Tunga recebe resumo histórico de sua produção em Nova York

Tunga e a instalação "True Rouge | FOTO: DanielaPaoliello

Apresentar um resumo histórico da obra de Tunga através de trabalhos criteriosamente selecionados foi o objetivo que conduziu o projeto dessa exposição intitulada Vê-nus; a primeira mostra do artista na galeria Luhring Augustine em Nova Iorque desde sua morte em 2016. Com mais de 60 trabalhos, muitos deles inéditos, a exposição é uma síntese retrospectiva que apresenta as relações e desdobramentos que se metamorfoseiam desde a década de 1970 – Tunga realizou sua primeira individual em 1974 no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio) –, até pouco antes do seu falecimento.

Além do desenho – ao qual se dedicou durante toda sua vida -, sua inquietude artística o levou a outras práticas artísticas e os trabalhos reunidos em Vê-nus revelam a dimensão de seus múltiplos interesses que transitavam livremente por diversas áreas do conhecimento, como arte, literatura, ciência e filosofia, e que se integravam todas no seu singular imaginário erótico. “Essa erudição produtiva, fluída, inclassificável, se expandia e se fixava em cada ideia e de obra a obra. Esse domínio refinado de interesses deu à obra de Tunga um ar precioso, longamente elaborado e destinado à permanência”, observa Paulo Venancio Filho, curador da exposição.

O espaço expositivo apresenta alguns dos momentos mais significativos da trajetória do artista, sem qualquer tipo de hierarquia ou cronologia, fiel ao seu pensamento contínuo, circular, sempre se ampliando mais e mais. Estão presentes desde seus primeiros desenhos abstratos quando era um jovem de menos de vinte anos, passando por Vê-nus, sua intrigante versão do nu da deusa da beleza da antiguidade, pelos importantíssimos Eixos Exógenos onde o perfil feminino recortado de um tronco de madeira joga com a alternância entre figura e fundo, até sua última série de desenhos, From La Voie Humide e as esculturas da série Morfológicas.

Como poucos artistas contemporâneos, Tunga (1952-2016) explorou as mais diversas mídias e materiais, – como imãs, vidro, feltro , borracha, dentes, ossos – impregnando-os de uma estranheza poética, não familiar e, através de sua peculiar prática metamórfica, propunha experiências e práticas artístico/poéticas díspares, heterogêneas e heterodoxas. Seus trabalhos buscam explorar tanto o apelo simbólico e físico dos materiais como sua articulação plástica e poética, e se encontram lado a lado a sua intensa obsessão pelo desenho. Sobretudo, o desenho nunca foi para ele apenas um esquema ou projeto, mas uma realização em si, indissociável e fundamental para a produção e compreensão da totalidade do trabalho. O desenho como raciocínio e realização está presente em Vê-nus em toda a sua extensão e relação com os trabalhos tridimensionais.

A interação metabólica em constante dinâmica e mutação, entre mídias e materiais que se apresentam ao longo de quase meio século, é a característica fundamental de Tunga que a exposição enfatiza, percorrendo sua extensão num conjunto de trabalhos que vão do início ao fim de sua obra e vice-versa, dobrando-se sobre si mesmo em cada um e em todos os seus momentos.

Grande parte da obra do artista que se encontra nesta mostra está sob a guarda do Instituto Tunga, que tem a responsabilidade de manter, divulgar e resguardar seu legado. “O Instituto Tunga vem trabalhando intensamente na catalogação das obras deixadas pelo meu pai. As obras em papel constituem uma base muito importante do pensamento tunguiano, através delas percebemos como as idéias surgiram e passaram por todo um processo evolutivo até se desdobrarem em esculturas, performances, instalações e instaurações, como ele gostava de chamar”, diz Antônio Mourão, filho do artista e diretor do Instituto Tunga. E como afirma Clara Gerchman, co-fundadora e gestora do acervo do Instituto Tunga; “esta exposição é uma oportunidade única de poder descobrir e trabalhar diretamente com o acervo do artista. Ele nos deixou um legado imenso que vai muito além das tão conhecidas esculturas e instalações, e revela contínua prática do desenho. Nesse sentido Vê-nus e suas afinidades é um marco”.

Dentro da programação de abertura, o curador da exposição Paulo Venancio Filho e a curadora de Arte Contemporânea do New Museum, de Nova Iorque, Vivian Crockett, conversam sobre a formação, referências e as expressões poéticas do artista. Este evento acontece na Luhring Augustine Tribeca, no dia 14 de janeiro, às 15h.

Compartilhar:
Notícias - 23/04/2025

Você conhecia o movimento italiano Alchimia?

Com cores vibrantes, formas ousadas e uma boa dose de ironia, o movimento italiano Alchimia transformou o design em pura …

Notícias - 23/04/2025

Escultura icônica de touro é vandalizada no Dia da Terra

Uma das esculturas públicas mais emblemáticas de Nova York, o “Charging Bull”, foi alvo de uma intervenção simbólica nesta terça-feira …

Notícias - 23/04/2025

Conheça os finalistas do Prêmio Turner 2025

O Tate Britain anunciou os quatro artistas finalistas do Prêmio Turner 2025, um dos mais prestigiados da arte contemporânea. Entre …

Notícias - 23/04/2025

Artista Kehinde Wiley é processado por agressão sexual

O renomado artista norte-americano Kehinde Wiley, conhecido mundialmente pelo retrato oficial de Barack Obama, está sendo processado por agressão sexual …

Notícias - 23/04/2025

Artista brasileiro Alander Especie assina mural na nova sede da embaixada do Brasil em Tel Aviv

A convite do embaixador do Brasil em Israel, o artista visual Alander Especie foi escolhido para assinar o mural da …

Notícias - 22/04/2025

Arte em alta temperatura: mostra “Mil Graus” chega ao Sesc Campinas com 22 artistas

O Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) e o Sesc São Paulo anunciam a itinerância do 38º Panorama …

Notícias - 17/04/2025

Gaudí está a um passo de virar santo

Antoni Gaudí, o gênio por trás da icônica Sagrada Família, está cada vez mais perto de ser oficialmente canonizado pelo …

Notícias - 17/04/2025

Imagem de garoto ferido em Gaza vence o World Press Photo 2025

A fotógrafa palestina Samar Abu Elouf foi a grande vencedora do World Press Photo 2025, mas o momento foi mais …

Notícias - 16/04/2025

Legado consagrado: coleção de Niomar Moniz Sodré arrecada €11,3 milhões na Sotheby’s

Após noticiarmos a expectativa em torno do leilão da coleção de Niomar Moniz Sodré Bittencourt, a consagrada defensora da arte …

Notícias - 15/04/2025

Galerista que ja cumpriu pena por falsificações é preso por vender obras falsas de Andy Warhol

Um galerista da Flórida, já conhecido por envolvimento com obras falsificadas, foi preso novamente sob acusação de vender pinturas atribuídas …

Notícias - 15/04/2025

Uma segunda atribuição a Rubens reacende debate sobre autenticação usando tecnologia por IA

Uma nova análise por inteligência artificial reacendeu o debate sobre a autenticidade de O Banho de Diana (c. 1635), obra …

Notícias - 14/04/2025

Charlie Stein, versão colecionável: artista transforma-se boneca e assina crítica afiada

Na fronteira entre arte pop e crítica cultural, a artista e colunista alemã Charlie Stein decidiu colocar-se, literalmente, em embalagem: …