O MAM Rio acaba de lançar o programa Clube de Colecionadores em ação solidária, a fim de apoiar duas importantes iniciativas de arte e cultura do Rio de Janeiro, que atuam em ações sociais junto a artistas e comunidades, no momento da pandemia de Covid-19: Lanchonete<>Lanchonete (Pequena África – Gamboa, RJ) e Galpão Bela Maré (Maré, RJ).
A venda das obras da edição #6 do Clube de Colecionadores será revertida para as instituições acima citadas, que atuam em ações sociais unindo arte e cidadania. Neste momento, estão disponíveis para aquisição apenas os 50 conjuntos de múltiplos remanescentes.
Os conjuntos (R$ 6.800, cada) são compostos por cinco trabalhos produzidos, em 2019, por Anna Bella Geiger, Daniel Senise, Denilson Baniwa, Marcelo Cidade e Maxwell Alexandre. Seguem anexadas imagens de divulgação.
Em reconhecimento ao apoio a este projeto, o MAM Rio presenteará cada compraddor com a adesão ao programa Amigos do MAM (Categoria Amigo Individual), para que os colecionadores poderão usufruir dos benefícios que o programa oferece, pelos próximos doze meses.
A curadoria seleciona cinco artistas, brasileiros ou residentes no Brasil. A seleção se dá pensando na diversidade: cada edição deve ter artistas de diferentes gerações e que trabalhem com diferentes suportes. Dessa maneira, acreditamos poder mostrar a cada edição um panorama variado de propostas e poéticas artísticas e até mesmo de definições possíveis do que é arte.
A proposta de cada artista é discutida e aprovada com a curadoria. A tiragem é de 100 exemplares. O MAM Rio paga para cada artista um pró-labore, fica com uma Prova do Artista (P.A.) de cada obra e dá para o artista 2 PAs de sua obra. Em edições anteriores, cada artista recebia uma P.A. de sua obra e uma obra dos outros artistas que participam da mesma edição (isso fazia com que da tiragem de 100, na verdade 96 ficassem disponíveis para venda). Só é possível comprar o conjunto de 5 obras inteiro. Obras não são vendidas separadamente. Há desconto para pagamento à vista.
A partir dessas considerações, acreditamos que podemos estimular não só o início de uma coleção (vendendo trabalhos com preços e condições de pagamento acessíveis) como ampliar para além de suportes convencionais (como gravura ou fotografia…) o interesse de colecionadores já atuantes (em diferentes escalas de coleção). O programa é também um estímulo para artistas pensarem em uma obra com tiragem de 100 exemplares.
Apresentação
Criado em 2004, o Clube dos Colecionadores do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro nasceu com o objetivo de democratização e popularização da arte a partir do estímulo à formação de novas coleções. A cada edição, a Curadoria de Artes Visuais convida cinco artistas brasileiros, de diferentes gerações e regiões do país, a desenvolverem trabalhos em formato de múltiplo pensados exclusivamente para essa ocasião. O resultado é um conjunto que revela potentes possibilidades poéticas na nossa produção contemporânea.
Em sua sexta edição, o Clube dos Colecionadores apresenta ao público obras de Anna Bella Geiger, Daniel Senise, Denilson Baniwa, Marcelo Cidade e Maxwell Alexandre. Com uma trajetória intimamente ligada à história do museu, Anna Bella Geiger propõe um trabalho que reúne elementos basilares de sua produção de mais de seis décadas: a referência à burocracia, a imagem de mapas e a apropriação da prática da gravura. O tempo e a memória também são temas caros para Daniel Senise, que aqui dá nova dobra à sua pesquisa ao usar como base de seu trabalho uma fotografia realizada por seu pai há 60 anos; e Denilson Baniwa desenvolve sua prática artística com base em sua origem indígena e nas referências culturais de seu povo.
Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes
Sobre as obras
“A sequência das quatro mulheres pronunciando a palavra BU-RO-CRA-CIA surgiu em 1974 como um dos “assuntos” para uma das páginas do meu caderno de artista–cartilha intitulado Sobre a Arte . É uma referência a um anúncio dos anos 1930 de um produto de brilhantina em que quatro rostos de mulher pronunciam silabicamente o nome da marca. Nas outras seis páginas do pequeno caderno constam as palavras IDEOLOGIA, AVENTUREIRISMO, e CORRENTES Dependentes/Dominantes, entre outras questõe s polêmicas na época .
Ainda em 1974, passei o desenho da “Burocracia” para a gravura em metal e para a pintura, mantendo propositalmente certo estilo de cartaz popular em que as palavras não possuem um padrão gráfico de “qualidade”. As diversas expressões que surgem nas faces dessas mulheres surpreendem a mim mesma, pois vem de lembranças de rostos bem antigos – p rincipalmente as mulheres negras e as mulatas que me recordam minhas antigas vizinhas de bairro, no Catete. Em algumas delas surge também um autorretrato de quando eu tinha 25 anos”.
Anna Bella Geiger
“Burocracia – O Mundo”, 2019
serigrafia e aquarela sobre papel Avório 250 g/m², 50 x 70 cm
Quando eu era criança, meu pai, aviador, costumava fotografar suas viagens. Seu acervo de negativos está guardado comigo e uma boa parte dele é de nuvens. O trabalho que propus para o Clube dos Colecionadores usa uma dessas nuvens como elemento central: um momento no céu do norte ou do nordeste do Brasil há 60 anos, reenquadrado agora por mim.
Daniel Senise
“Sem título (nuvem)”, 2019
impressão com tinta pigmentada e serigrafia em uma cor sobre papel de fibra de algodão Hahnemühle Photo Rag Baryta 315g/m², 58,5 x 58,5 cm
“No início do mundo havia a grande Cobra-Canoa-da-Transformação e foi ela quem levou embarcados em seu ventre todos primeiros humanos aos seus lugares onde vivem atém hoje. Esta grande serpente que veio do céu em forma de raio e relâmpago chama-se Pamurĩ Yuhkusiru. Na cidade em meio ao concreto e ferro, transitando diariamente no subterrâneo e com seu ventre abarrotado com diversidade incontáveis de identidades leva os humanos atuais aos seus lugares, a esta grande serpente de metal e olhos de leds dou o nome de Metrô-Pamurĩ-Mahsã (Cobra-Canoa-da-Gente-Metrôpolitana)”.
Denilson Baniwa
“Metrô-Pamuri-Mahsã”, 2019
serigrafia em cinco cores sobre papel Hahnemühle 300g/m2, 34 x 34 cm
“O que proponho é um trabalho colaborativo entre o museu e eu, resultante em um contrato social. evidenciando essa troca como parte do trabalho. No documento, o museu se compromete a usar sua importância institucional para negociar a retirada de circulação de 100 gatilhos de armas de fogo que foram apreendidas pela polícia carioca. Os gatilhos dessas armas seriam doados (adquiridos) ao museu, e integrariam, junto com o contrato, o múltiplo que os colecionadores vão receber. A chave do trabalho é o fato de que uma arma sem gatilho não funciona, e a intenção da obra vai ser tentar romper com a lógica armamentista a partir do desmonte literal de 100 armas”.
Marcelo Cidade
“Alerta de gatilho”, 2019
impressão à laser sobre papel opaline 120g/m² e linha de algodão em passepartout, 50 x 55 cm
“Sabendo que o convite do MAM para participar da 6ª edição do Clube dos Colecionadores seria para um trabalho com tiragem de 100 exemplares, logo me veio à cabeça algo relacionado a série Reprovados (2018), sobre a rede municipal de ensino do Rio de Janeiro. A ideia de múltiplos poderia se referir a quantidade de alunos de uma turma, um pátio, ou ônibus escolar.
Eu sabia que para essa ocasião de reprodutibilidade técnica, trabalhar com síntese era um caminho pertinente e até tradicional, mas a chance de afirmar meu glossário com uma única imagem repetida 100 vezes parecia ser uma solução pontual. Então escolhi a camisa da escola pública e como suporte o papel pardo, sínteses das séries Reprovados e Pardo é Papel (2018), respectivamente.
Motivo e suporte definidos, a decisão mais potente apareceu quando entendi que o trabalho deveria ser pintado. As camisas de escolas servem para uniformizar/padronizar, mas vestem indivíduos. Pintar 100 camisas uma a uma, a mão, era uma maneira honesta de cruzar essas duas premissas. A única matriz usada no processo foi minha memória, do objeto idealizado ao gesto”.
Maxwell Alexandre
“Sem título”, série Reprovados, 2019
acrílica e graxa de sapato sobre papel pardo, 120 x 80 cm