O corpo vulnerado, que chega às livrarias pela editora Cobogó, reúne ensaios de Maria Angélica Melendi, um dos principais nomes da reflexão teórica e crítica das artes visuais latino-americanas. No livro, a acadêmica e pesquisadora aborda a produção artística na América do Sul que coloca o corpo em evidência, seja mostrando sua face vulnerada pelas violências e opressões históricas, seja como resistência, força de invenção ou fabulação.
Se, em seu livro anterior, Estratégias da arte em uma era de catástrofes (Cobogó, 2017), a autora articula a produção artística contemporânea, principalmente, com as noções de arquivo e memória, aqui, “as questões do corpo emergem e ganham espaço como um núcleo aglutinador de ideias”, como observa o organizador da edição, Eduardo de Jesus: “O corpo insiste e, de alguma forma, resiste em sua reinvenção no mundo da arte”. Ao “pensar o Sul como um estado de corpo”, em vez de um “estado de espírito”, a autora apresenta uma visão densa e instigante das relações contemporâneas entre arte e política.
O livro é dividido em quatro partes: “O corpo político e a impossibilidade de sua imagem”, que trata de corpos ausentes e torturados, capazes de resistir à violência porque habitam a arte; “Outros corpos: Subjetividade, política e arte”, que fala das questões de gênero e subjetividade no contexto latino-americano; “Dimensões do sagrado”, que traz reflexões sobre o sagrado e a espiritualidade das religiões no contexto latino-americano; e, por fim, “Trânsitos políticos na arte”, que se dedica a textos monográficos sobre artistas, focados na análise de obras.
O conjunto abarca as radicais performances de Las Yeguas del Apocalipsis, os bordados de Arthur Bispo, Feliciano Centurión e Leonilson, a relação de Oiticica com os marginais e as cidades expressos em suas obras, as questões políticas do feminino em obras de Anna Bella Geiger, Lygia Pape e Lygia Clark no contexto da ditadura militar no Brasil, a obra-instalação #rioutópico de Rosangela Rennó, a obra de Paulo Nazareth, entre outros.
O livro contou com o patrocínio da Fundação Municipal de Cultura através da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte – Fundo de projetos culturais – Edital 2020.
Trechos
“‘Vulnus’, do latim, significa ferida, mas também uma ofensa capaz de desestabilizar princípios ou normas. Por isso podemos pensar em corpos feridos, mas também em corpos que estão sempre à beira do colapso, instáveis, desassossegados, interrompidos, fragmentados: sempre à procura de espelhos onde se refletir, mas sempre, também, encontrando-os despedaçados. O corpo vulnerado é o corpo de quem já nasceu sendo arrastado e arrastando exílios.”
“Com essas menções, quero trazer para o presente do corpo as memórias de outros tempos e fundi-las com as destes: memórias minhas, alheias, apreendidas, roubadas ou inventadas… Memórias que estão marcadas no corpo como cicatrizes abertas. Feridas que muitas vezes não recebemos, mas que, de alguma maneira, nos lastimam. Nossos corpos ao Sul sabem disso e, mesmo que muitos o esqueçam ou o neguem, a carne e o sangue lembram.”
Ficha Técnica:
Título: O corpo vulnerado
Autora: Maria Angélica Melendi
Organizador: Eduardo de Jesus
Projeto gráfico: Flávia Castanheira
Número de páginas: 344 p
ISBN: 9786556911342
Encadernação: Brochura
Formato: 13,8 x 21 cm
Preço: R$ 90,00
Editora: Cobogó