Com cores vibrantes, formas ousadas e uma boa dose de ironia, o movimento italiano Alchimia transformou o design em pura expressão de liberdade. Agora, essa revolução visual desembarca em Berlim, onde o Museu Bröhan apresenta uma exposição imersiva dedicada ao grupo que redefiniu o design pós-moderno entre os anos 1976 e 1992. Fundado em Milão por designers, artistas e teóricos como Alessandro Mendini, Ettore Sottsass e Michele De Lucchi, o coletivo propôs uma alternativa radical ao racionalismo funcional da Bauhaus, apostando em objetos “normais e anormais” ao mesmo tempo — peças que circulam entre o cotidiano e o inesperado.
A mostra, concebida em parceria com o ADI Design Museum de Milão, reúne poltronas desconfortáveis, luminárias excêntricas, chaleiras escultóricas e móveis revestidos por padrões gráficos ou laminados coloridos, que mais parecem instalações artísticas do que objetos utilitários. Segundo o curador François Burkhardt, que também assina um extenso catálogo da exposição, Alchimia nasceu do espírito contestador da pós-modernidade, em um contexto histórico marcado por crises políticas e culturais na Itália. Entre referências a Kandinsky e provocações à tradição alemã, o grupo chegou a lançar coleções intituladas com humor: “Bau Haus”.
Mais do que uma vertente estilística, Alchimia encarnou uma filosofia de abundância — estética, intelectual e emocional. Suas vitrines milanesas, replicadas na atual mostra berlinense, funcionam como portais para um universo em que o design se liberta da obrigação de ser útil e se assume como arte em movimento. Como define o manifesto do grupo de 1984, “os objetos de Alchimia habitam o cotidiano e, ao mesmo tempo, transgridem suas regras”. Uma visita à exposição é um convite para redescobrir o prazer lúdico do excesso — e quem sabe, revisitar aquele antigo armário de família com outros olhos.