Preservar o passado não é uma tarefa fácil. Considere uma obra tão celebrada quanto o icônico afresco da Capela Sistina (1512) de Michelangelo, mantido no Vaticano. Séculos após sua conclusão, equipes de conservadores tiveram que inventar maneiras meticulosas de remover a sujeira acumulada no mural, sem comprometer a obra de arte por baixo. Às vezes, isso é obtido por meio de géis especiais que removem a fuligem, sem danificar a tinta em si. Outras vezes, os pesquisadores usam a tecnologia para discernir que tipos de tintas e materiais Michelangelo usou para reaplicar sua técnica novamente.
Quando bem feitas, as obras de arte podem ser vistas novamente para as gerações futuras, exatamente como originalmente pretendido. Quando mal feitas, como no caso de uma igreja do século XVIII na cidade espanhola de Soria, o desastre acontece. Originalmente construída em 1725, a igreja Ermita de Nuestra Señora del Mirón foi construída sobre as ruínas de um antigo sítio gótico e foi estimada por seu interior barroco e rococó. Uma restauração não autorizada, no entanto, causou alvoroço na comunidade artística por uma cor berrante que agora domina as características outrora sutis do monumento.
“Acabamos com os elementos decorativos sendo delineados e os querubins — que eram brancos antes — se tornando caricaturais”, disse o grupo de patrimônio local, Soria Patrimonio, em uma entrevista ao site de notícias espanhol El Confidential. “A repintura de uma igreja como esta está fora das boas práticas de intervenção que se aplicam a edifícios com valor patrimonial”.
Não está claro quem é o responsável pela restauração. A Associação Profissional de Restauradores e Conservadores da Espanha acredita que essa iniciativa não passou pelo processo usual de verificação para determinar as equipes e procedimentos necessários. “Esta não foi uma restauração fracassada”, disse o presidente da Acre, Francisco Manuel Espejo, em uma entrevista ao Guardian. “Uma restauração – bem-sucedida ou não – é realizada por um restaurador qualificado e oficial. Este foi um ataque ao patrimônio que não foi realizado por um restaurador ou conservador”.