Ironias não faltam ao fato de que uma exposição dedicada ao grafite foi encerrada por… grafite. Realizada em Piccadilly Circus, no coração de Londres, a mostra Long Dark Tunnel teve suas portas abruptamente fechadas após a inscrição da frase “fuck the king” surgir nas paredes do local e de prédios vizinhos pertencentes ao Crown Estate — portfólio imobiliário da monarquia britânica avaliado em £15,5 bilhões. A mostra reunia nomes de peso da cena do grafite, como 10Foot, Tox e Fume, e era organizada pela plataforma Arts Arkade em parceria com a revista Big Issue.
O espaço, que havia se tornado um ponto de encontro efervescente para admiradores da arte de rua, foi fechado após pressão da administração do Crown Estate, que exigiu providências imediatas diante do que classificou como “dano criminal”. Em comunicado, os organizadores lamentaram o ocorrido, reforçando que a exposição teve como objetivo promover ações sociais — como a arrecadação de centenas de milhares de libras para pessoas em situação de rua — e que não há indícios de que os artistas envolvidos tenham sido os responsáveis pela pichação.
Apesar do encerramento prematuro, os curadores e artistas defendem o valor cultural e comunitário do projeto. “É a mesma história de sempre”, declarou o artista 10Foot. “Somos tratados como vândalos, mesmo quando realizamos algo reconhecido como positivo. É como ser uma raposa caçada.” A mostra, elogiada por seu engajamento social, reforça os contrastes entre o reconhecimento artístico e as tensões institucionais que ainda rondam o grafite como linguagem urbana.