(Pavilhão Islândia) Chromo Sapiens - Hrafnhildur Arnardóttir / Shoplifter. Foto: Andrea Avezzù.

DASARTES 85 /

58ª Bienal de Veneza

May You Live in Interesting Times (Que você viva em tempos interessantes) é o tema da 58ª BIENAL DE VENEZA que reúne 79 artistas que dão vida ao pluralismo de vozes típico da bienal. Acompanhe a autora Constança Basto por todos os circuitos e os destaques desta edição que reflete sobre como a arte pode funcionar numa era de mentiras, desconfiança, falsidade e histórias inventadas

A 58th Bienal de Veneza, intitulada May You Live in Interesting Times (Que você viva em tempos interessantes), inaugurou no dia 11 de maio com a curadoria de Ralph Rugoff e poderá ser vista até o dia 24 de novembro.

Ralph é jornalista de formação, nascido em Nova York. Hoje dirige a Haywarth’s Gallery, em Londres.

Para essa Bienal, selecionou 79 artistas, todos vivos, e focou em trabalhos que foram produzidos recentemente e estão engajados com as questões do momento e as infinitas possibilidades de encará-los. Ao todo no evento, são 90 participações nacionais dando vida ao pluralismo de vozes típico da Bienal, além de 21 eventos colaterais.

(Pavilhão Austria) Renate Bertlmann, Discordo Ergo Sum.
Foto: Francesco Galli.

Este ano, vários países participam pela primeira vez, como Gana, Madagascar, Malásia e Paquistão.

Para o título da sua mostra, Ralph Rugoff escolheu um curioso provérbio ou maldição chinesa fictícia. A frase May you live in interesting times teve sua origem atribuída aos chineses, mas se descobriu que ela foi inventada e nunca existiu ou foi usada de fato na China.

Rugoff achou muito pertinente usá-la como título da sua mostra. Segundo ele, “parece perfeita como título para uma exposição que, ao menos em parte, reflete sobre como a arte pode funcionar numa era de mentiras, desconfiança, falsidade e histórias inventadas.”

Ao mesmo tempo, o curador afirma esperar que a arte possa ir além e nos dar ferramentas para imaginarmos novas possibilidades e cenários para esses tempos interessantes em que vivemos.

(Pavilhão Gana) Ghana Freedom
Foto: Italo Rondinella

O curador escolheu um formato de mostra organizada em duas apresentações e exposições separadas: Proposição A (Arsenale) e Proposição B (Giardini).

Ambas as Proposições incluem todos os artistas, que exibem propostas diferentes de trabalhos para cada local. O que mais interessava ao curador com esse formato era dar destaque à prática multifacetada dos artistas, muito mais que mostrar trabalhos isolados.

São abordados temas que vão desde a aceleração das mudanças climáticas ao ressurgimento do nacionalismo ao redor do mundo; do fantástico mundo da realidade virtual à violência dos jogos de computador; do impacto causado pelas mídias sociais ao crescimento das disparidades sociais e econômicas; das questões ecológicas às questões sobre diversidade cultural, física e de gênero.

A mostra dá destaque a obras que desafiam os hábitos e as formas existentes de pensamentos e possibilita, com objetos e imagens variados, com cenários e situações diferentes, uma abertura para novas leituras do presente. “De uma forma indireta talvez esses trabalhos possam até servir como um tipo de guia de como viver e pensar em tempos interessantes”, pondera Rugoff.

Ralph focou em artistas mais jovens e convidou artistas de diversas etnias, gêneros e pontos de vista. Ao menos 50% dos artistas, este ano, são mulheres.

Obra de Andra
Ursuta

A arte deve ter o papel de catalisadora que convida e incita ao diálogo. Rugoff busca com sua mostra acolher não só a presença do público, mas suas interpretações e engajamento crítico e seus pontos de vista sobre tantos assuntos urgentes.

“É fundamental que aprendamos a apreciar a diferença em vez de evitá-la ou ficar assustados por ela. Em uma sociedade onde tudo o que não é perfeito causa desconforto, é importante aprender a valorizar nossas diferenças, cicatrizes e imperfeições.”

Rugoff não queria uma Bienal política no senso partidário da palavra, mas acha fundamental que a arte exposta seja fruto de um pensamento crítico, complexo e muitas vezes político.

QUE VOCÊ VIVA EM TEMPOS INTERESSANTES

Veneza este ano estava muito mais cheia de visitantes que o normal, com as filas intermináveis para visitar cada pavilhão e uma grande agitação tanto nos Giardini, quanto no Arsenale.

Essa Bienal tinha um clima diferente da última, bem mais sombrio já na chegada, além do clima de inverno verdadeiro que assolou Veneza nessa semana, em plena primavera.

É uma mostra intrigante, repleta de obras e artistas novos. Percebemos a presença sempre mais impactante da tecnologia como protagonista. Vemos o uso de robôs, inteligência artificial, biotecnologia em tantas obras e a discussão sempre mais em pauta acerca da maneira como nos comunicamos, informamo-nos e nos conectamos ao outro hoje.

Pavilhão Grécia) Panos
Charalambous, A Wild Eagle
was Standing Proud.
Foto: Francesco Galli.

Como trabalhos apresentados, por um lado, vimos o retorno da pintura com força total e, por outro, uma imensa quantidade de vídeos, filmes, fotografias e trabalhos espaciais e de arte digital.

Começamos nossa visita pelo Pavilhão Central nos Giardini intitulado: Proposição B. Logo na chegada, antes de entrarmos, somos surpreendidos pelo trabalho de Lara Favaretto, uma das duas artistas italianas convidadas a participar do Pavilhão internacional da Bienal. Seu trabalho, intitulado Thinking Head, envolve o pavilhão com nuvens de neblina escondendo muitas vezes o edifício e seu nome. Provoca certa insegurança e faz pensar sobre a intenção de ocultar, abafar, calar, camuflar, dissimular, encobrir tantas verdades urgentes que preferimos não ver. Claramente, essa é uma das questões que serão discutidas nessa Bienal.

Ao entrar no Pavilhão Central, caminhamos por um corredor de tubos fluorescentes brilhantes de led que nos desorienta completamente e incomoda a retina, como o trabalho Spectra III, do artista japonês Ryoji Ikeda.

Ryoji Ikeda, Data Verse-1

O segundo trabalho do mesmo artista, apresentado no Arsenale, foi um dos melhores da Bienal, na minha opinião, e se chama Data Verse-1, uma instalação gigantesca multissensorial com informações sobre o sistema nervoso associado ao sistema solar. As imagens são provenientes do CERN, da NASA e do Projeto Genoma Humano e foram transformadas por efeitos de programação em paisagens majestosas de padrões em cascata.

A trilha sonora de Ikeda gera emoção com sons associados a instrumentos de medição, um zumbido semelhante a um sonar, o bipe de um monitor cardíaco. Do macroscópico ao microscópico, Ikeda fala de um universo em que tudo, mais cedo ou mais tarde, está destinado a se tornar código de computação, e no qual o ser humano tem sempre mais dificuldade em se orientar. Difícil descrever a sensação mas, sem dúvida, um dos pontos altos da mostra.

Na sala ao lado, vemos uma enigmática montagem escultórica de Nairy Baghramian, acompanhada por pinturas de figuras expressivas de George Condo e Henry Taylor e as abstrações caligráficas de Julie Mehretu.

A artista Nairy Baghramian apresenta no Arsenale sua segunda obra, Dwindle Down, que se funde com a estrutura da construção e, muitas vezes, passa despercebida, sendo um trabalho belíssimo e muito elogiado.

Pinturas de Njideka Akunyili Crosby e esculturas de Carol Bove

Vemos a seguir densas pinturas de figuras em interiores de Njideka Akunyili Crosby, junto com esculturas de aço de Carol Bove, pinturas de Avery Singer e fotografias de Anthony Hernandez.

Aparecem muitas parcerias e trabalhos feitos em conjunto nessa Bienal. Os artistas Sun Yuan e Peng Yu, por exemplo, criaram juntos o trabalho Can’t Help Myself, um pincel robótico, que hipnotiza o público com seus golpes obsessivos: escova, bate, varre, empurra e arrasta um lago do que parece, em um primeiro momento, sangue, mas não é. Muito impressionante e até assustador pela dimensão e pela violência dos golpes.

A segunda obra da dupla vista no Arsenale é uma mangueira pneumática enorme presa a uma poltrona de mármore feita como o monumento em Washington de Abraham Lincoln, que intermitentemente se agita, sacolejando e dando golpes provavelmente mortais em uma vitrine de vidro que protege o público.

PAVILHÕES NACIONAIS IMPERDÍVEIS NOS GIARDINI

Pavilhão Brasil) Barbara Wagner e Benjamin de Burca, Swinguerra. (Still)

O Pavilhão Brasileiro estava de tirar o chapéu com o trabalho fruto da parceria de Barbara Wagner e Benjamin de Burca. Deu orgulho ver o trabalho de artistas brasileiros brilhando na Bienal. Muito comentado, Swinguerra, com curadoria de Gabriel Pérez-Barreiro, é uma videoinstalação de tela dupla que reúne um conjunto de imagens em vídeo e uma seleção de retratos dos participantes do trabalho.

Swinguerra tira seu título da swingueira, um movimento de competições de dança popular no Recife, fundido com a palavra guerra. O trabalho de Barbara & Benjamin fornece uma visão profunda e empática da cultura brasileira contemporânea em um momento de tensão política e social significativa. Em comum com seus filmes anteriores, os artistas trabalham lado a lado com seus sujeitos em uma relação horizontal e respeitosa de colaboração, compartilhando uma compreensão das complexidades da autorrepresentação e da consciência contemporâneas.

Outro pavilhão muito comentado foi o da Suíça. A dança aqui também foi o tema do pavilhão, onde outra dupla, Pauline Boudry e Renate Lorenz, dança no cinema com vários colaboradores. O público aqui é convidado a participar em uma pista em frente à tela.

(Pavilhão Polônia)
Obra de Roman Stanczak

O Pavilhão da França, da artista Laure Prouvost, faz uma homenagem ao mar e mistura performance, vídeo e escultura em um único trabalho. O pilar da obra Vois ce Bleu Profond te Fondre é um filme fictício que se transforma em experiência e o pavilhão inteiro é uma instalação escultórica, que expõe oceanos de vidro, canções de ópera e artistas que performam ao vivo. É um dos pavilhões mais visitados.

No Pavilhão da Polônia, vemos um avião de verdade virado pelo avesso. O artista Roman Stańczak colocou as asas no interior e fixou os assentos no exterior da fuselagem.

No Pavilhão dos EUA, vemos o trabalho do artista Martin Puryear: Liberty/Libertá, que inclui esculturas e uma instalação site specific na entrada do pavilhão.

Christoph Büchel, Barca Nostra

Um dos pavilhões ganhadores de menção especial foi o da Bélgica, Mondo Cane. Outra dupla de artistas, Jos de Gruyter e Harald Thys, encheu o pavilhão de figuras robotizadas que reproduzem seres vivos e outras figuras folclóricas. Vemos tecelãs folclóricas, um padeiro sovando sua massa, um pianista, um mendigo tremendo de frio e outros personagens variados com seus sombrios movimentos mecânicos. Alguns estão trancados atrás das grades, e sentimos como se o próprio país fosse um asilo do século 19. Apesar do exterior infantil desses bonecos robôs, claramente se fala das crises existenciais que atingem a Europa ocidental hoje.

No pavilhão da Grécia vemos, entre outros, o trabalho imperdível do artista Panos Charalambous, A Wild Eagle was Standing Proud, 2018-19, uma instalação feita de copos de vidro, onde os visitantes podem experimentar a sensação de caminhar sobre vidro.

O pavilhão da Venezuela, pela primeira vez, permaneceu fechado durante a semana de inauguração da Bienal, claramente devido às crises duradouras no país. Foi finalmente inaugurado em seguida, com um atraso de duas semanas.

Pavilhão Bélgica) Jos de
Gruyter e Harald Thys, Mondo Cane

ARSENALE

Na chegada ao Arsenale, somos recebidos pela série impactante de fotos noturnas Angst, de Soham Gupta, um jovem fotógrafo indiano. As fotos do povo que vive nos arredores de Calcutá nos afetam profundamente, seja na proposta em preto e branco no Giardini ou em cores no Arsenale. Difícil esquecer os olhares penetrantes.

A Bienal está lotada de videoinstalações.

(Pavilhão Arábia Saudita)
Zahrah Al Ghamdi, After Ilusion.
Foto: Lucio Salvatore

As projeções de Kahlil Joseph, com o BLKNWS, uma colagem cinematográfica usando imagens originais e encontradas, são um ponto alto da Bienal. O BLKNWS é um canal de notícias falando da vida da população afrodescendente na América, exposto em duas telas simultaneamente, com imagens de arquivo de Malcolm X e Miles Davis e outros importantes pensadores afro-americanos em eventos públicos, acompanhados de diferentes trilhas sonoras. Bárbaro! Por outro lado, Jon Rafman criou filmes no estilo de videogames. Ele apresenta no Arsenale um filme que é um fluxo de absurdos. E, no Giardini, mostra uma espécie de videogame/filme com grupos de manequins sem rosto, que são repetidamente esmagados e brutalmente destruídos e abusados.

O filme de Arthur Jafa, The White Album, uma videomontagem de 40 minutos, que mostra pessoas brancas examinando a cultura e experiência negras através de um olhar extremamente racista, cheio de ódio e terror, é tremendamente assustador. Mexe muito com o espetador com cenas duras, cruéis e reais do que acontece hoje à luz do dia e muitas vezes não sabemos, nem vemos. Deixa um gosto amargo na boca e uma impressão bastante pessimista e triste com relação ao caminho que as coisas estão tomando no mundo. Jafa ganhou o Leão de Ouro de melhor artista na bienal.

Continuando a andada, entramos em uma instalação sonora For, in your tongue, I cannot fit, de Shilpa Gupta com cem autofalantes, microfones e poesias/textos estampados e presos por pregos gigantes. O trabalho afronta a violência da censura através de uma sinfonia de vozes que declamam ou cantam em diversas línguas os versos de cem poetas presos por suas obras ou por suas posições políticas, do século 7.º aos dias de hoje.

Vemos esculturas de todas as dimensões espalhadas pelo caminho: uma série de Cameron Jamie, Smiling Faces; as formas geométricas gigantes de Liu Wei, Microworld; as cadeiras de Michael & Smith; o trabalho de Lara Favaretto, e as esculturas de Jimmie Durham, o ganhador do Leão de Ouro desse ano por sua carreira.

Jimmie Durham, Brown Bear, 2017. Foto: Nick Ash.
Vencedor do Leão de Ouro Lifetime Achievement

Há muitos retratos fotográficos na Bienal deste ano também: o trabalho de Mari Katayama, que exibe suas deficiências em fotos sensuais; os autorretratos de Zanele Muholi – que são imagens imensas em papel de parede e têm uma presença imponente no Arsenale, onde nosso olhar encontra o dela repetidamente.

Outro ponto muito discutido foi o trabalho intitulado Barca Nostra, de Christoph Büchel, que trata abertamente do drama dos refugiados no Mediterrâneo. Ele expõe em pleno Arsenale o barco de pesca, que afundou em 2015 e levou consigo 1.100 vidas de migrantes que tentavam chegar a Lampedusa, na Itália. Esse trabalho, se é que podemos chamar assim, causou tremendo mau-estar e muita controvérsia, e não à toa, pois me parece de muito mau gosto expor um símbolo da tragédia humana e perda de tantas vidas como arte em uma Bienal para acabar servindo de fundo para tantas selfies.

Adorei e queria mencionar os trabalhos da artista Alexandra Bircken, tanto no Arsenale, onde vemos a instalação Eskalation com o que parece ser homens de borracha pendurados em escadas, quanto no Giardini, onde mostra várias propostas bem distintas e práticas muito diferentes, sempre com um olhar atento a temas e discussões pertinentes.

É intrigante a instalação Biologizing the Machine (Tentacular Trouble), da coreana Anicka Yi, que esconde moscas robóticas que se movem dentro de suas esculturas biomórficas incandescentes, presas no teto circundadas por crateras de líquidos.

Renate Bertlmann_Let´s Dance Together, 1978.
© Renate Bertlmann_Bildrecht Wien

Alguns pavilhões nacionais localizados no Arsenale que valem a visita: o primeiro Pavilhão de Gana é extremamente forte e foi considerado um dos melhores da Bienal esse ano. Apresenta pinturas de Lynette Yiadom-Boakye, filmes de John Akomfrah, tapeçarias cintilantes e majestosas de El Anatsui feitas de tampas de garrafas e placas de alumínio, de uma beleza fascinante e retratos em preto-e-branco da década de 1960 de Felicia Abban, a primeira fotógrafa profissional de Gana, e o trabalho do artista Ibrahim Mahama.

O pavilhão da Arábia Saudita, intitulado After Illusion, aparentemente é um mergulho em uma paisagem subaquática fabulosa. Ao tocarmos os objetos de aparência familiar, descobrimos que não são tão naturais quanto parecem. Na verdade, Zahrah Al Ghamdi fez os objetos que parecem ouriços com pedaços de couro cozido, como vemos em um documentário que faz parte do pavilhão.

No pavilhão indiano, uma das obras, Covering Letter, é uma projeção em tela de neblina branca com um vídeo em preto-e-branco de Jitish Kallat. A projeção apresenta a carta histórica de Mahatma Gandhi escrita a Adolf Hitler em 23 de julho de 1939, apenas algumas semanas antes do início da Segunda Guerra Mundial. No espírito da doutrina da amizade universal de Gandhi, sua carta começa com a saudação “Caro amigo…” e oferece um apelo apaixonado a Hitler para que busque a paz e não a guerra. Na instalação de Kallat, o movimento do corpo que passa pelo nevoeiro difunde o texto de Gandhi, ecoando o destino de um pedido que foi claramente ignorado.

Entramos em um verdadeiro labirinto, no tão falado e esperado Pavilhão Italiano, com curadoria de Milovan Farronato. Como já sugeria o nome Neither nor: the challenge to the Labyrinth, podemos nos perder de fato e o desafio é descobrir as obras, por vezes ocultas, de Enrico David, Chiara Fumai e Liliana Moro. Ao acaso, podemos dar a sorte de descobrir, em meio ao labirinto, a área de descanso, projetada com um clima de praia italiana e lá ouvir várias interpretações da música folclórica e “partigiana” italiana “Bella Ciao”.

(Pavilhão Índia) Jitish Kallat, Covering Letter

O prêmio deste ano de Melhor Pavilhão foi atribuído à Lituânia, que fica fora do Arsenale e apresenta a obra Sun & Sea (Marina), dos artistas Lina Lapelyte, Vaiva Grainyte e Rugile Barzdziukaite. A instalação imersiva consiste em uma praia artificial criada no interior de um depósito naval. O trabalho é uma performance sobre mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, é também uma ópera de quase uma hora de duração sobre um dia na praia cantado pelos turistas. O canto mais parece um lamento triste pela natureza que está morrendo nas nossas mãos, com nossas atitudes e posturas irresponsáveis. Trabalho forte e muito pertinente.

Chega ao fim a visita a mais uma bienal e, certamente, sentimos que o que vimos fez jus ao título May You Live in Interesting Times, mapeando as preocupações contemporâneas com uma urgência perceptível.

(Pavilhão da França) Laure Prouvost, Vois ce Bleu Profond te Fondre.

Pensamos sempre mais o quanto é necessário e inadiável discutir, aprofundar-se e, eventualmente, começar a entender quão complexa é a realidade do presente. Devemos refletir sobre o nosso papel de agentes criadores dessa realidade e como esse papel fundamental é capaz de influenciar o curso dos acontecimentos.

Percebemos o ambiente artístico se tornando sempre mais um lugar de verdadeira reflexão, aprendizado e crescimento individual e coletivo através das mensagens profundas que vemos em tantas obras realmente impactantes. É um programa urgente, necessário e imperdível!

 

La Biennale di Veneza • Giardini e Arsenale • Veneza • 11/5 a 24/11/2019

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