Richard Serra, o artista americano conhecido por ultrapassar os limites da escultura, morreu aos 85 anos. Serra morreu no dia 26 de março de 2024, em sua casa em Nova York. A causa da morte foi pneumonia, confirmou seu advogado John Silberman ao New York Times.
Serra era mais conhecido por suas gigantescas chapas curvas de aço oxidado, como a série de 1.034 toneladas The Matter of Time, que ocupa o salão principal do Museu Guggenheim Bilbao. Obras tão pesadas transformaram radicalmente os espaços onde foram instaladas e, muitas vezes, dizia-se que provocavam uma reação física nos espectadores. “Estou trabalhando no limite do que é possível”, disse Serra certa vez.
Serra nasceu em São Francisco em 1939, filho de mãe judia russa e pai espanhol. Ele estudou artes plásticas em Yale ao lado de colegas que incluíam Chuck Close e sua eventual primeira esposa, Nancy Graves.
Serra encontrou inspiração durante uma viagem a Paris com Philip Glass, durante a qual visitou o ateliê de Constantin Brancuși e andou pelos redutos de seu herói Alberto Giacometti. Mas foi na Espanha, ao ver o quadro Las Meninas, de Diego Velázquez – um retrato de grupo do século XVII que brinca com a noção de ver – que Serra começou a reconsiderar tudo o que sabia sobre arte. Passou por um período de “confusão total” antes de reinventar sua prática em torno da escultura e da ideia de que o próprio espectador seria o verdadeiro sujeito de seu trabalho.
Serra passou grande parte da década de 1960 fazendo parte da cena artística underground de Nova York, onde trabalhou com materiais não convencionais como látex, néon e chumbo derretido – este último usado em suas “splash piece”, nas quais ele jogava o material metálico na base das paredes e o deixava endurecer de forma irregular. Ao fim da década, ele teve um grande avanço em suas pesquisas com Strike: To Roberta and Rudy, em que dividiu a sala em duas com uma placa de aço e se viu mais próximo de seu objetivo de brincar com a perspectiva do espectador.
Em 1970, Serra começou a criar esculturas em site-specific no Japão, no Canadá e nos EUA, concentrando-se na topografia de cada local e na forma como a obra interagiria com o entorno à medida que o espectador caminhasse por ela. Mas foram suas esculturas urbanas que causaram mais polêmica. Em 1981, quando o Tilted Arc foi instalado no Federal Plaza de Manhattan, o enorme objeto de aço dividiu opiniões, com os críticos rotulando-o de monstruoso. Durante audiência pública em 1985, um júri votou pela remoção da escultura. A obra foi dividida em três partes e hoje reside em um armazém no Brooklyn. “’Não creio que seja função da arte agradar’, queixou-se Serra na época, comparando a perda da escultura a uma morte na família.
O carinho por seu trabalho começou a se acelerar na década seguinte, quando ele rompeu com os ângulos retos do modernismo e abraçou as curvas. The Matter of Time, oito esculturas curvas feitas entre 1994 e 2005 para o Museu Guggenheim Bilbao, tornou-se o trabalho que definiu a sua carreira. Dois anos depois de instalados, Serra recebeu sua segunda retrospectiva no Museu de Arte Moderna de Nova York. O seu trabalho foi instalado em paisagens e museus de todo o mundo, da Islândia à Zelândia, passando pelo Qatar.
Casado com a historiadora de arte Clara Weyergraf desde 1981, Serra permaneceu ativo como artista até os 80 anos, descrevendo uma exposição de 2019 na Gagosian Gallery de Nova York como sua “exposição mais pesada de todos os tempos”. Ele era considerado o escultor vivo mais conhecido dos Estados Unidos. Quando questionado pelo artista conceitual Michael Craig-Martin em 2015 sobre quais outros artistas abordaram a escultura como ele, respondeu: “Acho que ninguém o faz”.