Uma nova pesquisa sobre uma pintura do início do Período Azul de Pablo Picasso revelou uma obra oculta sob a superfície do quadro Retrato de Mateu Fernández de Soto, escondida há mais de um século. Segundo o site Artnet, conservadores do Courtauld Institute of Art, em Londres, utilizando tecnologia de imagem avançada, identificaram um retrato inacabado de uma mulher sob as camadas de tinta. A descoberta fornece novos insights sobre o processo criativo do artista e levanta questões sobre a identidade da figura oculta.
O achado surge antes da exibição da obra na mostra De Goya ao Impressionismo: Obras-Primas da Coleção Oskar Reinhart, que será inaugurada na Courtauld Gallery, em Londres, no dia 14 de fevereiro. Pintada em 1901, quando Picasso tinha apenas 19 anos, a obra é uma das primeiras de seu Período Azul—fase caracterizada por tons frios e melancólicos, inspirada pelo suicídio de seu amigo Carlos Casagemas. A análise revelou que a mulher na pintura oculta possui um coque e uma expressão impassível, semelhante às figuras femininas introspectivas que aparecem em outras obras do artista desse período, como Mulher de Braços Cruzados (1901–2) e A Bebedora de Absinto (1901).

Imagem infravermelha do Retrato de Mateu Fernández de Soto (1901) pelo departamento de conservação do The Courtauld Institute of Art, Londres
Os especialistas acreditam que Picasso pode ter reutilizado a tela devido à escassez de materiais ou por ter abandonado o estilo mais colorido e impressionista da pintura anterior. Ao longo de sua carreira, transformar uma imagem em outra se tornaria uma das marcas registradas do artista. “Isso ajudou a fazer de Picasso uma das figuras gigantes da história da arte, e tudo começa com uma pintura como essa”, explicou Barnaby Wright, curador da Courtauld Gallery. A exposição, que segue até 26 de maio, incluirá obras de Goya, Renoir, Cézanne e Van Gogh, muitas delas nunca antes exibidas fora da Suíça.