Durante seus passeios pela Place de la Concorde, em Paris, o egiptólogo Jean-Guillaume Olette-Pelletier fez uma descoberta notável: ocultas nas inscrições do milenar Obelisco de Luxor estavam sete mensagens cifradas, destinadas apenas aos olhos da elite intelectual do Antigo Egito. Aproveitando os trabalhos de restauração que antecederam os Jogos Olímpicos de 2024, Olette-Pelletier obteve permissão para estudar de perto o monumento, tornando-se o primeiro a escalar a estrutura em mais de um século. Seus achados, que serão publicados na revista francesa de egiptologia ENiM, revelam o uso sofisticado dos chamados criptopictogramas — hieróglifos enigmáticos baseados em jogos de palavras e mudanças de direção na leitura.
As mensagens secretas reforçam a imagem do faraó Ramsés II como descendente divino de Amon-Rá e Maat, legitimando seu reinado após uma ascensão tardia ao trono aos 25 anos de idade. Estrategicamente esculpidos, os hieróglifos eram visíveis apenas para os nobres que se aproximavam do Templo de Luxor durante o festival de Opet, uma celebração que renovava o poder do faraó e a fertilidade da terra. Em um dos lados voltados para o Nilo, Ramsés é retratado oferecendo presentes aos deuses, usando uma coroa especial que simbolizava a unificação do Alto e Baixo Egito — uma imagem reservada exclusivamente para os olhos da aristocracia.

Olette-Pelletier observando o obelisco enquanto ele estava em reforma. Foto: cortesia de Olette-Pelletier.
Outra mensagem oculta aparece no lado voltado para o deserto, onde Ramsés é coroado com chifres de touro, símbolo de força divina, sugerindo a necessidade de oferendas para apaziguar as forças sobrenaturais. Originalmente esculpido em um par de blocos de granito vermelho, o Obelisco de Luxor foi presenteado à França pelo governante otomano Mohamed Ali em 1830, chegando a Paris a bordo de uma embarcação especialmente construída e sendo erguido na Place de la Concorde em 1836. A recente descoberta não apenas renova o fascínio pela herança egípcia, mas também revela como a arte monumental servia como instrumento de afirmação política e religiosa no Antigo Egito.