Crises de insônia e luto levaram a pintora americana a um surpreendente avanço criativo
O ano era 1956, e Jackson Pollock estava embriagado em alta velocidade, em Long Island, quando perdeu o controle de seu Oldsmobile, matando a si mesmo e Edith Metzger, uma amiga de sua amante, Ruth Kligman. (Também no carro, Kligman sobreviveu ao acidente.) Ele tinha 44 anos.
A ex-esposa de Pollock, a colega pintora Lee Krasner, estava viajando para a Europa quando recebeu a notícia do acidente. Enquanto o relacionamento deles tinha se deteriorado devido as crescentes lutas de Pollock contra o alcoolismo, Krasner estava devastada. Por anos, ela lutou contra a insônia e até que uma noite, em vez de tentar dormir, ela foi até seu cavalete e pegou um pincel.
Seu intenso estado emocional, combinado com a ausência de luz natural, produziu uma série de pinturas diferente de tudo que ela já havia feito antes. Coletivamente referidas como suas Night Journeys, a série, criada entre 1959 e 1963 no estúdio do celeiro de Long Island que ela havia compartilhado anteriormente com Pollock, constitui uma ruptura brusca com seus trabalhos anteriores.
Enquanto pinturas como Sem título, de 1942, são brilhantes, coloridas e cubistas no estilo de seu professor da Art Students League, Hans Hoffman, as obras que compõem Night Journeys são sombrias e agourentas, mais expressionistas e geralmente representadas em preto, branco e uma gama limitada de tons de terra não saturados.
A paleta de Krasner era determinada tanto por suas circunstâncias físicas quanto por seu estado emocional. “Percebi que se eu fosse trabalhar à noite, teria que eliminar a cor completamente, porque eu não conseguia lidar com cores sem ser durante o dia”, ela disse uma vez.
Outra pintura da série, The Eye is the First Circle (1960) recebeu o nome de um ensaio do escritor e transcendentalista americano Ralph Waldo Emerson, no qual ele escreveu: “Uma nova gênese estava aqui. O olho é o primeiro círculo; o horizonte que ele forma é o segundo; e por toda a natureza essa figura primária se repete sem fim. É o emblema mais alto na cifra do mundo.”
Apesar de suas referências abrangentes, o trabalho de Krasner era, antes de tudo, autobiográfico. “Estou preocupada em tentar me conhecer para me comunicar com os outros”, ela disse uma vez. “A pintura não é separada da vida. Ela é uma. Minha pintura é tão autobiográfica, se alguém puder se dar ao trabalho de lê-la.”
Em retrospecto, Night Journeys não constituiu uma fase, mas sim uma mudança de paradigma, com Krasner continuando a produzir obras de arte noturnas até a década de 1960. Uma delas, Night Creatures (1965), que não faz parte da série, vê suas pinceladas abstratas e expressivas se transformarem em dezenas de rostos angustiados — à la Edvard Munch.
O sucesso da série permitiu que Krasner escapasse de uma sombra que a envolvia desde o momento em que decidiu se tornar pintora. Apesar de seu talento óbvio, os críticos raramente a reconheciam como uma artista por direito próprio, comparando-a a seus colegas homens e, mais tarde, a Pollock. Com Night Journeys, a estrela de Krasner ascendeu — tanto na escuridão da noite quanto na luz do dia.