Porque mulher mais rica da Austrália quer que museu remova seu retrato?

A mulher mais rica da Austrália está aparentemente furiosa com um retrato dela em exibição na Galeria Nacional da Austrália em Canberra. Ela quer que a pintura, do artista indígena ocidental Aranda Vincent Namatjira, seja removida da exposição “Vincent Namatjira: Australia in Color”.

O museu mantém-se firme no apoio ao artista e na defesa do seu direito de expor a tela.

“Desde 1973, quando a National Gallery adquiriu os Blue Poles de Jackson Pollock, tem havido uma discussão dinâmica sobre os méritos artísticos das obras da coleção nacional em exibição na galeria”, afirmou o museu em comunicado compartilhado com a Artnet News. “Apresentamos obras de arte ao público australiano para inspirar as pessoas a explorar, experimentar e aprender sobre arte.”

“Eu pinto o mundo como o vejo”, escreveu Namatjira numa declaração na quinta-feira, citada no Guardian. “As pessoas não precisam gostar das minhas pinturas, mas espero que reservem um tempo para olhar e pensar: ‘Por que esse cara aborígine pintou essas pessoas poderosas? O que ele está tentando dizer? Algumas pessoas podem não gostar, outras podem achar engraçado, mas espero que as pessoas olhem além da superfície e vejam o lado sério também”.

Namatjira já retratou Rinehart antes. Sua pintura de 2017, Gina Rinehart and Me, mostra os dois ombro a ombro, nenhum deles parecendo muito satisfeito com o arranjo. The Richest (Gina Rinehart) , de 2016, rendeu-lhe a vaga de finalista do Ramsay Art Prize de US$ 100 mil no ano seguinte.

“Gosto de pintar com um pouco de humor”, disse a artista sobre Gina Rinehart e eu II, na coleção da Art Gallery of Western Australia (na qual ambas parecem um pouco mais felizes). “O humor tira um pouco do poder deles e nos mantém iguais”.

Junto a Namatjira na exposição atual, estão nomes como a Rainha Elizabeth II, o jogador de futebol australiano Adam Goodes e ao músico Jimi Hendrix.

O museu descreve o artista, de Indulkana, no sul da Austrália, como “um cronista satírico da identidade australiana”. Ele pinta retratos de figuras significativas desde 2013 e tem recebido considerável atenção: em 2020, tornou-se o primeiro artista indígena a ganhar o Prêmio Archibald, concedido pela Art Gallery of New South Wales, por seu retrato de Goodes, e foi condecorado com a Medalha da Ordem da Austrália (OAM) por sua contribuição às artes visuais indígenas.

Namatjira, natural de Alice Springs, foi arrancado da família aos seis anos e criado em um orfanato na distante Perth, onde foi privado de todo contato e conhecimento de seus parentes.

“Fui levado por estranhos”, disse ele em um vídeo no site do museu. “Perdi a ligação com a família, o país e a cultura. Isso foi um pouco difícil. É por isso que pinto os políticos e as pessoas com smokings e ternos, é isso que o político era para mim e para minha irmã – ‘Nós criamos você até os 18 anos, você pode voltar para a família, empurrado porta afora e mandado de volta um avião para Alice Springs.’ Eles não pedem desculpas de jeito nenhum. Nunca recebemos um ‘até logo’, um ‘tchau’ ou um ‘se cuida’, esse tipo de coisa”.

Também está em exibição uma seleção de obras, com curadoria do artista, de seu bisavô, o famoso artista Albert Namatjira, a quem ele citou como seu “modelo-chave número um”. Ele não teve conhecimento de sua ligação com o artista mais velho até se tornar adulto e ficou surpreso ao descobrir que fazia parte de uma linhagem artística.

“Acredito no poder da arte, no poder do pincel”, disse Namatjira. “Sei que a arte pode mudar vidas – mudou a minha – e espero que a arte também possa mudar o mundo”.