A maior feira de arte do Brasil entrega boas surpresas — e desperta uma provocação para os próximos anos
POR LIEGE JUNG
Amo feiras! Adoro a energia gerada por milhares de pessoas em torno do desejo de ter arte. Mesmo antes de entrar no incrível Pavilhão da Bienal, já podemos sentir um pouco da magia nos penteados e roupas diferentes das pessoas que caminham rumo ao portão. Não falta o chique, o artístico, o irreverente — e, claro, a resistência, palavra mais presente nos textos curatoriais de 2025 até agora.
Este ano, a SP–Arte enfrentou um desafio: promover vendas em um dos momentos mais frios do mercado de arte. A má performance nas vendas em 2024 foi notícia em toda a mídia internacional, com um consenso: há muito tempo não se via uma queda tão brusca no volume de obras de arte trocando de mãos.
É com essa apreensão que passei pelos portões este ano. Sei que, em outras edições ocorridas em momentos de crise, o clima alegre dos corredores engana. Mas as primeiras trocas com galeristas deram indícios de um resultado melhor do que o esperado, com vendas logo nas primeiras horas.
Este ano não trouxe grandes novidades. Talvez, em momentos mais aquecidos, os expositores possam ousar mais, trazendo para seus estandes obras menos comerciais — o que não foi o caso desta vez. Muito dejá vu, com alguns destaques e novidades, mas senti falta dos projetos ousados da época em que os Solo Projects e as galerias menores ocupavam o subsolo.
Um dos motivos ficou claro no meu encontro com uma amiga, dona de uma pequena galeria que, este ano, não estava expondo. “Difícil participar desta feira pagando o mesmo valor que galerias que vendem obras de milhões, enquanto as minhas custam dez mil.” Faz muito sentido. Ao não ter uma política de preço e tamanho de estandes diferenciada para acomodar a juventude, a SP–Arte corre o risco de se tornar um palco permanente de mais do mesmo. Lembremos também que este é um evento financiado por dinheiro público via leis de incentivo, com o propósito social de fomentar o mercado, e que, convenhamos, não são as grandes galerias que precisam de fomento.
Seja como for, o público parecia satisfeito. O maior controle na distribuição dos convites resultou em uma abertura para convidados mais agradável, sem a dificuldade de circular pelos corredores cheios.
Na quinta-feira, circulei com uma visita guiada para um grupo fechado da Incorporadora Benx, nossa parceira no concurso de seleção de uma obra pública para o condomínio 280 Art Boulevard em São Paulo. Pelos olhos de leigos, alheios às questões do mercado, pude notar melhor algumas novidades que passaram em branco no primeiro dia, como as obras manipuláveis das irmãs Gelli na Galeria Particular e o mármore de Damien Hirst na Almeida e Dale.
Ao final do dia, mais uma passagem pelas galerias, cumprimentando amigos, confirmou aquilo que já se sentia: boas vendas e expositores satisfeitos. Com certeza, o resultado se deve, em parte, aos preços mais sensatos das obras de arte. Frente ao mau desempenho do mercado, as galerias parecem não ter feito o que fazem todos os anos: antecipar a valorização futura dos artistas, testando os preços. Quem sempre visita a SP-Arte vai lembrar dos valores assustadores das obras de Sergio Camargo nos anos que seguiram a venda de um de seus relevos por mais de um milhão de euros em leilão da Sotheby’s em 2013. Marchands reajustaram os valores de acordo e, ao mesmo tempo, donos de obras similares viram uma oportunidade para vender, resultando em muitas obras sendo oferecidas por vários milhões de reais. Diferente do que acontece com artistas bolha, Sergio Camargo tem currículo, respeito do circuito de arte e mercado internacional e, portanto, esta situação não reduziu seu valor, apenas manteve com pouca correção. A sensação é de que, após anos de inflação, estes preços finalmente passaram a fazer sentido.

Estande da Danielian, com Obras de Abraham Palatnik, León Ferrari, Sérgio Camargo.
Foto de Mostra-SE (@mostra.se)
Muitos outros valores sobre os quais me informei também davam vontade de comprar. Entre as tentações, um raro barbante de Palatnik era oferecido na Pinakotheke por R$1,5 milhão enquanto a Danielian pedia R$480 mil por uma de suas progressões. Pensando em dólares, pagar pouco mais de US$80 mil por um obra de um artista de importância histórica, e ainda por cima bonita, é pechincha! Corram!
Torço para que as boas vendas sejam o sinal de uma recuperação. Mais uma vez, parabéns à equipe da SP–Arte por um excelente evento. E fica a dica: mais ousadia em 2026!