Após anos de controvérsias e uma longa disputa judicial, uma estátua greco-romana com cerca de 1.800 anos, saqueada da antiga cidade de Bubon — no território da atual Turquia —, está em exibição pela última vez no Cleveland Museum of Art (CMA), nos Estados Unidos. Avaliada em 20 milhões de dólares e com mais de dois metros de altura, a escultura de bronze sem cabeça permanece em cartaz até 8 de julho, acompanhada de painéis que contextualizam sua origem e a trajetória controversa que a levou até Ohio. A peça é atribuída ao imperador romano Marco Aurélio, embora o museu mantenha a cautela em relação à identificação exata.
Segundo o site Hyperallergic, a obra faz parte de um conjunto de artefatos romanos retirados ilegalmente de Bubon nos anos 1960 por traficantes de antiguidades. Apesar das evidências documentais e dos apelos do governo turco desde 2012, foi apenas em 2023 que autoridades de Nova York iniciaram a apreensão de diversos itens do grupo — com exceção da estátua de Marco Aurélio, que permaneceu sob a guarda do CMA. Após uma série de análises forenses, comparações de solo e revisão documental, o museu finalmente cedeu e concordou com a repatriação.
A exibição atual não apenas reconhece o trabalho crucial da arqueóloga turca Jale İnan, que desde 1979 já apontava a conexão entre os artefatos e Bubon, como também lança luz sobre o debate ético em torno da aquisição de obras com origem duvidosa. Apesar de o CMA alegar que a escultura havia sido exibida publicamente e adquirida de acordo com seus critérios à época, especialistas como Elizabeth Marlowe criticam o posicionamento da instituição, destacando o desprezo pelas advertências acadêmicas e o contraste com outras entidades que se recusaram a validar o saque. Esta mostra de despedida, ainda que tardia, oferece uma oportunidade simbólica de correção e reflexão sobre práticas museológicas no século XXI.