Nova mostra narra como um conservador de pinturas e químico resolveu um mistério de cor em uma das obras mais queridas de Van Gogh
Um conservador de pinturas e um químico do Getty Center em Los Angeles podem ter desvendado um mistério contido no pigmento de uma das obras mais famosas de Vincent van Gogh, produzida durante um momento tenso no fim de sua vida.
Eles concluíram que as flores em Íris (1889), que foi a pintura mais cara vendida em leilão na época, quando arrecadou US$ 53,9 milhões na Sotheby’s em 1987, nunca deveriam ser azuis.
O pintor holandês estava vivendo em uma instituição psiquiátrica em Saint-Rémy-de-Provence, no sul da França, depois de ter cortado sua própria orelha esquerda. Van Gogh sofria há muito tempo de alucinações e depressão, que foram retrospectivamente atribuídas a uma série de doenças teorizadas, incluindo epilepsia, transtorno bipolar e psicose. Enquanto paciente na clínica, ele foi autorizado a pintar, completando 150 obras durante sua estadia de um ano, incluindo ao ar livre, onde capturou cenas do jardim da unidade psiquiátrica, que ainda existe hoje.
A jornada investigativa da conservadora associada de pinturas do Museu Getty, Devi Ormond, e da química pesquisadora do Instituto de Conservação Getty, Catherine Patterson, sobre Íris foi desencadeada por uma carta que Van Gogh endereçou a seu irmão Theo durante sua estadia, na qual o artista disse que estava pintando flores violetas.
Ormond e Patterson disseram que, embora soubessem da carta há “muitos anos”, confirmar que as flores já tinham sido de um tom de roxo exigia remover a obra popular da exibição pública. Quando a pandemia atingiu, Patterson finalmente conseguiu realizar uma análise técnica da pintura.
O que a equipe de pesquisa descobriu, disseram Ormond e Patterson, foi que van Gogh obteve uma cor violeta misturando azul com um pigmento vermelho chamado “Geranium Lake”, que é particularmente sensível à luz e desbota sob exposição crônica.
“É por isso que, atualmente, as íris parecem azuis, porque o componente vermelho desapareceu”, explicou Ormond.
De uma perspectiva química, Patterson disse que a tinta vermelha continha bromo, que se decompôs ao longo do tempo, mas permaneceu na tinta. Patterson usou uma técnica não invasiva chamada macro fluorescência de raios X (MAXRF) para identificar o bromo na pintura.