SESC VILA MARIANA E BOITEMPO CELEBRAM A CULTURA AMEFRICANA E FESTAS POPULARES NO BRASIL ENQUANTO SESC PINHEIROS RECEBE A GRANDIOSA MOSTRA UM DEFEITO DE COR
O Sesc São Paulo vem promovendo grandes exposições de artes visuais que contribuem para a difusão de temáticas afro-referenciadas, dando ênfase às cosmo percepções e modos de ser e fazer da negritude, considerando processos e experiências como potencializadores do ensino-aprendizagem e de transformação social.
Em cartaz em unidades do Sesc em todo o Estado de São Paulo, duas exposições que celebram artistas e culturas negras foram prorrogadas:
• Um Defeito de Cor, no Sesc Pinheiros, até 26/2.
• Lélia em nós: festas populares e amefricanidade, no Sesc Vila Mariana, até 9/2.
Integradas às mostras, o Sesc também promove dezenas de atividades educativas, oficinas, vivências, rodas de conversa e apresentações de diferentes manifestações artísticas. A visitação de todas as exposições é sempre gratuita e aberta aos públicos, com a possibilidade de agendamento de visitas mediadas em grupo. Outro valor caro aos projetos é a oferta de variados recursos de acessibilidade.
UM DEFEITO DE COR, SESC PINHEIROS
Um Defeito de Cor propõe uma revisão historiográfica da identidade brasileira por meio de uma seleção de obras em diálogo com o livro homônimo de Ana Maria Gonçalves. O clássico romance da literatura afro feminista brasileira, lançado pela escritora mineira, completou 18 anos em 2024 e é usado como uma espécie de matriz para exposição de mesmo nome.
Com curadoria entre a autora mineira, Marcelo Campos e Amanda Bonan (Museu de Arte do Rio – MAR), a mostra itinerante destaca as potências na produção de artistas contemporâneos negras e negros das Américas e de África.
Após passar pelo Rio de Janeiro (MAR) e Salvador Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (MUNCAB), a mostra chegou à capital paulista com obras que fazem alusão ao período do Brasil Império (1822-1889) para discutir os contextos sociais, culturais, econômicos e políticos do século 19 e seus desdobramentos em elementos contemporâneos.
Ao todo, 372 peças de autoria de artistas do Brasil, da África e das Américas interpretam Um defeito de cor, ganhador do prêmio Casa de las Américas e considerado um dos mais importantes clássicos da literatura afro-feminista e nacional.
Assim como o livro, a exposição faz um enfrentamento às lacunas e ao apagamento da história da população negra ao contar a jornada de uma mulher africana nascida no início do século 19, escravizada no Brasil, e sua busca por um filho perdido.
Além de ser uma experiência artística, Um Defeito de Cor também tem um impacto social e educacional significativo, promovendo o diálogo e a conscientização sobre questões de justiça racial e igualdade no Brasil e além.
Dentre as novidades apresentadas no Sesc Pinheiros estão os figurinos e croquis das fantasias do Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela, do artista e carnavalesco Antônio Gonzaga, que se inspirou no livro para desenvolver o samba-enredo do Carnaval 2024, no Rio de Janeiro.
Além disso, estarão em exibição, pela primeira vez, um Retrato de Ana Maria, de Panmela Castro; Bori – filha de Oxum, do artista e babalorixá Moisés Patrício, e romaria, mural pintado por Emerson Rocha na entrada do Sesc Pinheiros, além de ações educativas ao longo do período expositivo.
Veja vídeo do artista Emerson Rocha sobre o processo de produção do mural romaria no Sesc Pinheiros:
A mostra faz um mergulho na essência de temas como os levantes negros, o empreendedorismo, o protagonismo feminino, o culto aos ancestrais e a África Contemporânea e que reexaminam os caminhos da população afro-brasileira desde os tempos de escravidão até os dias atuais, e fazem uma interpretação dos conceitos apresentados no romance, principalmente as origens e as identidades africanas que constituem a população.
Dividida em dez núcleos, que se espelham nos dez capítulos do livro, a mostra não é cronológica nem explicativa. O objetivo é trazer uma visão do Brasil com momentos históricos e recortes sociais transmitidos por meio de uma produção intelectual e de imagem presentes na arte contemporânea.
QUEM É ANA MARIA GONÇALVES?
Ana Maria Gonçalves é uma renomada escritora, sócia fundadora da Terreiro Produções. Após 15 anos na publicidade, dedicou-se à literatura, produzindo obras como “Um defeito de cor”, vencedor do prêmio Casa de Las Américas em 2007. Viveu nos EUA por oito anos, onde ministrou cursos sobre questões raciais. Além de escritora residente em universidades como Tulane, Stanford e Middlebury, é roteirista, dramaturga e professora de escrita criativa. Reside em São Paulo e é cocuradora da premiada exposição “Um defeito de cor”.
NÚCLEOS
Assim como o livro Um Defeito de Cor é dividido em 10 capítulos, a exposição recria esses núcleos, cada um abordando aspectos específicos da história e da experiência dos personagens, através de uma variedade de elementos, como objetos, tecidos, desenhos, pinturas, esculturas, fotografias, vídeos, áudios e instalações, muitos dos quais são criados por artistas negros e negras, incluindo aqueles de origem africana. As alas da exposição incluem:
Cosmogonia e Perda Familiar: Explora os processos cíclicos de vida e morte pela ótica da cosmogonia, destacando a perda da família de Kehinde no Benin pré-colonização e seu subsequente envolvimento no tráfico transatlântico.
Brasil Colônia: Reflete sobre o cotidiano de Kehinde no Brasil Colônia, desde seu desembarque na Baía de Todos os Santos até sua jornada por diferentes territórios.
Divisão do Trabalho Escravo: Retrata a divisão do trabalho a que os escravizados foram submetidos em ambientes domésticos, urbanos e rurais.
Resistência e Aquilombamentos: Registra a resistência dos negros escravizados e os planos de liberdade traçados através dos aquilombamentos.
Recusa ao Sistema Escravocrata: Aborda a recusa comunitária ao sistema escravocrata e ao sincretismo religioso praticado no território colonizado.
Revoluções e Revoltas: Explora as revoltas populares contra a colonização europeia durante o período Regencial, como a “Noite das Garrafadas” no Rio de Janeiro, a “Sabinada” na Bahia e a “Balaiada” no Maranhão.
Festas Afro-religiosas: Dedica-se às festas afro-religiosas no Brasil, como o “Presente de Iemanjá” em Salvador.
Espiritualidade e Comércio de Escravos: Aborda intuições espirituais, sonhos e o comércio de crianças escravizadas em São Paulo, além das moradias improvisadas no Rio de Janeiro.
Presença Cultural dos Agudás: Narra a presença cultural dos Agudás, africanos libertos que retornaram ao país de origem.
Tragédia e Reencontro: Finaliza com a tragédia que novamente encontra Kehinde, incluindo a perda de seus netos e a descoberta de uma carta escrita por ela durante seu retorno ao Brasil.
Um Defeito de Cor, com curadoria de Amanda Bonan, Ana Maria Gonçalves e Marcelo Campos, tem visitação até 26 de fevereiro de 2025, de terça a sábado, das 10h30 às 21h e domingos e feriados, das 10h30 às 18h, no espaço Expositivo (2º andar) do Sesc Pinheiros – Rua Paes Leme, 195.
A entrada é grátis, com classificação livre e estacionamento no local.
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LÉLIA EM NÓS: FESTAS POPULARES E AMEFRICANIDADE, NO SESC VILA MARIANA
A mostra Lélia em nós: festas populares e amefricanidade reúne pinturas, fotografias, instalações, documentos históricos e obras inéditas de artistas contemporâneos inspirada no pensamento da antropóloga, historiadora e filósofa brasileira Lélia Gonzalez (1935 – 1994).
As curadoras Glaucea Britto e Raquel Barreto, que, por meio de um recorte que traz destaque para as festas e tradições afro-brasileiras, selecionaram artistas e obras históricas e contemporâneas, em diálogo com o pensamento da autora, que cunhou o termo ‘amefricanidade’. A expressão, que compõe o nome da mostra, busca uma compreensão mais ampla sobre as influências da cultura de povos africanos sobre o povo brasileiro.
Também inspirada pelo livro Festas populares no Brasil (que ganha nova edição pela Boitempo), a exposição promove uma celebração da cultura afro-brasileira a partir de um recorte que estabelece diálogos e reflexões suscitados pela produção intelectual de Gonzalez.
A mostra também apresenta um recorte de sonoridades e musicalidades, tanto do universo das festas e festejos brasileiros quanto das intervenções do DJ Machintown e do trombonista Allan Abbadia, além de registros fonográficos da discoteca pessoal de Lélia.
QUEM FOI LÉLIA GONZALEZ?
Lélia Gonzalez (1935-1994) foi uma das mais importantes intelectuais brasileiras do século 20. É uma referência nos estudos e debates de gênero, raça e classe no Brasil, na América Latina e pelo mundo, sendo considerada uma das principais autoras do feminismo negro no país. Foi cofundadora do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras do Rio de Janeiro (IPCN-RJ) e do Movimento Negro Unificado (MNU). Autora de Festas populares no Brasil (Boitempo, 2024), coautora de Lugar do Negro (1982), livro escrito com o sociólogo Carlos Hasenbalg, e de artigos de grande relevância sociopolítica para a disseminação do debate acadêmico sobre as intersecções entre raça e gênero, como “A importância da organização de mulheres negras no processo de transformação Social” (1980), “Racismo e sexismo na sociedade brasileira” (1984) e “Por um feminismo afrolatinoamericano” (1988).
ARTISTAS E EIXOS TEMÁTICOS
Com cinco eixos temáticos, a mostra apresenta nomes consagrados como Alberto Pitta, Heitor dos Prazeres, Januário Garcia, Maria Auxiliadora, Nelson Sargento, e Walter Firmo – além de 12 trabalhos inéditos, como Coletivo Lentes Malungas, Eneida Sanches, Lidia Lisboa, Lita Cerqueira, Manuela Navas, Maurício Pazz, Rafael Galante e Rainha Favelada.
Há ainda um recorte de sonoridades e musicalidades, tanto do universo das festas e festejos brasileiros, quanto das intervenções do DJ Machintown e do trombonista Allan Abbadia, além de registros fonográficos da discoteca pessoal de Lélia. Os eixos temáticos são:
Festas populares: o livro
Espaço expositivo que reafirma Lélia Gonzalez como uma intérprete do Brasil por meio de excertos textuais de Festas populares no Brasil e reproduções fac-similares de artigos publicados na imprensa e documentos históricos, como os extraídos do pioneiro curso Cultura Negra, ministrado pela intelectual em 1976, na EAV – Escola de Artes Visuais do Parque Laje (RJ). Nesse mesmo núcleo também estão presentes obras de, entre outros, Ivan da Silva Morais, Simba, José Luiz Soares e Kevin da Silva, além de fotografias de Walter Firmo e Adenor Godim.
Racismo e sexismo na cultura brasileira. Cumé que a gente fica?
Nesse eixo temático, cinco artistas, mulheres negras, são convidadas para, por meio de obras inéditas, darem uma expressão artística visual ao texto mais icônico e significativo de Lélia Gonzalez, “Racismo e sexismo na cultura brasileira”, ensaio publicado em 1984 na Revista Ciências Sociais Hoje. Com essa intervenção, Lidia Lisboa, Eneida Sanchez, Manuela Navas, Hariel Revignet e Rainha Favelada realizam uma interpretação contemporânea e vibrante da mensagem atemporal de Lélia, enquanto também homenageiam sua influência e legado.
Pele Negra, máscaras negras
O título desse núcleo dialoga com um dos livros mais importantes e influentes para a ascensão dos movimentos da luta antirracista, Pele negra, máscaras brancas, publicado em 1952 pelo psiquiatra martiniquense Frantz Fanon, um autor fundamental para o pensamento de Lélia e a construção de perspectivas para as reflexões sobre os efeitos subjetivos do racismo na gênese do indivíduo. Na proposta das curadoras, esse eixo temático é uma celebração à presença das máscaras e dos mascarados em inúmeras festas populares do Brasil, estabelecendo uma relação ancestral com as máscaras da cultura africana em festividades e rituais. O núcleo reúne: fotografias de Carlos Humberto TDC, Jandir Gonçalves, Ismael Silva e Márcio Vasconcelos; obras de Simba, Bea Machado, Uberê Guelê; e uma instalação e performance comissionadas de Guinho Nascimento.
Beleza Negra, ou: ora-yê-yê-ô
Nesse eixo, a exposição evidencia a beleza e a dimensão política de afoxés, cortejos conduzidos por reis e rainhas – como Badauê, Filhas d’Oxum, Korin Efan, Ataojá, Ilê Oyá, Monte Negro e Filhas de Ghandy – que agregam multidões e que possuem estreita relação de origem com os terreiros de candomblé de Salvador. No espaço expositivo estão reunidos: objetos pessoais de Lélia; fotografias de Januário Garcia, Antônio Terra, Bauer Sá, Lita Cerqueira, Bruno Jungmann, Arquivo Zumvi (Lazaro Roberto e Jonatas) e Mônica Cardim; obras de J Cunha, Alberto Pitta, Maria Auxiliadora e Isa do Rosário de Maria; e trabalhos comissionados de Nádia Taquary e do Coletivo Lentes Malungas.
De Palmares às escolas de samba, tamo aí!
Exaltando o papel das mulheres negras como perpetuadoras dos valores culturais afro-brasileiros, o núcleo estrutura-se a partir da consideração de Lélia de que Palmares forjou uma nacionalidade brasileira baseada na igualdade. Nesse sentido, a contribuição das mulheres negras estaria presente desde a criação de Palmares, passando por todas as experiências socioculturais do povo brasileiro, com destaque para a experiência na criação de instituições negras, como as escolas de samba, e de instituições religiosas, como os terreiros de candomblé. No espaço expositivo estão reunidas: fotografias de Eustáquio Neves, Letícia Mercier, Januário Garcia, Walter Firmo e Lita Cerqueira; e pinturas de Sergio Vidal, Raquel Trindade, Heitor dos Prazeres, Maria Auxiliadora, Nelson Sargento, Wallace Pato, Mulambö e Bea Machado. O núcleo reúne ainda Escolas de Samba de São Paulo, vídeo de Rafael Galante e Maurício Pazz, comissionado para a exposição.
A exposição Lélia em nós: festas populares e amefricanidade fica em cartaz até 9 de fevereiro, no Sesc Vila Mariana – Rua Pelotas, 141 – Vila Mariana – São Paulo, de terça a sexta, das 10h às 21h; aos sábados, das 10h às 20h e aos domingos e feriados, das 10h às 18h.
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