Castelo sobre uma rocha I, 1900. © Andri Stadler, Lucerna.

DASARTES 108 /

HANS EMMENEGGER

ARTISTA DE GRANDE ORIGINALIDADE, TANTO NA ESCOLHA DOS TEMAS COMO NA OUSADIA DE SUAS COMPOSIÇÕES, HANS EMMENEGGER É HOJE CONSIDERADO UM DOS MAIS IMPORTANTES PINTORES SUÍÇOS DE SUA ÉPOCA

Castelo sobre uma rocha I, 1900. © Andri Stadler, Lucerna.

Apreciado por um grupo de especialistas, mas pouco conhecido pelo grande público fora de seu país, o artista Hans Emmeggener foi um dos pioneiros da arte moderna em sua Suíça natal no início do século 20. Uma ampla retrospectiva na Fundation de l’Hermitage, em Lucerna, de 25 de junho até 31 de outubro de 2021, apresenta grande parte da obra do artista.

Emmenegger estudou arte em Lucerna e em vários ateliês em Paris e Munique, onde foi também introduzido no estudo de gravura. Numerosas outras viagens pela Europa e África enriqueceram seu conhecimento sobre as diferentes técnicas das artes plásticas e ampliaram seus contatos com outros artistas e com diferentes culturas.

A Fundation de l’Hermitage mostra, em uma retrospectiva com cerca de 100 obras, o percurso artístico de Emmenegger, apontando não só sua aproximação com a cena alemã, como ainda sua evolução até um olhar especial e uma linguagem artística própria, mais madura e consciente.

Começando seu percurso com pintura de paisagem e de natureza morta, foi influenciado ainda pela Art noveau, pelo impressionismo e pelo simbolismo de outros artistas, como o pintor conterrâneo Arnold Böcklin.

Interior da floresta, 1933.

Pintor, desenhista, gravurista, o artista foi se libertando aos poucos das influências em que estava inserido, definindo seu estilo e linguagem. No começo do século 20, destruiu parte do trabalho anterior e se concentrou na criação do movimento na tela, engendrando uma particular arquitetura de composição que se aproxima da fotografia de movimento, ou de uma energia cinética. Testou ainda novos e singulares temas, destacando-o pelo resultado inusitado, com composições estilizadas e pouco conhecidas para sua época.

Luz e sombra, reflexo e movimento são os novos experimentos de Emmenegger, em telas onde uma natureza mais abandonada, melancólica e solitária passa a ser retratada. Pedaços de um tronco de árvore, um trecho de chão com neve derretida, uma colina quase desnuda e outras cenas nada espetaculares ou idealizadas e sem horizontes assumem o centro de sua atenção. Um canto de casa com uns poucos vasos de flores, alguns peixes, as sombras de algumas árvores, o reflexo da água em uma poça, manchas de sol refletido, contrastes decorativos e efeitos de luz, sombra e cor passam a ser retratados pelo artista e se transformam em protagonistas da tela.

Além da dedicação e amor ao trabalho artístico, seu engajamento político foi intenso e abrangente, tornando-se integrante da sociedade artística suíça em Lucerna e, posteriormente, seu presidente. Participou também como júri de múltiplas exposições, destacando-o ainda por apresentar ou refletir inúmeras facetas em sua obra, reflexo de seus incontáveis contatos e influências.

Pasto ensolarado , 1904. © Andri Stadler, Lucerna.

Últimos raios de sol no Sustenspitz. @ Andri Sadler, Lucerna.

Além da arte e da política, foi um colecionador apaixonado. Cultivou uma grande paixão pela filatelia, ampliando compras e vendas de selos, o que, mais tarde, o levou a muitos problemas financeiros. Colecionou ainda obras de outros artistas. Dedicou-se também colecionar fotografias, minerais e fósseis.

No início dos anos 1920, o artista começou a anotar informações importantes sobre o processo de desenvolvimento de sua técnica, transformando-as em um diário do artista em processo de trabalho. Repleto de análise das próprias obras, registrou também suas dúvidas, sucesso e fracasso tecnológico. O diário do artista pode ser também apreciado na retrospectiva.

Laranjas, 1911. @ Andri Sadler, Lucerna.

Por trás dos estudos de movimento e técnicas de desenho e pintura está o objetivo de Emmenegger: registrar a impressão natural do tema retratado no trabalho artístico.

Curado por Sylvie Wuhrmann, diretora da Fundation de l’Hermitage, e por Corinne Currat, curadora associada da Fundation de l’Hermitage, a retrospectiva apresenta, em paralelo, obras de artistas mentores, artistas contemporâneos e amigos de Emmenegger. Além desses, completam a exposição alguns trabalhos de artistas cujas propostas foram influenciadas por Emmenegger. E, no último andar do prédio, são apresentados trabalhos fotográficos de estudantes da Escola de Arte de Lucerna.

Derretimento de neve , 1908-1909. © Andri Stadler, Lucerna.

Reflexo na água ou Pequeno barco a vapor refletindo na água, 1909.

Troncos de faias, 1938 © Andri Stadler, Lucerna.

Temas singulares, como ruínas, ciprestes, desertos de cores atenuadas e suaves, além de contrastes de claro e escuro, um trabalho que mostra seu interesse por uma singular beleza.

Maria Teresa Santoro Dörrenberg vive em Colônia,
Alemanha, é escritora, curadora e pesquisa o corpo na arte,
nas mídias e tecnologias contemporâneas.

MICHAEL ARMITAGE: PARADISE EDICT •
ROYAL ACADEMY OF ARTS • LONDRES • 22/5 A 19/9/2021

 

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