
Nebel Leben, 2022 Haus der Kunst. Foto: Andrea Rossetti
“O nevoeiro torna as coisas visíveis invisíveis, enquanto
as coisas invisíveis – como o vento – tornam-se visíveis.”
Fujiko Nakaya
A artista e escultora Fujiko Nakaya (1933, Sapporo, Japão) está sendo homenageada na Haus der Kunst, em Munique, com a primeira retrospectiva abrangente fora do Japão.
Dependendo da temperatura, vento e atmosfera, as esculturas de névoa de Nakaya mudam a cada momento, criando instalações temporárias e ilimitadas que se conectam fisicamente com o público. Estas obras efêmeras envolvem o espectador e o colocam em uma conexão desorientadora e transcendente com o ambiente. Inspirada desde cedo pela crescente consciência ecológica, Nakaya sempre trabalhou com água e ar – elementos que, entretanto, ganharam particular importância em função da crise climática.
Fujiko Nakaya ficou conhecida como membro do coletivo Experiments in Arts and Technology (EAT), fundado por Robert Rauschenberg e Billy Klüver na década de 1970, e ganhou fama internacional por seus trabalhos de arte em névoa com mais de 90 instalações e performances. Ela colaborou com artistas de vários gêneros, desde arquitetura, música, dança e luz, para ilustrar a natureza eclética do nevoeiro. Das primeiras pinturas raramente exibidas às esculturas de neblina, incluindo dois trabalhos site-specific criados especialmente para a Haus der Kunst, por meio de seus vídeos, instalações e documentários de canal único, esta exposição imersiva oferece uma visão abrangente do trabalho de um dos principais nomes do Japão.
Munich Fog (Fogfall) #10865/II, a escultura ao ar livre no lado leste do museu, e Munich Fog (Wave) #10865/I são novos trabalhos desenvolvidos para a exposição. Eles são concebidos como uma performance na qual o nevoeiro, o espaço e o público participam. Na obra de Nakaya, a água é um elemento escultórico e uma metáfora para processos temporais sem fim, a fim de vincular realidades materiais e ilusões geradas pela mídia. A abordagem interdisciplinar da artista também se reflete nos títulos de seus trabalhos de neblina: a combinação de números neles indicados se refere à estação meteorológica mais próxima, cujos dados influenciam o planejamento da respectiva instalação.

Munich Fog (Fogfall) #10865/II. Haus der Kunst. Foto: Andrea Rossetti.

Fog Environment
#47660, Children’s Park,
Showa Kinen Park, Tachikawa,
Tokyo Japan, 1992
Uma sala inteira localiza o trabalho de Nakaya em um multiverso de eventos históricos. É dedicada à sua consciência ambiental precoce e ao desenvolvimento de seu trabalho, que aborda aspectos dos movimentos artísticos do leste asiático e ocidental. A galeria do andar superior aprofunda a contextualização de seu trabalho e mostra uma seleção de filmes de ciências educacionais da produtora lwanami, pioneira produtora fundada pelo pai da artista, o físico Ukichiro Nakaya, considerado o criador dos primeiros flocos de neve artificiais. Além de suas primeiras pinturas e esboços, também podem ser vistos documentos que dão uma visão de sua pesquisa e que influenciaram significativamente sua abordagem sobre o mundo, sua matéria e midiatização.
As pinturas e os desenhos de Nakaya testemunham um modo de ver que se caracteriza pela observação cientificamente precisa. Para a artista, a observação é o princípio básico tanto da arte quanto da ciência. As pinturas lembram paisagens abstratas e remetem ao seu interesse pelos processos cíclicos de decadência e surgimento de uma nova vida. As nuvens pintadas e as formas biomórficas formam uma conexão essencial com a prática de imagens em movimento de Nakaya e suas esculturas de névoa.

Cloud Series, 1964.
A observação detalhada de fenômenos naturais e gestos aparentemente pequenos e cotidianos desempenham um papel central em seu trabalho. Seus vídeos geralmente contêm gravações em tempo real e se assemelham a experimentos que desafiam nossos padrões de percepção. Nakaya utilizou o vídeo como meio de comunicação mais direta, por sua documentação subjetiva e analítica. Além de videoesculturas e instalações, ela realizou vários “projetos de comunicação”, nos quais entrevistou grupos socialmente engajados e documentou seu trabalho. Nakaya cofundou o coletivo de artistas Video Hiroba e abriu a SCAN, em 1980, a primeira galeria de vídeo do Japão.

Nebel Leben, 2022. Haus der Kunst. Foto: Andrea Rossetti.

Maldives Fog, Maldives, 2012. Courtesy of The Japan Foundation.

Fogscape #03238, Fujiko Nakaya in collaboration with Simon Corder, Durham, 2015. © Foto: Simon Corder.

Fog x Flo, Franklin Park Boston, 2018. Courtesy of the Emerald Necklace Conservancy. Foto: Melissa Ostrow
Fujiko Nakaya é uma artista visionária, cujo trabalho não é apenas impulsionado pela consciência ecológica, mas também difere das tradições estabelecidas em escultura do leste asiático e ocidental. A história de seu tempo ressoa em sua obra, sem se subordinar aos movimentos Gutai, Mono-Ha ou às correntes europeias e norte-americanas de antiforma, poema/processo e pós-minimalismo. Seu trabalho borra as linhas entre ciência, arte e tecnologia e nos convida a repensar a relação entre humanos e meio ambiente por meio da experiência física direta.
A abordagem especial da artista a temas como natureza, ciência e coincidência se concentram nas questões prementes da sociedade atual, como sustentabilidade, inclusão, ciência e natureza.
Ampliam a exposição um programa de filmes da Iwanami, de seu pai, que que humildemente defendeu um diálogo entre natureza e cultura e muito a inspirou. O programa de dez filmes representa uma jornada única no cenário pós-guerra do Japão.
Andrea Lissoni é curador e
diretor do Haus der Kunst.
FUJIKO NAKAYA: NEBEL LEBEN
• HAUS DER KUNST • MUNIQUE
• ALEMANHA • 8/4 A 31/7/2022


