022

