Entenda como a artista Lee Krasner transformou suas cores pintando à noite

Another Storm, 1963.

Crises de insônia e luto levaram a pintora americana a um surpreendente avanço criativo

O ano era 1956, e Jackson Pollock estava embriagado em alta velocidade, em Long Island, quando perdeu o controle de seu Oldsmobile, matando a si mesmo e Edith Metzger, uma amiga de sua amante, Ruth Kligman. (Também no carro, Kligman sobreviveu ao acidente.) Ele tinha 44 anos.

A ex-esposa de Pollock, a colega pintora Lee Krasner, estava viajando para a Europa quando recebeu a notícia do acidente. Enquanto o relacionamento deles tinha se deteriorado devido as crescentes lutas de Pollock contra o alcoolismo, Krasner estava devastada. Por anos, ela lutou contra a insônia e até que uma noite, em vez de tentar dormir, ela foi até seu cavalete e pegou um pincel.

Seu intenso estado emocional, combinado com a ausência de luz natural, produziu uma série de pinturas diferente de tudo que ela já havia feito antes. Coletivamente referidas como suas Night Journeys, a série, criada entre 1959 e 1963 no estúdio do celeiro de Long Island que ela havia compartilhado anteriormente com Pollock, constitui uma ruptura brusca com seus trabalhos anteriores.

Lee Krasner, Self-Portrait (c. 1928). The Jewish Museum, Nova York. © The Pollock-Krasner Foundation. Cortesia do Jewish Museum, Nova York.

Enquanto pinturas como Sem título, de 1942, são brilhantes, coloridas e cubistas no estilo de seu professor da Art Students League, Hans Hoffman, as obras que compõem Night Journeys são sombrias e agourentas, mais expressionistas e geralmente representadas em preto, branco e uma gama limitada de tons de terra não saturados.

A paleta de Krasner era determinada tanto por suas circunstâncias físicas quanto por seu estado emocional. “Percebi que se eu fosse trabalhar à noite, teria que eliminar a cor completamente, porque eu não conseguia lidar com cores sem ser durante o dia”, ela disse uma vez.

Uma mulher parada em frente a uma grande pintura abstrata de Lee Krasner, cheia de pinceladas soltas em tons de terra

Lee Krasner, The Eye is the First Circle (1960) em exposição em “Lee Krasner: Living Colour” na Barbican Art Gallery em Londres, 2019. Foto: Tristan Fewings/Getty Images para a Barbican Art Gallery.

Outra pintura da série, The Eye is the First Circle (1960) recebeu o nome de um ensaio do escritor e transcendentalista americano Ralph Waldo Emerson, no qual ele escreveu: “Uma nova gênese estava aqui. O olho é o primeiro círculo; o horizonte que ele forma é o segundo; e por toda a natureza essa figura primária se repete sem fim. É o emblema mais alto na cifra do mundo.”

Apesar de suas referências abrangentes, o trabalho de Krasner era, antes de tudo, autobiográfico. “Estou preocupada em tentar me conhecer para me comunicar com os outros”, ela disse uma vez. “A pintura não é separada da vida. Ela é uma. Minha pintura é tão autobiográfica, se alguém puder se dar ao trabalho de lê-la.”

Em retrospecto, Night Journeys não constituiu uma fase, mas sim uma mudança de paradigma, com Krasner continuando a produzir obras de arte noturnas até a década de 1960. Uma delas, Night Creatures (1965), que não faz parte da série, vê suas pinceladas abstratas e expressivas se transformarem em dezenas de rostos angustiados — à la Edvard Munch.

O sucesso da série permitiu que Krasner escapasse de uma sombra que a envolvia desde o momento em que decidiu se tornar pintora. Apesar de seu talento óbvio, os críticos raramente a reconheciam como uma artista por direito próprio, comparando-a a seus colegas homens e, mais tarde, a Pollock. Com Night Journeys, a estrela de Krasner ascendeu — tanto na escuridão da noite quanto na luz do dia.

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