Em resposta à pandemia de Covid-19, a Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV) atua de forma propositiva e realiza o curso on-line gratuito Pedra e Ar, voltado a artistas com poéticas em desenvolvimento. Com aulas até 26 de março, o programa visa fomentar e apoiar a produção artística e discursiva com caráter crítico, experimental e disruptivo por meio de encontros periódicos com artistas, teóricos e demais agentes do campo cultural.
A seleção será feita por meio de edital público nacional, com inscrições já abertas através do site da instituição, até 29 de novembro. No dia 10 de dezembro, serão divulgados os 12 candidatos selecionados. Uma bolsa de permanência de R$ 600 mensais vai remunerar os participantes do curso, como alternativa à excludente economia material do mundo da arte.
Para a diretora da instituição, Yole Mendonça, esta iniciativa é uma ação contrária ao processo de precarização e vulnerabilidade dos alunos e artistas durante a pandemia: “Esta importante conquista atualiza a radicalidade da EAV, que responde ao grave problema econômico dos trabalhadores da cultura, criando possibilidades para que os artistas não só invistam em formação e ampliem repertório, mas, sobretudo, para que permaneçam sendo artistas”, afirma.
O título do programa toma por empréstimo o nome de um dos objetos relacionais criados pela artista Lygia Clark. “Pedra e Ar” (1966) é constituído de uma pedra — objeto, peso, matéria, signo e forma — e um saco plástico repleto de ar. O sentido desta prática é apreendido a partir do contato, da experiência, da relação e do encontro, num movimento de contração e expansão, próprio daquilo que respira e é vivo.
“Em um momento de crise social e sanitária, interessa imaginar coletivamente que economia material, relacional e afetiva temos urgência em instituir. É momento das instituições contribuírem de maneira direta na vida dos artistas, não há tempo para metáforas. Com velocidade, precisamos imaginar outros modos de vivermos em sociedade. Enquanto entendermos a arte como um processo meramente simbólico, vamos perpetuar a violenta desigualdade do setor cultural”, reflete Ulisses Carrilho, curador da EAV.
Os encontros têm o objetivo de criar uma comunidade temporária de discussão e ação a partir da arte produzida em todos os estados brasileiros. O curso, que prevê debates em torno do fazer e pensar arte, será realizado em plataformas de videoconferência, por meio de encontros síncronos acompanhados pelos professores-orientadores Clarissa Diniz e Ulisses Carrilho, coordenadores do Programa de Formação e Deformação da EAV Parque Lage. Ao longo do trimestre, serão intercalados exercícios práticos e provocações teóricas, que mobilizarão turma e convidados do campo da cultura em torno de cinco eixos temáticos: ‘Matérias’, ‘Corpos e corporeidades’, ‘Coletividades’, ‘Imagens’, ‘Cura e cuidado’.
Afirmando o caráter público da EAV como escola livre e a crença na arte como um exercício de imaginação, parte da programação acontece de forma aberta, para alunos não matriculados, privilegiando uma mirada pública e crítica aos processos de trabalho. No dia 18 de dezembro, será realizada uma aula-espetáculo com transmissão ao vivo pelo canal do Youtube da EAV Parque Lage.
A curadora e professora Clarissa Diniz, que coordena o projeto em parceria com Carrilho, apresenta o Pedra e Ar como um processo de conversa e de escuta entre pessoas artistas e não-artistas de lugares diversos: “Quase um ano depois do início da pandemia, será um espaço-tempo para refletirmos sobre nossas percepções, experiências, desejos. Para tanto, convidamos as pessoas participantes a habitar discussões tão íntimas quanto públicas, que se darão a partir de cinco eixos centrais. Teremos encontros, aulas, debates e conversas livres que pretendem historicizar, problematizar, esgarçar e experimentar esses territórios a partir dos atravessamentos criados nessa convivência de verão”, conclui Diniz.
Inscrições até 29 de novembro: https://forms.gle/