No dia 3 de setembro (sábado), às 11h, o artista visual Eustáquio Neves lança o livro Aberto pela Aduana, no Museu Afro Brasil (MAB), em uma conversa com o público sobre sua trajetória, seu processo de trabalho e a concepção do volume, dentro da programação Encontro com Artista. A obra, que começou como um livro de artista integrante do acervo do MAB, agora ganha tiragem editorial viabilizada pelo Rumos Itaú Cultural 2019-2020 e comercializada pela Editora Origem em seu site: https://www.editoraorigem.com.br/product-page/aberto-pela-aduana- eust%C3%A1quio-neves.
O bate-papo é mediado por Joyce Farias, pesquisadora do MAB. De acordo com ela, o encontro promove uma interlocução entre os visitantes e o convidado, com o objetivo de ampliar as possibilidades de apreciação estética do participante, a partir do contato com a obra e com a história do artista.
Com múltiplas narrativas, como em um caderno de anotações ou uma pasta de arquivos pessoais, Aberto pela Aduana é o resultado de dois anos de pesquisa, elaboração conceitual e de técnicas da fotografia analógica, edição de imagens e entendimento do que seria um livro de artista, além de um aprendizado das técnicas da construção de um livro artesanal.
“A ideia desse livro é trazer ao leitor minimamente a experiência que eu tenho ao manusear meus arquivos pessoais e deles resgatar histórias”, conta Eustáquio Neves. “É autobiográfico, fala de mim e das minhas origens e acaba falando para muitas outras pessoas que têm a mesma origem que a minha”, complementa o artista.
A obra surgiu a partir de uma fotografia que estava em um pacote seu vindo da Inglaterra e que foi aberto no Brasil pela aduana. “No que aconteceu isso, não tive dúvida, já pensei em um trabalho. Aberto pela Aduana me remete a essa coisa forte, de se apropriar de um corpo com violência, assim como foi o tráfico negreiro e a escravização”, conta. “É também sobre essas fronteiras, sobre migração. Eu pego referências atuais, como um passaporte já vencido e uso algumas páginas dele. Todos os elementos lembram essa coisa do ir e vir.”
O volume é construído por fotografias, desenhos, colagens. Têm retratos de família, como dos avós e mãe do artista, autorretratos e também imagem de uma moeda, pensando no corpo como mercadoria, por exemplo. Ainda, em algumas páginas avistam-se números e valores, sem regra ou explicação, mas que remetem às práticas escravocratas. O Aberto, que está no título do livro, é lembrado no interior da publicação em dobras e aberturas de páginas, como se fossem envelopes.