Uma cidade siciliana está acusando o artista suíço Christoph Büchel de não devolver o navio de sua controversa contribuição para a Bienal de Veneza 2019, Barca Nostra, uma obra feita a partir do naufrágio mortal que matou cerca de 1.000 migrantes líbios. O conselho da cidade de Augusta concordou em emprestar a Büchel o navio recuperado por um ano, com a expectativa de que ele seria então devolvido para uma exibição de longo prazo em um jardim memorial. Ao invés disso, o casco enferrujado não saiu do histórico estaleiro Arsenale, onde foi um dos projetos especiais na bienal.
Büchel disse esperar que o trabalho sensibilize o público sobre a situação dos migrantes, milhares dos quais morreram no mar tentando chegar à Europa nos últimos anos. Mas recebeu críticas generalizadas pela falta de textos explicativos sobre as origens do navio e a história trágica. Como resultado, inúmeros visitantes inconscientes tiraram selfies com o navio, transformando-o em apenas um espetáculo.
Originalmente construído para uma tripulação de apenas 15 pessoas, o navio de pesca afundou em 18 de abril de 2015, deixando apenas 28 sobreviventes. Levantar o navio afundado do chão do Mediterrâneo custou à marinha italiana € 33 milhões (US$ 39,6 milhões). Os custos de transporte do navio pela Itália foram cobertos por Büchel como parte dos termos de sua inclusão na bienal. “Apresentar o navio naufragado na Bienal nunca teria sido permitido se Christoph Büchel não tivesse concordado em ser responsável pelos custos de devolvê-lo após a exposição”, disse Ralph Rugoff, curador da Bienal de Veneza de 2019, ao The Art Newspaper. “A Bienal de Veneza tem apenas fundos para o transporte de obras e seu orçamento nunca foi projetado para acomodar o tipo de custos associados ao transporte de algo como a Barca Nostra”. “Estamos pedindo ao artista que respeite o compromisso que fez e devolva a obra para Augusta”, acrescentou um porta-voz da Bienal.
O retorno atrasado pode ter decorrido da viagem inicial de Barca Nostra para Veneza, durante a qual a base de metal usada para mover o navio foi seriamente danificada ao cair enquanto era levantada por um guindaste no porto industrial de Veneza. Büchel fez uma reclamação através do seguro da Bienal, que foi negado, e espera recuperar parte de seus custos através de uma disputa judicial, relata La Reppublica. Uma vez resolvido esse problema, o artista planeja cumprir as promessas de devolver a obra à Sicília. Mas até lá, há preocupações crescentes de que o barco possa ser sucateado, já que a bienal precisa que ele seja removido.
Solicitada pela Artnet News a comentar o fato, a galeria do artista, Hauser e Wirth, disse que não estava envolvida com a obra. A apólice de seguro da Bienal cobria o naufrágio enquanto estava em Veneza, inclusive em Marghera, mas a seguradora negou a alegação de que os danos ocorreram enquanto a obra estava no ar, não no mar, segundo fontes próximas ao projeto.
A Barca Nostra não é a única obra de arte inspirada no trágico naufrágio do navio. O fotógrafo e cineasta alemão Wim Wenders está desenvolvendo uma minissérie documental, também intitulada Barca Nostra, sobre o naufrágio, recuperação e reencarnação do navio na bienal.
FONTE: ArtNetNews