Pivô inaugura nova sede com residência artística em Salvador

O Pivô – associação cultural sem fins lucrativos com sede no Copan, em São Paulo – abre em agosto sua sede em Salvador-BA e inaugura os trabalhos do espaço com uma residência artística de três artistas convidados: Pol Taburet (que prepara durante a residência alguns trabalhos que serão exibidos em exposição individual inédita no Brasil, que será realizada na sede do Pivô em São Paulo, a partir de 2 de setembro deste ano), o escritor Matthieu Peck e o artista baiano João Oliveira. O Pivô ocupará parte da Casa Boulevard, localizada no centro da cidade, que, com seus 90 anos de existência, já foi palco de diversas expressões culturais e berço de movimentos como a Tropicália e o Cinema Novo (veja abaixo a história da ‘casa do Boulevard’). No dia 29/07 será realizada a abertura da casa para convidados e no dia 30/07 para o público, que poderá conhecer a Casa, percorrer os espaços de trabalho e ouvir sobre a pesquisa dos artistas (veja serviço). O Pivô Salvador terá uma agenda de visitas do público a partir de agosto (em breve mais informações).

“Este momento marca também a abertura de um novo capítulo da história da instituição, que agora passa a ocupar um espaço em Salvador. A abertura de uma nova sede na cidade baiana vem da vontade de estreitar os vínculos com uma cena cultural vibrante em uma cidade carregada de história e que não hesita em habitar suas complexidades”, explica Fernanda Brenner, diretora artística do Pivô.

Para esta residência, o Pivô optou por uma abordagem transdisciplinar, que parte de uma escuta atenta e do constante diálogo com a cena local. Ao estabelecer um novo ponto de encontro em um contexto e em um ritmo radicalmente diferente da experiência da instituição no centro de São Paulo, o Pivô espera traçar novos caminhos e possibilidades para o trabalho realizado há 10 anos, além de ampliar a atuação no Brasil, especialmente fora do eixo Rio-São Paulo.

Sobre os artistas-residentes em Salvador

O jovem artista francês Pol Taburet apresenta uma mistura iconoclasta de referências que vão das origens caribenhas do próprio artista, incluindo tradições e crenças sincréticas relacionadas ao vodu, à cultura contemporânea em geral, passando pela pintura clássica. Nascido em 1997, o artista conquistou rapidamente a atenção do público com seu idiossincrático estilo de pintar, desenvolvido com a incorporação do uso de aerografia ao lado da pintura tradicional, feita com tinta acrílica. O resultado formal é uma contraposição singular entre texturas e acabamentos, trazendo detalhes minuciosos, sugestões “impressionistas” e muito simbolismo.

Micronarrativas, farsa, fracasso, discurso amoroso e desaparecimento, são alguns dos interesses da pesquisa de João Oliveira. O artista é graduado em artes visuais pela EBA-UFBA (2011), onde também fez Mestrado em Processos Criativos (2017) e estudou gravura em metal nos cursos regulares das oficinas do MAM-BA (2013). Seus trabalhos já foram selecionados para exposições na Bahia, Rio de Janeiro, Londrina-PR, João Pessoa e Chicago (EUA), México e Veneza (Itália).

Matthieu Peck é um jovem escritor francês, cujos livros já foram publicados pela  prestigiosa editora Gallimard. Publicou dois romances e uma novela, e atualmente está interessado no universo underground e tudo aquilo que está às margens da sociedade. Sua escrita tem como referência tanto os moralistas do século XVII quanto a poesia contemporânea, e sua linguagem é saudada em seu país como original e intransigente. Ao acompanhar o pintor Pol Taburet ao Brasil por dez dias, escreverá um texto que olha para os longos espaços da criação, com foco na introspecção e nos processos do artista observado.

Casa do Boulevard – Presciliano Silva e encontros do Cinema Novo e Tropicália

A ‘casa do Boulevard’, ou simplesmente ‘Boulevard’, será a residência do Pivô Salvador. Seu nome é uma referência ao endereço em que está localizada: Rua Boulevard Suíço, em Nazaré, bairro histórico de Salvador, Bahia.

A casa foi construída em 1934 pelo engenheiro e arquiteto carioca Lycério Schreiner, a pedido de Presciliano Silva, um importante artista baiano, na ocasião de seu casamento com a pianista e cantora lírica Alice Moniz. Com o tempo, o local tornou-se conhecido pela recepção de vários encontros de intelectuais nacionais e internacionais e soirées literárias e musicais.

Nos anos 1960, a atriz Maria Moniz, filha única do casal, organizou diversos encontros na varanda, com os participantes das escolas de teatro, dança e artistas locais, entre eles Tom Zé, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Maria Bethânia, Orlando Sena, Glauber Rocha e Helena Ignez, tornando o local também um dos berços do movimento tropicalista brasileiro e do Cinema Novo. O carro chefe desses encontros era a sopa preparada pela anfitriã e servida nas madrugadas. Estas noites foram imortalizadas na contracapa do disco ‘Caetano Veloso’ (1967), em que ele diz: “Gil, hoje não tem sopa na varanda de Maria”.

Nesta nova etapa com o Pivô a proposta é que a casa seja uma plataforma de pesquisa e de intercâmbio da arte e cultura nacional e internacional.