Com prêmios de mais R$ 100 mil, 28º Salão Anapolino de Arte se firma como um dos mais disputados do Brasil
Goiás recebe um dos mais importantes salões de arte do Brasil. Responsável por inserir Anápolis no eixo dos grandes eventos brasileiros nesse gênero, o Salão Anapolino de Arte já está consolidado no calendário por sua assiduidade e, nesse ano, traz à cidade a representatividade e a diversidade de produção de todas as regiões do país. Até 28 de março, a Galeria Antônio Sibasolly será palco de exposição que trará ao público uma seleção criteriosa de obras de 24 artistas de diferentes regiões do Brasil, escolhidos entre mais de 800 inscrições submetidas este ano. A visitação é gratuita.
HOMENAGEM A GERVANE DE PAULA
Nesta 28º edição, o Salão Anapolino presta uma homenagem especial ao artista mato-grossense Gervane de Paula, uma escolha que simboliza o compromisso com o reconhecimento da arte brasileira em suas várias expressões e origens.
“Diferente das quatro edições anteriores, em que foram homenageados artistas goianos, esta edição volta-se para o Centro-Oeste ao trazer um artista do Mato Grosso, ampliando o alcance e a representatividade do evento”, destaca o curador do Salão, Paulo Henrique Silva. Gervane é conhecido por seu trabalho que explora temas de crítica social, política e cultural, principalmente voltados para questões do Centro-Oeste e do Mato Grosso. Sua obra aborda tópicos como os impactos da colonização, as contradições da modernidade, e temas da cultura popular, muitas vezes utilizando ícones da cultura de massa e materiais alternativos para criar um discurso irônico e provocador sobre a sociedade.
CURADORIA
O Salão conta com a renomada curadora Tereza de Arruda, integrante das comissões de seleção e premiação, e que traz sua experiência internacional para enriquecer as discussões e interpretações sobre as obras expostas. Residente em Berlim e com uma trajetória consolidada no cenário da arte contemporânea global, Tereza desempenhou um papel essencial na curadoria desta edição, que buscou ampliar os diálogos entre as temáticas locais e globais, destacando a inovação, a diversidade cultural e o engajamento com as questões atuais. Sua participação na abertura promete agregar ainda mais profundidade ao evento, possibilitando um contato direto do público com sua visão sobre o cenário artístico brasileiro e internacional, afirma Paulo Henrique Silva. Além de Tereza de Arruda, compõem a Comissão de Premiação Marcelo Campos e Pé Vermelho Espaço Contemporâneo – João Angelini, Luciana Paiva e Marcela Campos.
Artistas
Na Mostra Nacional, 21 artistas e grupos de diversas regiões do Brasil foram escolhidos:
Ana Sabiá – SC
Lucimélia Romão – BA
Nita Monteiro – SP
Samir Dams – PA
Simone Moraes – GO
Thales Pomb – DF
Uéslei Fagundes – RS
Waleff Dias – AP
Badu – GO
Marcelo Ramalho – GO
Fykyá Pankararu – PE
Beatrice Arraes – CE
Rodrigo de Almeida Cruz – DF
Luiza Sigulem – SP
David Alfonso – PE
Diego de Santos – CE
Dyana Santos – MG
Emika Takaki – SP
Felipe Rezende – BA
José Medeiros – MT
Julianismo – MG
Já na categoria Fomento à Produção Anapolina, três artistas que vivem ou nasceram em Anápolis foram selecionados:
Cia Nudante
Diego Oliveira
Tatiana Susano
A comissão de seleção, composta por Paulo Henrique Silva, curador do Salão, Tereza de Arruda e Jacqueline de Almeida, reforça o cuidado na curadoria e a diversidade presente na seleção.
Premiação
Os 21 artistas ou grupos selecionados na Mostra Nacional e os três selecionados na categoria Fomento à Produção Anapolina listados acima receberam um Prêmio de Participação no valor de R$ 1.500,00 cada.
Além disso, o Salão ofereceu dois Prêmios Aquisitivos no valor de R$ 12.000,00 cada para artistas da Categoria Nacional, são eles:
Lucimélia Romão
Premiada no 28º Salão Anapolino de Arte, na categoria Mostra Nacional. Sua obra, carregada de potência e significado, destaca questões sociais e culturais urgentes, trazendo reflexões profundas ao público. Lucimélia Romão é uma artista cuja trajetória se desdobra entre as artes visuais e cênicas, empregando essas linguagens de forma integrada para abordar temas de grande relevância social. Nascida em 1988, em Jacareí, São Paulo, e atualmente vivendo e trabalhando em São Félix, Bahia, sua produção artística emerge como uma forma de resistência às diversas violências e opressões enfrentadas por corpos negros e por aqueles cujos direitos fundamentais são frequentemente negados.
Seu trabalho se destaca por transformar ações artísticas em manifestações performáticas que denunciam injustiças estruturais e buscam suspender a barbárie imposta por sistemas opressores.
Com uma abordagem profundamente política, Lucimélia utiliza técnicas tradicionalmente associadas ao universo doméstico, como o bordado e o crochê, ressignificando-as para construir narrativas potentes que confrontam o racismo estrutural e a violência de gênero.
Ao trazer à tona meios historicamente subestimados, ela dá visibilidade às práticas criativas femininas e questiona hierarquias culturais que desvalorizam essas expressões. Suas obras transcendem a mera contemplação, engajando o público na construção de significados e promovendo reflexões urgentes sobre as desigualdades sociais.
Luiza Sigulem
Recebeu o Prêmio Aquisitivo no 28º Salão Anapolino de Arte.
Natural de São Paulo, onde vive e trabalha, Luiza Sigulem tem uma narrativa poética que conecta corpo, espaço e subjetividade. Sua prática artística revela as camadas invisíveis dos ambientes urbanos, destacando como corpos dissidentes – especialmente aqueles com deficiências físicas – transformam e resignificam espaços projetados para padrões corporais hegemônicos.
Na série Jeito de corpo (2024), apresentada na mostra, a artista fotografa transeuntes em locais de grande circulação em São Paulo, como praças e estações de transporte público. Utilizando um fundo infinito que limita a altura a 1,40 m, ela convida os participantes a adaptar suas posturas, aproximando-se de sua perspectiva como usuária de cadeira de rodas. Essa interação desestabiliza padrões convencionais de postura e desafia os participantes a explorar novas formas de habitar o espaço.
As fotografias resultantes capturam não apenas a interação entre o corpo e o fundo infinito, mas também os elementos da paisagem urbana, criando uma poderosa narrativa visual que reflete sobre normas de mobilidade, acessibilidade e diversidade. A cadeira de rodas, presente de maneira implícita, subverte convenções e agrega significado à prática fotográfica contemporânea, ressaltando a importância da inclusão e da representatividade nos espaços públicos.
Também foram concedidos prêmios de residência artística: um no Ateliê Escola Sertão Negro, em Goiânia (GO), e outro no Pé Vermelho – Espaço Contemporâneo, em Planaltina (DF):
Juliana de Oliveira
Premiada na categoria Mostra Nacional com o Prêmio Residência Sertão Negro.
Nascida e residente em Belo Horizonte, Juliana de Oliveira (julianismo) é reconhecida por sua produção artística que explora a figura humana através da pintura, abordando questões de identidade, raça e pertencimento. Sua obra mescla histórias pessoais e coletivas, criando retratos que transbordam subjetividade e memória.
Com cores vibrantes, estampas e acessórios, a artista insere corpos em espaços íntimos, como salas e cozinhas, transformando-os em refúgios de acolhimento e expressão de identidade. Jovens de grupos marginalizados ganham visibilidade em suas telas, revelando suas histórias, sonhos e resistências diante de opressões como o racismo e a LGBTQfobia.
Seus autorretratos, marcados por pinceladas expressivas e cores intensas, investigam o autoconhecimento e os atravessamentos de gênero, raça e classe social. Influenciada pelo expressionismo, Julianismo promove representatividade e dignidade, convidando o público a refletir sobre afeto, identidade e existência.
Diego Oliveira
Premiado na categoria Fomento à Produção Anapolina com o Prêmio Residência Pé Vermelho.
Natural de São Francisco de Goiás e radicado em Anápolis, Diego Oliveira investiga as interseções entre identidade regional e cultura contemporânea. Em sua obra, ele revisita símbolos que conectam o rural e o urbano, trazendo reflexões sobre raízes goianas e a relação com as dinâmicas das metrópoles.
Na série Sertanejo Nato (2024), Diego apresenta a videoarte A horse and a delivery man, uma releitura crítica da sequência fotográfica “The Horse in Motion”, de Eadweard Muybridge. Ele estabelece paralelos entre o cavaleiro do século XIX e os entregadores contemporâneos, destacando questões como anonimato e invisibilidade. A inclusão da mochila vermelha do iFood cria um contraste entre o passado e o presente, refletindo sobre as dicotomias entre tradição e modernidade.
Sua produção artística, que mistura símbolos, ideias e mídias, desafia as narrativas hegemônicas e valoriza a identidade sertaneja, convidando o público a repensar as dinâmicas culturais do Brasil contemporâneo.
Um Prêmio Aquisitivo adicional, no valor de R$ 8.500,00, foi destinado a um artista da categoria Fomento à Produção Anapolina. Para homenagear artistas de relevância no cenário do Centro-Oeste, há ainda um Prêmio Aquisitivo de R$ 12.000,00 destinado a um artista convidado:
Tatiana Susano
Foi premiada na categoria Fomento à Produção Anapolina no 28º Salão Anapolino de Arte.
Natural de Anápolis, Tatiana Susano investiga a relação entre o ser humano e a natureza, explorando como o modelo agrícola tecnológico transforma as paisagens naturais e impacta o meio ambiente.
Em sua série “Paradoxo”, apresentada no Salão, a artista reflete sobre as contradições do progresso, questionando os efeitos da revolução tecnológica na agricultura e o que estamos perdendo ao nos distanciarmos da natureza e do conhecimento ancestral.
Utilizando objetos como a enxada – ferramenta ancestral da agricultura agora obsoleta frente às novas tecnologias – Tatiana questiona até onde o progresso nos conduz. Ela nos leva a ponderar se estamos nos afastando irremediavelmente da natureza e de sua sabedoria inerente em prol de um avanço que pode ameaçar o futuro do planeta e da própria humanidade.
A série convida o fruidor a refletir não apenas sobre os ganhos tecnológicos, mas também sobre o que estamos perdendo nesse processo: a conexão primordial com o mundo natural e o conhecimento ancestral que ele representa.
Os prêmios de assistência (ajuda de custo) no valor de R$ 5.000,00 (Mostra Nacional) e R$ 2.000,00 (Fomento à Produção Anapolina) serão concedidos aos artistas premiados nas residências do Ateliê Escola Sertão Negro e Pé Vermelho – Espaço Contemporâneo, respectivamente.