O ano de 2024 traz um novo programa artístico no Inhotim. A instituição reformula suas exposições de arte e projetos culturais ao reelaborar a relação entre arte e natureza, a partir do território de Brumadinho, depois de um 2023 de importantes números. No ano passado, Inhotim atingiu a marca de quatro milhões de visitantes desde a sua inauguração, além de registrar um aumento de 512% de visitantes com entrada gratuita (representando 49% do público geral) e mais de 28 mil atendimentos da área de Educação. Foram empreendidas medidas de sustentabilidade e governança visando a democratização do acesso que agora se somam a uma programação de exposições e obras comissionadas, novos projetos educativos e um programa cultural que integra as áreas de arte, botânica, música e educação, oferecida para visitantes, professores e comunidades do território.
À frente da Diretoria Artística, Júlia Rebouças retornou ao Instituto Inhotim em 2023, depois de ter atuado na curadoria da instituição de 2007 a 2015. Seus primeiros meses de trabalho foram dedicados à formulação de políticas de acervo e programação, à consolidação de uma equipe curatorial, à qual se juntaram Beatriz Lemos e Marilia Loureiro, e à implementação de processos de gestão. O time conta ainda com Douglas de Freitas e com os curadores assistentes Deri Andrade e Lucas Menezes. Para além das exposições, Inhotim articula uma ativa programação pública e cultural, que vai trabalhar as coleções artística e botânica em múltiplas linguagens, envolvendo práticas e reflexões educativas. Ao ocupar as áreas verdes e espaços expositivos, essas ações ganham caráter experimental e transdisciplinar.
“A singularidade da instituição reside no encontro entre arte e natureza, a partir de uma especificidade de criação que proporciona experiências que só são possíveis de serem realizadas no Inhotim, seja pela relação com o espaço físico e jardim botânico; pelo contexto cultural, social e histórico em que se inserem, sendo um museu no interior do Brasil, fora de centros urbanos; seja pela possibilidade de desenvolver obras numa temporalidade mais distendida, ousando gestos experimentais que contam com o suporte de equipes de profissionais de curadoria, arquitetura, produção, além de ateliês com especialistas em montagem de projetos de alta complexidade”, conta Júlia Rebouças, Diretora Artística da instituição.
Desde sua origem, Inhotim se posiciona como uma instituição museológica e cultural que, além de trabalhar as instâncias de difusão e preservação de acervos e produções artísticas contemporâneas, também traz para o cerne de sua atuação a instância de criação, ao desenvolver junto a artistas obras e projetos únicos. Para 2024, Inhotim reforça seu caráter de experimentação em múltiplas linguagens artísticas, dedicando seus espaços expositivos a projetos solo de importantes nomes da atualidade, em mostras de longa duração, que se relacionam diretamente com o acervo instalado.
Programação artística 2024
A partir de 2024, Inhotim apresenta duas datas de inauguração, a primeira em abril e a segunda em outubro, ocasiões em que renovará suas mostras temporárias. Na primeira abertura, dia 13 de abril, Grada Kilomba e Paulo Nazareth ganharão mostras individuais em importantes espaços expositivos.
Depois de integrar a curadoria da 35ª Bienal de São Paulo, em 2023, Grada Kilomba (Lisboa, Portugal, 1968), artista interdisciplinar, retorna ao Brasil e traz para a Galeria Galpão a peça O Barco/The Boat (2021), inédita no país. A obra é constituída por uma instalação escultórica ativada por performance, a partir de centenas de blocos de madeira carbonizada que remontam à silhueta de uma grande embarcação. Em alguns desses blocos estão gravados, em matéria dourada, versos de um poema escrito pela artista e traduzido para seis idiomas: iorubá, kimbundu, crioulo, português, inglês e árabe. A performance, dirigida por Grada e conduzida por cantores, bailarinos e musicistas, será realizada em sessões que compõem um primeiro ato, quando da inauguração da obra. Após a realização desse primeiro momento, a artista retorna a Brumadinho com sua equipe e colaboradores para desenvolver os atos subsequentes com artistas locais, em um programa de ativações que deve se estender por pelo menos dois anos, enquanto a obra estiver em exibição. A Galeria Galpão conta com uma área de cerca de 1500m2 e em montagens anteriores exibiu obras de William Kentridge, Janet Cardiff & Georges Bures Miller. A exposição tem o patrocínio da Vale, da Shell e da B3, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
Paulo Nazareth (Vive e trabalha pelo mundo. Homem velho, Borun Nak [Vale do Rio Doce]/ Pindorama [BR]), por sua vez, ocupa a Galeria Praça, um dos pontos mais visitados do Inhotim e que conta com instalações permanentes de Janet Cardiff e John Ahearn & Rigoberto Torres. A mostra parte das relações entre história, território e deslocamentos, conceitos que são caros à obra do artista que, desta vez, trabalha em sua própria região, em Minas Gerais. Baseado no Conjunto Palmital, no município de Santa Luzia, região metropolitana de Belo Horizonte, Paulo articula diversos lugares nesta mostra, ao propor obras que acontecem também fora da galeria – como um bananal plantado na área de Inhotim – ou trabalhos que se dão no trânsito até a instituição, e que se expandem por outras localidades. A exposição será composta por obras comissionadas especificamente para Inhotim, que se unem a trabalhos da coleção e empréstimos, em uma ocupação processual da Galeria Praça. A exposição é patrocinada pela Vale e pela Shell, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
Na abertura do segundo semestre, em 19 de outubro, Rivane Neuenschwander (Belo Horizonte, MG, 1967) apresenta uma mostra solo na Galeria Mata. A exposição contará com trabalhos de variadas épocas, em torno de eixos que atravessam a produção de Rivane, como memória e infância, natureza e ecologia, história e ditadura. Presente no acervo do Inhotim, a artista inaugurou em 2009 a obra Continente/Nuvem (2008), instalada em uma antiga construção residencial. Com esta exposição, retoma na instituição projetos que contam com forte carga poética para tratar de inquietações, medos e desejos que atravessam nosso tempo, em instalações, obras audiovisuais, pinturas e esculturas.
No espaço da Galeria Fonte, será instalada de forma imersiva a obra Homo sapiens sapiens, de Pipilotti Rist (Grabs, Suíça, 1962), filmada nos jardins do Inhotim em 2004 e que foi exibida na Bienal de Veneza de 2005, quando a artista representou a Suíça, ocupando a Igreja de San Stae. A obra representa corpos femininos que se fundem à natureza, a partir de visadas que se aproximam em grandes zooms e se desdobram em imagens caleidoscópicas. Com referências que vão do Jardim do Éden à iconografia barroca, a artista, expoente da videoarte internacional, tem nessa instalação um marco de sua importante trajetória. Vinte anos depois de sua realização, Inhotim exibe a obra em suas galerias pela primeira vez.
Para uma área de jardim, Rebeca Carapiá (Salvador, BA, 1988) vai desenvolver um projeto comissionado especificamente para Inhotim. Ao trabalhar com linguagem e corpo, a artista cria um conjunto de esculturas e instalações que, como linhas de desenho, avançam pela tridimensionalidade para inventar novos modos de se inscrever em seu tempo. Presente em mostras coletivas de 2023, Rebeca retorna em 2024 para criar um projeto em parceria com os ateliês de montagem do Inhotim, explorando novas escalas e métodos construtivos. As exposições de outubro contam com o patrocínio da Vale, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.