Dos três grandes artistas visuais que vieram para o Brasil no início do século XIX, dois são bastante conhecidos – Rugendas e Debret – mas o terceiro só será realmente descoberto agora. A Capivara Editora lança, em dezembro de 2022, o livro Ender e o Brasil, reunindo toda a produção do artista em sua passagem pelo país, em que atuou como verdadeiro correspondente de viagem para a corte austríaca. Com texto de Julio Bandeira, apresentação de Pedro Corrêa do Lago, introdução de Cornelia Reiter, da Academia de Belas-Artes de Viena e biografia de Thomas Ender elaborada por Richard Wagner, antigo diretor da instituição austríaca.
Com esse lançamento, a Capivara completa a série de catálogos raisonnés dos três artistas viajantes de produção mais importante, após Debret e o Brasil (2008, já na sexta edição) e Rugendas e o Brasil (2010, com a terceira edição preparada para 2023).
Além de reunir o conjunto completo de obras de Ender no Brasil, o lançamento da Capivara traz também óleos inéditos, técnica que ele raramente usava. “Mas a grande diferença entre Ender, Debret e Rugendas, e aí está a particularidade dele, é que não foi editado nenhum álbum iconográfico na sua época”, adianta Bandeira. “Ele era como um fotógrafo, artista dos Habsburgos, registrando os lugares por onde passavam. Como Debret e Rugendas publicaram seus livros ainda em vida, se tornaram muito conhecidos. Ender, não”.
Em compensação, os trabalhos foram magnificamente preservados, em suas cores e nuances. “As cores são maravilhosas: ficaram protegidas da luz e da degradação. Um precioso baú do passado se abre quando o Brasil descobre Ender. Recordo a primeira vez que vi uma aquarela de Ender. Perguntei, estarrecido: quem é esse artista? Era como se eu estivesse olhando uma coisa completamente nova.”.
Ender e o Brasil é a materialização de um projeto que, entre a pesquisa e a elaboração do livro, levou mais de dez anos. O livro de 728 páginas apresenta todas as 1.048 imagens brasileiras de Ender. “São sete óleos, 28 aquarelas acabadas – que estavam prontas para serem gravadas -, 989 aquarelas e desenhos e 24 gravuras”, contabiliza Bandeira. Um dos óleos inéditos é uma miniatura espetacular, conta Bandeira: “pequenina e redonda, mostra a igreja do Outeiro da Glória, pintado sobre marfim. A peça ficou na Itália e está lacrada, emoldurada em laca negra de Veneza, com vidro bombado, para dar efeito de ampliação, e tudo leva a crer que ele pintou essa miniatura em 1819 para a irmã de Leopoldina, a ex-Imperatriz dos franceses Maria Luisa, que se tornara duquesa de Parma e estava separada de Napoleão.